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CAPÍTULO 2: Lee Donghyuck
Fevereiro de 2023

Os olhos abriram lentamente, sendo recebidos por um vento gelado que os obrigaram a fechar novamente. As mãos passearam pelo piso, procurando por apoio para forçar o corpo pequeno e enfraquecido para sentar-se, entretanto, a dor atingiu-o assim que fez força com o braço direito, voltando a cair. Novamente ele abriu os olhos, não vendo mais do que a escuridão que tomou sua vista, já que não havia nenhuma fonte de luz ali dentro e o sol havia ido embora.

Soltou um suspiro, fazendo esforço para levantar, ignorando a dor. Usou a parede para se manter de pé e encostou a cabeça na madeira, enfim colocando seus pensamentos no lugar. Deu um passo, arriscando se distanciar de seu apoio para conseguir explorar melhor o lugar.

Cada passo era curto, afinal ele não sabia quando tropeçaria em algo jogado pelo chão, mesmo que o pouco que havia conseguido ver, mostrava que estava tudo organizado até nos mínimos detalhes. Não demorou para chegar na última parede, onde estavam os materiais para jardinagem. Tateou as mãos, procurando por algo que pudesse lhe ajudar a dar o fora dali. Alcançou algo pesado, então assumiu que fosse um martelo ou algo do tipo. Comemorou internamente, pois poderia usá-lo para quebrar um buraco na parede e finalmente se libertar.

Caminhou para a parede mais próxima, agachando e desferindo um golpe na madeira, que não parecia forte o suficiente, quebrando sem muito esforço. Mais uma vez, o garoto comemorou, desferindo mais um golpe para aumentar o buraco, enquanto um plano surgia em sua mente.

Continuar sua viagem com o braço daquele jeito, estava fora de cogitação. O garoto não conseguiria fugir, não conseguiria lutar e não demoraria para que ele morresse. Por este motivo, estava tramando um jeito para invadir o casarão, conseguir algo para suturar o ferimento, recuperar sua mochila, e ir embora sem causar mais problemas para si.

Deu o último golpe, decidindo que agora o buraco tinha um tamanho ideal para que ele se arrastasse por ali. Entretanto, travou ao ouvir batidas na porta do celeiro. Prendeu a respiração e virou-se na direção lentamente, engolindo em seco quando a madeira passou a se mexer, mostrando que alguém estava prestes a entrar. Antes que pensasse em esgueirar-se naquele buraco e correr sem olhar para trás, uma voz baixa chegou aos seus ouvidos.

ー Você não vai me matar, não é? ー A voz infantil soou nervosa, trêmula.

Hyuck pensou antes de responder.

ー Não, eu não vou te matar! ー Disse com grosseria. ー A menos que eu precise.

O garoto ainda assim demorou a aparecer, o que fez Donghyuck se perguntar se o havia assustado. Porém, antes que dissesse mais alguma coisa, o menino adentrou o celeiro. A lamparina em sua mão iluminou todo o lugar, permitindo que ele visse com clareza o buraco na parede. Arqueou a sobrancelha escondida atrás da franja grande, mas não disse nada quanto aquilo.

Passou a língua nos lábios, tentando formular uma frase. Acabou desviando o olhar, envergonhado.

ー Eu… ー Começou, não sabendo muito bem o que diria. ー Acho que posso te ajudar com o seu braço! ー Mostrou a maleta branca em sua mão esquerda. ー Kun-ge disse que estava bem feio, então imagino que você precise de ajuda.

Donghyuck o olhou de cima a baixo, procurando por algum sinal de que o garoto estivesse mentindo. Não encontrou nada, ele parecia sincero e inocente demais para enganar alguém. Decidiu dar um voto de confiança, dando um passo adiante.

O ato acabou assustando o menino, que encolheu-se um pouco. Donghyuck respirou fundo e caminhou até o canto, sentando-se ali e esperando que o outro fizesse o mesmo.

          

ー Qual o seu nome? ー Precisou engolir a timidez para perguntar.

