Cap. 1: O pária Amaldiçoado

26 3 4
                                    

Quando eu era criança, vivia em uma aldeia cheia de histórias sombrias e lendas antigas em que todas as pessoas acreditavam ser reais. Mas nenhuma delas se comparava ao mito assustador que cercava o sétimo filho de uma família com seis filhas meninas e o seu sétimo filho um menino. A história dizia que ele era amaldiçoado desde o nascimento e que sua presença trazia desgraça para todos aqueles que viviam ao seu redor.

Eu sou esse sétimo filho.

Nasci como o sétimo de uma pequena aldeia na cidade de Wyvernshire, chamada de Aldeia de Luminária. Porém essa distinção carregava consigo uma lenda sombria, que acabou selando meu destino de forma cruel e então, desde cedo, senti o peso dessa maldição sobre mim. Minha família, logo após o meu nascimento, assustada com as superstições, foi banida da vila pelos aldeões que acreditavam que eu era a personificação dessa lenda. Fomos isolados para uma floresta onde ninguém que não fosse corajoso o bastante, tivesse coragem de se aproximar. 

Desde então, minha vida se tornou um peso insuportável. Na escola, ninguém ousava se aproximar de mim, com medo de atrair a desgraça que diziam acompanhar minha existência. Na cidade, olhares de desconfiança e repulsa eram lançados em minha direção. Eu era um pária, um ser solitário em um mundo que se recusava a me aceitar, mas tudo só piorou quando ataques de uma besta começou a surgir por aqui, adultos e crianças eram encontrados mortos e retalhados e a única causa, era uma fera que uivava a noite assustando os moradores que habitavam esse lugar. 

E então as suspeitas sobre o mito que eu carregava, foi levado em consideração pelos moradores, fazendo com que eu me tornasse culpado de algo que eu não cometi. Com quatro anos, perdi minha família para atos maldosos dos aldeões que estavam cegos pela crueldade alimentadas pelo medo. Movidos por suas crenças distorcidas, eles infligiram malefícios impensáveis, acreditando que assim estariam se protegendo. Naquela noite fatídica, fui deixado sozinho, desamparado e abandonado, com cicatrizes que não se limitavam apenas à minha pele.

Essa é a minha vida e, se você, caro leitor, acredita que a sua é difícil, permita-me mostrar o peso que é carregar a minha. Pois, apesar de todo o sofrimento, há uma história a ser contada, uma jornada que moldou minha resiliência. Uma história de redenção, coragem e superação, que está prestes a se desdobrar diante de seus olhos.

              Capítulo 1: O Pária Amaldiçoado

Aldeia de Luminária, Ravenmoor
Manhã - 7 de agosto

Os primeiros raios de sol penetraram pelas frestas da janela, iluminando timidamente o pequeno quarto onde acordei. Espreguicei-me e meus olhos se abriram lentamente, mas a realidade logo se impôs sobre mim. Ao vasculhar a dispensa em busca de algo para comer, meu coração se encheu de desânimo ao constatar que não havia nada ali além de poeira. Suspirando, percebi que não havia escolha a não ser enfrentar mais um dia de estômago vazio. Vesti minhas roupas simples, que mais se pareciam com harapos e, com a mochila nas costas, pus-me a caminhar rumo à escola. Enquanto seguia pelas ruas de Luminária, percebia os olhares furtivos lançados em minha direção. Sussurros se espalhavam pelo ar, como se as próprias paredes da aldeia tivessem ouvidos atentos às minhas desventuras.

Decidi, então, tomar uma medida desesperada para me camuflar. Retirei da mochila uma capa esfarrapada e a envolvi sobre meu corpo com cuidado. Com a capa cobrindo meu rosto, senti-me minimamente protegido daqueles julgamentos e olhares de desdém, era como se eu não sentisse mais eles sobre mim, me sentia como um super-herói dentro dela. Eu sabia que nunca poderia me livrar por completo da marca que carregava, mas ao menos poderia tentar diminuir a atenção indesejada, eu nunca fui um garoto de holofotes. Conforme eu caminhava pelas ruas movimentadas da aldeia, as pessoas começavam a abrir suas vendas de rua, expondo frutas, pães e outros alimentos apetitosos. 

O lobo e o garoto da capa vermelha - TaekookOnde histórias criam vida. Descubra agora