2. Memórias

62 6 8
                                    

Lia

Ah... hoje o dia está do jeito que eu mais gosto: nem muito frio, nem muito calor. O Sol tímido e as nuvens sopradas pela modéstia. Hoje sim, é um dia digno de sentar em uma cafeteria e ouvir mais um episódio do podcast de fofoca do Aliens' Break.

Acho que só preciso de um agasalho.

Abro meu armário na parte dos cabides e encaro todos os dezessete casacos que venho colecionando ao longo desses aventureiros dezenove anos de trocas de estilo. Até... aquela fase. Emo. E a primeira a descartar é a camisa xadrez de flanela vermelha e preta, só pela vergonha de lembrar do meu passado em que eu ouvia uma música do Evanescence pra cada situação da minha vida.

Meus olhos percorrem as mangas compridas que formam um arco-íris fosco que, a propósito, ficaria ótimo em uma das animações do Tim Burton. Chegando mais pra esquerda, mais pra esquerda... lá está ela. Lindinha. Meu xodó: minha jaqueta verde-oliva com bolsos grandes e desnecessários. Quer dizer, não tenho nada pra guardar neles além dos meus fones.

Me olho no espelho, ajeito a gola da jaqueta e coloco o fone em um dos bolsos. Espera, parece que já tem algo aqui. Ponho a mão e... um canudo? Por que eu teria um canudo no meu bolso? A última vez que eu fui beber alguma coisa foi semana passada. E eu posso ter falhas na memória mas posso dizer com certeza que não tinha álcool naquele...

Milkshake.

A ironia do destino foi eu estar bebendo um suco e ter tomado um belo banho de milkshake. Mas como eu tenho poucas frescuras - pouco mais do que sempre tirar a borda da pizza pra comer -, não liguei pra isso, sendo bem sincera.

Bem, pra isso, não. Mas rolou uma coisa diferente. Não é surpresa que eu tenha sido o alvo de um acidente de bebida, já estou acostumada. Sou tipo um ímã pra esse tipo de coisa. É como um dom natural. Já esbarraram comigo derrubando cerveja, refri, energético, bolo e até uma pilha de cupcakes. Pois é. Nada como me acostumar.

Mas aquela garota... ela tem cara de ser atrapalhada mesmo. Parece que viu um fantasma quando esbarrou em mim. Será que aqueles cílios dela eram de verdade? Eram tão longos... e lindos.

Me diverti com aquele susto, ela me fez lembrar daquela cena do Gato de Botas com cara de quem quer piedade. Mal sabe ela o quanto já estou acostumada com isso.

E eu, bendita seja a minha falta de filtros. Soltei uma fala que sem dúvida pareceu um flerte no momento mais inadequado de todos. O momento pode ter sido horrível, mas não acho que falei à toa. Tenho agonia de fingir sorrisos - e até dificuldade, inclusive. Falei o que me veio na cabeça naquela hora, e em vez de um "Você é maluca?!!" , eu quis elogiá-la. Simplesmente porque... o jeito dela mexeu comigo.

Bem, é melhor eu ir tomar logo esse café. Já está perto das 17h.

~ Qual será que é o nome dela?

Paixão & Café Onde histórias criam vida. Descubra agora