[Zeppelin ou Zepelim é um tipo de aeróstato rígido, mais especificamente um dirigível.]
— Dá banho no puto!
Selene nem teve tempo de processar o grito e foi afogado em uma onda gelada e atordoante.
As risadinhas infantis ecoaram pelo celeiro capenga. Os raios de luz que atravessavam as frestas da madeira apodrecida denunciavam a manhã avançada. Selene mal conseguia enxergar os donos daquelas risadas irritantes, pois os pirralhos já haviam saído correndo.
O silêncio voltou a reinar no ambiente espaçoso e aberto, o cheiro fétido de animais mal cuidados e dejetos fez o nariz do ômega coçar e torcer em desagrado. Pilhas e mais pilhas de feno espalhavam-se aos montes, cobrindo a maior parte do espaço. Era um labirinto amarelo e torturante para a alergia do rapaz, que ainda tentava acalmar-se do susto por ser despertado de forma brusca.
Selene suspirou pesado olhando seu estado. O corpo delgado caído sobre o feno quase totalmente exposto por conta dos enormes rasgos em suas vestes, a pele pálida fortemente marcada com mordidas e vergões de fortes apertos estava coberta por manchas esbranquiçadas de esperma seco. O cheiro amargo que subiu do sêmen em contato com a água causou ânsia no rapaz. Ele desejou uma bucha grossa para esfregar cada canto de sua pele até arrancar seu sangue.
A tontura e mal estar habitual o atingiu quando ele se levantou, mal conseguindo dar um passo sem que sentisse que iria desabar. As pernas trêmulas denunciavam a intensa noite que tivera e mais daquele líquido esbranquiçado escorreu por entre as coxas desnudas, causando um arrepio desagradável na espinha de Selene, que se afundou no sentimento vazio que veio de dentro de si.
A luz da manhã era destruidora, atingindo agressivamente os olhos cinzentos que resistiram à ardência, mantendo-se abertos.
Antes que pudesse processar, uma pedra do tamanho de um pêssego voou em sua direção, acertando a parte de trás de seu ombro com força o suficiente para deixar roxa a região.
— Joga pedra no ômega sujo! — um garoto com não mais que dez anos gritou.
Outros dois pirralhos mais jovens seguiram sua ordem, jogando cerca três pedras cada, antes de saírem correndo dando risadas.
Selene caiu sentado no chão com o ataque, conseguiu desviar de algumas pedras, mas uma delas acertou pouco abaixo da pálpebra inferior criando um pequeno corte que deixou escapar um pouco de sangue.
Merda, foi seu pai que me deixou nesse estado. Pensou o rapaz, reconhecendo o pirralho mais velho, filho do ferreiro local.
Enfiando o rosto entre as mãos, Selene deixou uma risada seca e sem vida escapar. Ele levantou ignorando a dor no ombro e o corte aberto e seguiu vagando por detrás do celeiro onde acordara.
— Nojento.
— Mas que falta de vergonha!
— Deveriam trancar esse puto em uma masmorra para que parasse de seduzir nossos homens.
Enquanto atravessava o centro do vilarejo, dezenas de vozes e críticas começaram a ressoar em seus ouvidos. Ainda era cedo e a cidade estava recém despertando, mas os mercadores e trabalhadores já iniciavam sua rotina de abertura dos seus estabelecimentos.
— Escória, não é a toa que nasceu estragado desse jeito, ou teria um filho a cada ano — o comentário vindo da dona da loja de flores foi o que mais doeu no rapaz, que mancava caminhando o mais rápido que podia para longe daqueles olhares cruéis.
Em uma sociedade onde a hierarquia de gêneros dominava e era super influente nas relações, ser um ômega incapaz de procriar era uma maldição. E Selene provava disso todos os dias.
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O ômega e o Zepelim - Omegaverse
RomanceSelene é um ômega sem a capacidade de ter filhos que vive uma vida injusta e suja de sobrevivência em um vilarejo que o usa como brinquedo sexual de predadores incontroláveis. Até que, em um dia pacato, um majestoso dirigível surge e ameaça apagar a...