05 | Enora

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"Talvez eu não devesse tentar ser perfeito
Confesso, estou obcecado com a superfície
No final, se eu cair ou se conseguir tudo
Eu só espero que isso valha a pena"

Nervous — The Neighbourhood.

A vida te ensina a lutar quando você se torna fraca

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A vida te ensina a lutar quando você se torna fraca. Eu era fraca, desde pequena sempre me deixei ser humilhada e espancada por pessoas próximas demais a mim, mais do que eu posso sequer escolher.

Negar o inevitável sempre foi difícil, eu me achava durona mas eu não sabia de porra nenhuma, eu me achava forte enquanto eu nem sequer passei por coisas complicadas para temer. Eu sempre fingia ser forte quando na verdade eu era uma garotinha indefesa igual criança, e eu sou até hoje, me escondendo por trás de uma jaqueta de couro preta e cabelos vermelhos que me fazem parecer durona o suficiente para nenhuma cadela se aproximar com intenções ruins.

Consegui dar a volta por cima das situações embaraçosas e horrorosas que me cercavam no passado, mas durante esse tempo foi construído cicatrizes, mas a pior delas foi o trauma.

Não há nada que doa mais que o trauma na vida de alguma pessoa. Eu passaria por várias surras para retirar o trauma que se formou no meu peito, o trauma do passado doloroso que tive. O passado, as lembranças de quando era pequena rodeavam a minha mente e eu tentava mantê-las por longe mas mesmo assim a merda da minha mente me faz viver tudo aquilo, de novo, de novo, e de novo.

Deve ser por esse motivo o nojo que sinto quando entro dentro dessa merda de apartamento me deparando com uma mulher nojenta deitada sobre a porra do meu sofá, sujando o tecido limpo dele com sua sujeira podre e imunda.

— pensei que você já tinha morrido — minha voz sai fria, assim como o semblante carregado de ódio e frieza que eu observo a mais velha. Me nego algum dia chamar de mãe novamente.

— você deveria ter respeito.

Eu solto uma risada, não uma risada bonita, uma risada sombrio e dolorosa, uma porra de risada sem graça alguma no tom, enquanto as palavras dela saíam como insulto em minha direção. Ela nunca mudaria o modo de ser uma vadia que só pensa nela mesma, ela sempre seria uma mulher obscura como era na minha infância.

— eu perdi a porra do respeito por você a muito tempo, Elizabeth — eu demoro para construir seu nome com minhas palavras, sentindo como se minha boca ficasse suja por dizer tal nome.

— eu te gerei, então não venha com essas merdas de insultos.

Eu rolo meus olhos ignorando as merdas de suas palavras como se fosse insignificante para mim, e quer saber? As palavras que ela falava entravam por um ouvido e saíam para o outro com o pouco de consideração que ainda me resta dela. Eu dou de ombros, seguindo até meu quarto e fechando a porta dele, para assim ter um momento sozinha em meu próprio mundo antes de sair da minha caverna e bater com a realidade que eu detesto.

Novamente relaxo meu corpo e me pego pensando em Damien, o garoto problema da escola. Ele parecia um enigma a ser desvendado, uma charada que você teria que adivinhar. Talvez quebrado o suficiente para que meus olhos se percam por ele quando nos esbarramos, talvez ele seja igual a mim, talvez tenha cicatrizes e traumas.

Algo nele sempre me dizia para o conhecer melhor mas eu evitava qualquer tipo de contato com aquele menino que não fosse quando ele ia a boate. Eu tenho problemas demais para me importar em ter mais um para a minha lista interminável...

Assim que fecho os olhos, eu relaxo meu corpo e respiro fundo deixando que o sono me pegasse, antes de me certificar que o despertador esteja ligado para a hora em que deveria acordar para me arrumar.

...

Entrego a bebida para a mesa distante do balcão, voltando pelas pessoas que estavam suadas dançando na pista, eu me esquivo de qualquer contato físico que possa adquirir no percurso até o balcão novamente.

Nada aqui me deixava feliz, esse cheiro de corpo suados, bebidas e cigarros me fazem ficar tonta ao inalar o ar desse local abafado de pessoas. O suor já começa a descer entre minha testa e eu pego as mechas de cabelos vermelhos prendendo em um coque solto no topo da minha cabeça.

Me pego olhando para a entrada onde um rosto conhecido adentra o local. Damien estava vestindo uma camisa preta larga, junto com um jeans preto e um belo sorriso em seu rosto, a confiança dele me dava inveja, o jeito em que ele não temia ninguém e nada, eu gostaria de ser assim. Eu fingia ser alguém assim, mas por de trás da fachada de garota má sempre existe alguém com feridas e machucados.

Ele se coloca no bar e uma das garçonete vai até o seu encontro, atendendo ele com um belo sorriso que demonstrava mais do que simpatia. Provavelmente uma das suas cadelas que beijam o chão onde ele anda assim como todos fazem.

Eu desvio meu olhar e suspiro, indo atender mais uma das mesas onde uma garota loira tatuada se entupia de bebidas e pelo estado em que se encontrava, pude ver que já havia passado do limite de álcool por hoje.

— caralho, você é gata — sua voz sai abafada pela música que toca no bar, eu solto um sorriso verdadeiro achando a situação engraçada.

— e você está louca demais — murmuro pondo a garrafa na mesa em que ela estava sozinha, eu observo ela por alguns segundos para ter a certeza de uma tatuagem com três quatros está tatuada em seu pescoço, não reconhecendo as outras tatugens que estava coberta por diversos fios loiros de cabelo — tatuagem maneira.

— sabe... eu fiz ela em uma noite que estava alcoolizada pra caralho — ela ri, achando a situação engraçada e eu solto um sorriso — pelo menos a dor não foi tanta.

Eu costumo não ter muitas amigas por me acharem meio grosseira e arrogante, mas a garota loira me divertia e pela primeira vez em muito tempo tive vontade de sentar com ela e conversar com alguém por horas. Eu arrumo os fios vermelhos que estavam caindo entre meu pescoço e a garota parecia estar em outro mundo olhando para o chão.

— você está louca pra caralho, como vai ir embora daqui?

— vou embora com o idiota do meu irmão que insiste em me perseguir por onde quer que eu vá. Proteção do caralho — ela revira os olhos e a forma em que as palavras saem de sua boca parecem cansa-lá.

— proteção para você não ser estuprada por um desses merdas daqui, Enora.

Me viro assim que uma voz familiar resmunga atrás de mim. Meu corpo se vira para avistar Damien se aproximando enquanto em sua mão havia um copo com líquido dentro. Minhas sobrancelhas se juntam enquanto analiso ele e a garota loira fitando o quão parecidos eles eram observando melhor.

— bom, me passe seu número? — Enora esbraveja após seu celular praticamente ser arremessado em meu colo.

Eu pego o telefone em minhas mãos colocando meu número e então devolvo para a garota com o pescoço cheio de tatuagens. Ela manda uma piscadela, tomando o pouco do líquido do seu copo e pondo sobre a mesa antes de se levantar e ficar ao lado de Damien.

Eu arremesso um sorriso para ela e então me viro, caminhando novamente até o balcão e relaxando meu corpo para mais três horas dentro desse chiqueiro.

...

DAMIENWhere stories live. Discover now