ー Haechan. ー Respondeu sem nem pensar, sentando de frente para ele.

Ele sorriu, abrindo a maleta e tirando de lá um pacote com um par de luvas brancas. Puxou as mangas grandes e vestiu as mãos, murmurando reclamações pelas luvas sempre ficarem gigantes em si.

ー Meu nome é Yangyang. ー Apresentou-se, tentando ajustar o látex para ficar mais confortável. ー Posso dar uma olhada? ー Apontou para o braço enfaixado.

ー Por que usa roupas tão grandes? ー Estendeu o braço, tombando a cabeça pro lado, curioso.

ー São do meu irmão! ー Respondeu entre risadas, desamarrando o tecido com cuidado. ー Você viu, não é? Lucas tem os braços enormes!

ー Ele é seu irmão? ー Arregalou os olhos em pura descrença, arrancando ainda mais risadas de Yangyang.

ー Sim, o Hendery também é! ー Sorriu, enfim olhando para a ferida. A careta foi espontânea, mas quando notou, limpou a garganta para disfarçar. ー Isso tá… Horrível! Como você não tá rolando de dor? ー Passou os dedos delicadamente pela pele, evitando tocar a ferida aberta, que dava o seu máximo para cicatrizar.

ー Acredite, eu queria estar gritando! ー Admitiu com graça, sugando o ar entre dentes ao sentir os toques.

ー Eu não consegui pegar as anestesias, já que estão todas no quarto do Ten-ge, e ele tem um sono muito leve. ー Começou a explicar, pegando uma gaze e entregando para Haechan. ー Então vai ser melhor se você morder isso aqui.

Hyuck concordou, colocando aquilo na boca e assistindo o garoto, que aparentava ter uma idade próxima da sua, pegar alguns produtos para começar o seu trabalho. No primeiro momento, ele limpou a ferida, obrigando Donghyuck a fechar os olhos com força pela ardência, que subiu o membro inteiro, chegando a doer em seu peito.

ー Agora você vai precisar ficar parado, tá bom? ー Mostrou a agulha arredondada, já com a linha presa a ela. Lambeu os lábios e respirou fundo. ー Eu nunca suturei alguém antes, então precisa colaborar comigo!

Donghyuck arregalou os olhos e antes que pudesse soltar um “Como é que é?!”, abafado pela gaze, a agulha perfurou a sua pele, fazendo algumas lágrimas escaparem de seus olhos e um gemido alto sair de sua garganta.

Notando aquilo, Yangyang parou, esperando alguns segundos para que ele pudesse se recuperar. Voltou somente quando recebeu um aceno positivo.

A cada ponto, Donghyuck socava o chão e mordia aquela gaze com gosto ruim com força, mas não deixava que Yangyang parasse, pois sabia que, quanto mais rápido ele fizesse, mais rápido aquela dor cessaria. Minutos depois, o último ponto foi dado, arrancando um suspiro de ambos os garotos. Hyuck fechou os olhos com força, cuspindo o tecido babado, enquanto Yang passava um algodão com água oxigenada para limpar o sangue que ainda estava ali. Terminou com uma atadura para proteger a ferida até que ela estivesse curada.

ー Pronto, pronto. Acabou! ー Sorriu pequeno, surpreso pela resistência do novo conhecido. ー Quantos anos você tem? ー Decidiu puxar assunto, tirando a mochila, que Hyuck reconheceu como a sua, das costas e abrindo o zíper.

ー Dez. ー Respondeu simples, encostando a cabeça na parede, recuperando o fôlego.

ー Eu também! ー Abriu a boca surpreso. ー Mas você parece mais forte que eu! Acredite, já desmaiei depois de cortar o dedo com papel.

Ele deu risada.

ー Quando sua vida está em constante risco, você aprende a ignorar a dor. ー Deu de ombros, observando atentamente os movimentos do garoto.

Brillante FullsunOnde histórias criam vida. Descubra agora