Novo Ataque

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A noite cai. Uma ventania tenebrosa agita as copas das árvores das principais alamedas, levando consigo as folhas dos jornais jogados nas calçadas. Os ponteiros do relógio da catedral no centro apontam exatamente seis horas. Olhos famintos observam seus alvos.

Do alto dos prédios, do escuro das janelas:

Um;

Minutos depois, dois;

Três;

Ao mesmo tempo: quatro, cinco;

Esperando atentamente o alvo ficar em posição: seis;

Outro evento horripilante é protagonizado em São Roque.

***

Chegam as primeiras informações na redação.

— Gente! — grita Ângela, segurando o telefone. — Acabou de acontecer uma onda de assassinatos pela cidade!

Todos imediatamente param o que estão fazendo.

André e Henri são pegos de surpresa pela notícia enquanto sobem as escadas.

Ângela segue ouvindo os detalhes na ligação.

— Foram seis! Seis pessoas mortas em menos de trinta minutos! E todas por tiros na cabeça. — enuncia ela, desesperada. A voz do outro lado da linha pede para Ângela pegar um pedaço de papel. — Certo, já peguei. Pode falar.

Ela anota a localização de todos os crimes.

Jardim Bela Vista, na José Henrique com a Antônio Augusto.

N. Sra. Aparecida, no cruzamento da Santa Quérita com a Águia Real.

Vila Nova São Roque, na Av. Bernardino de Lucca.

Na curva da Raposo Tavares.

Em frente ao Centro Cultural Brasital, Vila Aguiar.

Também na Vila Aguiar, mais ao norte, na ligação da Gérson Nastri com a Albertino de Castro.

***

Os dois retornam à sala de Olavo. O chefe de reportagem termina uma rápida conversa com Muriel, muito nervoso com a chuva de notícias instantâneas.

Depois que Muriel sai, Olavo fala com eles.

— E então, o que conseguiram?

— Sinceramente, nada!

— Como assim nada?

— A cidade está literalmente ferrada nas mãos daquele boçal. — desabafa Henri. — A gente até falou umas coisas para ele.

— Mas de nada adiantou. — completa André.

— São burros demais! — diz Olavo, decepcionado. — E falo de vocês dois!

— Nós?

— Sem dúvidas! Brincaram por aí se achando os heróis, mas defecaram para trás na hora do vamos ver.

Henri se enfurece.

— Escute, idiota, se acha que estamos aqui assistindo tudo isso de braços cruzados como você faz, está enganado!

André arregala os olhos admirado pela atitude do parceiro. Olavo, por outro lado, reage surpreso, não acreditando que um de seus repórteres o tenha confrontado pela primeira vez. Rapidamente ele retoma a postura.

— Olha a boca, seu moleque. Esqueceu o respeito em casa?

— Não vou permitir que diga que estamos brincando enquanto estamos indo afundo em cada grama de pista que temos! Vá se danar!

— Meça as suas palavras comigo, rapaz!

— Depois de arriscarmos a vida de uma pessoa indo atrás daqueles malditos criminosos! Toda a tristeza que nos causaram! E é assim que você fala?

Olavo estranha.

— Do que está falando?

Por pouco Henri não fala demais. Percebendo isso, ele opta por deixar a sala antes que seja tarde. Será seu fim se Olavo desconfiar que o ataque à Verônica foi em razão às aproximações que fez junto com o parceiro.

Quando sai, ele bate de frente com a redação inteira olhando em sua direção. Aqueles olhares... Os mesmos que Verônica havia mencionado na noite de sua morte. Nervoso e envergonhado, Henri sobe depressa para a reportagem, não conseguindo evitar o choro quando a imagem da antiga paixão aparece em sua mente.

Tudo agora só gira em torno de justiça. Justiça por Verônica. Entretanto, o próprio Henri sabe que isso está bem longe de acontecer.

***

O jornal fica movimentado. Parte da redação tem que ficar para conseguir inserir os últimos acontecimentos na edição do dia seguinte.

Desolados na sala de reportagem, os dois jogam bolinhas de papel no cesto de lixo do canto. Isso enquanto observam o tique-taque do relógio da parede. Tudo isso em absoluto silêncio. Não há clima para diálogo.

***

Enquanto isso, Figueroa se reúne urgentemente com os diretores do jornal no andar de baixo.

— Os senhores precisam dar uma olhada nisso. — anuncia ele, jogando algumas fotografias sobre a grande mesa. Em cada uma delas, há um corpo ensanguentado. Inicialmente, ninguém compreende. O editor então explica: — Essas são fotos dos assassinatos de agora pouco. Em cada um deles tem um detalhe quase imperceptível nas sombras. Peço que observem com atenção.

Os diretores pegam as fotos e observam minunciosamente.

— Que droga! — exprime o diretor executivo, indignado. — São páginas do nosso jornal!

— Exato. — confirma Figueroa. — Eram pessoas inocentes, não tinham ligamento algum com a organização. E ainda por cima disso, a nossa reputação está indo junto para o túmulo.

— Mas por que eles continuam nos afrontando? — pergunta o Sr. Silva. — Não tínhamos parado com as colunas do hexágono?

— Paramos, Silvio. Porém, seguimos sem entender.

***

André tenta acessar um site aleatório para matar o tempo, mas a mensagem de erro de conexão reaparece. Ele então se lembra de ver o cabo sabotado no corredor.

— Estávamos sendo vigiados. Tem alguém nesse jornal que anda nos monitorando. Cada passo, cada suspiro.

Henri não responde. Segue calado com a mão na cabeça, pensativo.

André continua:

— O que me quebra é saber que entre nós, está a pessoa que...

— Sim! — interrompe Henri, irritado. — Já sabemos! Não precisa ficar relembrando isso toda hora. Que saco, cara.

André pede desculpas e se cala novamente. E eles terminam a noite ali, refletindo.

***

Poucas horas mais tarde, a notícia dos assassinatos ganha atenção dos noticiários locais, de cidades vizinhas e até de telejornais nacionais.

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