Verdadeira Família

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Lena despertou com a suave carícia dos primeiros raios de sol em seu rosto.

A melodia do canto dos pássaros ao lado de fora parecia compor uma doce sinfonia de boas-vindas à manhã.

Lentamente, foi se espreguiçando, sentindo cada músculo de seu corpo se esticar em um alívio delicioso.

Piscando várias vezes para se ajustar à luz, sentiu um braço forte e quente envolvendo sua cintura, apertando-a de forma protetora.

Ao virar o rosto, seus olhos encontraram Kara, ainda adormecida, os lábios entreabertos em um resquício de sonho.

Por um momento, Lena teve que segurar a emoção; ainda parecia surreal vê-la ao seu lado depois de todos esses anos.

Com cuidado, para não acordá-la, tentou se desvencilhar de seu braço.

Foi uma pequena batalha silenciosa, mas depois de alguns segundos, conseguiu se libertar.

Não resistindo, depositou um suave beijo em sua testa.

Ao se levantar, procurou algo para vestir.

Logo seus olhos captaram um robe azul pendurado na porta do quarto.

Deslizando-o sobre a pele, sentiu o cetim suave acariciar seu corpo enquanto amarrava um nó firmemente em sua cintura.

A cabana tinha um charme rústico e simples. Cada detalhe, desde os móveis de madeira ao piso de pedra, exalava uma sensação de aconchego.

No entanto, o que realmente chamou a atenção de Lena foi o som contínuo das árvores farfalhando ao lado de fora.

Curiosa, ela passou pela cozinha, se dirigindo à porta principal.

Ao abri-la, teve o fôlego roubado...

Pela primeira vez na vida estava de frente para o mar.

As águas azuis se estendiam até o horizonte, suas ondas dançando em um eterno balé com a areia branca.

O sol, já um pouco mais alto, refletia sobre a superfície da água, criando um caminho cintilante que parecia convidá-la a mergulhar em sua beleza.

Lena ficou parada, totalmente imersa naquele momento, se sentindo infinitamente maravilhada.

Descendo os poucos degraus que separavam a varanda da praia, sentiu a areia macia e fresca acariciar seus pés descalços.

A cada passo que dava, a areia se moldava ao formato de seus pés, e o som efervescente das ondas ficando cada vez mais audível.

Ela se aproximou do mar, mas uma pitada de receio a fez hesitar. Havia uma força imensa ali, um poder que ela respeitava e temia.

Ao se aproximar da borda, observou uma onda se formar ao longe. Ela avançava, crescia e, ao chegar perto de seus pés, se dissipava em um borbulhar suave, deixando um rastro de espuma branca.

Tomando coragem, Lena tocou a ponta dos pés na água.

A sensação gelada a fez apertar os dentes, um arrepio percorrendo sua espinha.

Porém aquele som suave foi abruptamente interrompido por um grito distante e desesperado.

— Lena! — A voz de Kara ecoou, carregada de pânico.

Lena virou-se rapidamente, alarmada.

— Estou aqui, amor! — gritou de volta, tentando projetar sua voz sob o barulho do mar.

De repente, a figura familiar de Kara apareceu na porta aberta da cabana, seus olhos varrendo freneticamente a praia.

Ao ver Lena, uma onda visível de alívio lavou seu rosto, e ela caminhou rapidamente em direção à praia, o sorriso retornando a seus lábios.

          

— Você quase me matou de susto. — Suspirou com a mão no peito.

Lena riu, seu sorriso malicioso.

— Bom dia, dorminhoca. — A puxou para um beijo terno e carinhoso.

— Bom dia. — Kara sussurrou contra seus lábios, os olhos ainda brilhando de alívio.

No entanto, o olhar de Lena varreu todo seu corpo.

— Kara... — a intimou rindo entre os dentes — Você está nua! — olhou para os lados — alguém aqui pode nos ver?

Kara desceu os olhos e riu surpresa com si própria. Em seguida encarou Lena.

— Não tive tempo de me vestir quando não te encontrei. E não... ninguém conhece esse lugar, exceto nós duas. — Garantiu.

— Hum, acho bom! — murmurou, a abraçando.

Kara a observou com um brilho travesso nos olhos.

— Você quer entrar?

Lena lançou um olhar nervoso para o mar, as ondas agora parecendo mais intimidantes do que nunca.

— Não! Definitivamente não! Tenho muito medo. — Se afastou, cruzando os braços teimosamente.

— Ah, qual é... vamos lá... — Seus olhos brilharam como os de um filhote abandonado. — Por favorzinho?

Lena riu.

— Essa carinha não vai funcionar comigo.

Kara suspirou fazendo um bico.

— Então o que acha de fazer um trato comigo? — Sugeriu, balançando as sobrancelhas. — Se você entrar, faço o café da manhã por uma semana.

— Não entendi... Vou me mudar para cá agora? — Lena perguntou com um tom brincalhão, estendendo a mão e examinando os dedos. — Não vejo nenhuma aliança aqui!

Kara riu, fingindo um olhar ultrajado.

— Está me cobrando já? — Tentou fazer uma encenação dramática para se ajoelhar, mas Lena a interrompeu, puxando-a de volta para cima.

— Ei, ei, ei! Nem pense em me pedir em casamento pelada desse jeito.

Em um milésimo de segundo, Kara deu um salto, voando para a cabana e voltando vestindo uma boxer.

Lena mal conseguindo acompanhar aquela rapidez, olhou para seu traje.

— Uma... cueca?

Kara deu de ombros.

— O ambiente romântico da praia, e eu meio vestida já não são o suficiente?

Lena gargalhou.

— Bem, talvez... Mas imagina nossos filhos sabendo dessa história?

Kara arqueou uma sobrancelha, sorrindo.

— Filhos? Já estamos planejando?

— Quem sabe? — Lena a provocou. — Não gostaria?

Os olhos de Kara cintilaram de alegria.

— Com você? Teria um exército!

Lena riu alto.

— Ai, ai, coelha ambiciosa. Vamos com calma!

— Tudo bem, tudo bem. — Kara riu. — Primeiro o casamento, depois pensamos na tropa.

Lena fingiu pensar, tocando o queixo.

— Será que os anos fizeram você ficar convencida assim? — Franziu o cenho.

Esperança e LiberdadeWhere stories live. Discover now