Charlotte ficou olhando para Engfa. Seus pensamentos vinham muito rápido. A última tentativa de socialização da Isis com as crianças da idade dela, foi no mínimo catastrófica. Engfa não sabia. Ela ainda tinha esperança.
- Vamos fazer um acordo. - A fotógrafa finalmente falou.
- Acordo? - Engfa perguntou desconfiada.
- Sim. Você para de me enrolar e de enrolar a si mesma, e vai na consulta com o novo psiquiatra. E para de falar sobre colocar a Isis numa escola.
- Está pedindo duas coisas contra uma.
- É pegar ou largar. - Charlotte fez que ia embora.
- Tá bom. Eu vou ao médico de novo. - Engfa revirou os olhos. - E eu paro de falar sobre colocar a Isis na escola. - Diante do sorriso triunfante de Charlotte, Engfa apontou o dedo para ela. - Por agora. Porque esse assunto ainda não acabou.
Com uma guerra de olhares e palavras não ditas, Charlotte saiu em direção ao quarto. Engfa foi sorrindo até perto das meninas e sentou do lado de Chompu.
- Chompu, linda - Engfa falou. A modelo apenas levantou os olhos da revista e encarou Engfa.
- Vou cobrar a hora para ser babá.
- Não vou te pagar de qualquer forma, e também não é isso que eu quero de você. - Engfa sorriu.
- E o que você quer então, Engfa, linda? - Chompu fechou a revista e olhou para Engfa. Pela expressão de quem ia aprontar alguma coisa no rosto da morena, Chompu abriu um sorriso curioso.
E foi somente com Chompu que Engfa dividiu as preparações para a festa de Isis. Quando a mulher dava aula para a menina, a modelo comprava as coisas que faltavam. Como Engfa decidiu fazer uma surpresa, ela alugou um salão de festas para preparar tudo longe dos olhos curiosos que tinha em casa. Nem mesmo Charlotte teve a oportunidade de ver alguma coisa.
- Amor. - Engfa falou quando saiu do banheiro. Charlotte estava na cama, ainda trabalhando. Engfa sabia que esse era o sinal de uma exposição nascendo. Quando Charlotte trazia o trabalho para o quarto, era porque estava montando uma exposição. Engfa rezou para que fosse na Tailândia, não estava preparada para viajar. - Nós temos que pensar no presente que vamos dar para a Isis.
- Eu tive uma ideia. Na verdade eu tenho essa ideia há muito tempo, mas não sei se é o momento certo. - Charlotte desligou o notebook e o colocou na escrivaninha. Esperou que Engfa sentasse ao seu lado na cama.
- Você e suas ideias. - Engfa sorriu curiosa para a fotógrafa. A última vez que se lembrava de uma ideia de Charlotte, foi quando ela quis fazer uma festa surpresa para Faye, no meio de uma galeria badalada.
- Eu pensei em dar para ela um bicho de estimação. - Charlotte falou observando a reação da morena. Para sua alegria, o sorriso de Engfa aumentou.
- É uma ótima ideia. Acho excelente a Isis ter a responsabilidade de cuidar de um animalzinho.
- Pois é, o problema é que não sei se deve ser um gato ou um cachorro. Porque ela ama os dois.
- Um cachorro, né, amor? Olha o espaço que temos aqui. Um cachorro grande, com bastante energia pros dois correrem por esse jardim imenso. - Engfa sorriu. - Já até estou vendo, ela e o bicho correndo pelo gramado e você batendo as fotos.
Charlotte gargalhou.
- Mas e se a gente tiver que viajar e ficar um tempo maior fora por causa das exposições.
- A fotógrafa olhou séria para Engfa. - Eu já disse para você que não me separo da Isis, e além do mais, como minha esposa, eu gostaria que você acompanhasse também. E eu sei que ela vai ficar apegada com o cachorro, e se não puder levar...
- Compramos um cachorro grande e um gato então. - Engfa deu de ombros, interrompendo o raciocínio de Charlotte. O cachorro fica nas viagens longas, e o gato vai de companhia.
- Os dois?- Charlotte voltou a sorrir. Engfa é loucura.
- Meu amor, gato é um animal independente. Ele pode ensinar muitas coisas como paciência e respeito para a Isis. E o cachorro é a festa e a responsabilidade de saber lidar com uma vida que depende de você.
- Estou convencida. Mas você acha que conseguimos comprarassim tão em cima da hora? O aniversário dela é sexta, e eu gosto de dar o presente no dia mesmo.
- E se em vez de comprar, a gente levar ela para escolher, em um local de adoção?
- Dá pra ser só o gato? Porque eu queria dar um labrador pra ela. - Charlotte fez o mesmo beicinho que Isis fazia. Engfa sorriu e beijou a fotógrafa.
- Combinado. E só para deixar você mais feliz ainda, sexta-feira que vem eu vou na psiquiatra.
- Na? Tipo mulher? - Charlotte perguntou séria.
- Não consigo falar com homens. Engfa olhou para Charlotte. - Foi a Chompu que me indicou.
- Então é bonita ainda por cima.
O velho ciúmes tomou contado peito da fotógrafa. Faziam tantos anos que ela não sabia o que era ter esse sentimento com qualquer outra pessoa que não fosse a filha, que no fundo, Charlotte não sabia lidar direito.
- Como é que eu vou saber? Eu não vi ela ainda.
- Para a Chompu ter indicado, é porque ela conhece, e se ela conhece deve ser bonita. - Charlotte respondeu brava.
- Olha só. - Engfa pegou a mão de Charlotte e deu um beijo. - Você vai comigo, e se você ver algum decote, ou olhar, ou se achar que ela não é boa, eu não volto mais.
- Vou mesmo. - A fotógrafa só olhou de lado para Engfa. O sorriso da morena aumentou, e ela puxou Charlotte para deitar na cama. Deitou em cima da fotógrafa e encheu a mulher de beijos, até conseguir um sorrisode volta.
Passaram os dois dias seguintes correndo atrás dos canis em busca do labrador. Isis era ansiedade total. Nem conseguia mais se concentrar nas lições, tamanha a espera pela festa. Quanto mais ela via Engfa, Chompu, Faye e Charlotte conversando baixo e mantendo ela afastada das conversas, mais a curiosidade aumentava. Na véspera de seu aniversário, resolveu que não dormiria. E foi para a cama das mães.
- Vamos ver de novo? - Isis pediu depois que Frozen terminou.
- O mesmo filme? - Engfa perguntou.
- Pode ser o da TinkerBell e o Segredo das Fadas. - Isis apontou para a pilha de dvds que tinha trazido para o quarto das mães naquela noite.
- Pode ser, mas nada mais de pipoca ou chocolate, agora é deitar e ver o filme quietinha. - Charlotte falou fazendo Isis deitar ao seu lado. Estava na cara que a menina queria ficar acordada além dos limites, só para receber os presentes na madrugada mesmo.
- Tá. - Isis respondeu deitando com a cabeça no peito de Charlotte. Engfa trocou os filmes, e voltou a deitar do lado da filha. Quando sentiu as pernas de Isis em cima de sua barriga, Engfa sorriu para Charlotte ao constatar que Isis tinha finalmente adormecido.
- Ela sempre faz isso antes do aniversário.
- Charlotte sussurrou.
- Vamos nós dormir agora, que as surpresas vão começar já no café da manhã. - Engfa deu um beijo em Charlotte. Essa noite não levou Isis para a cama dela. As três dormiram abraçadas.Como todos os dias Engfa levantou primeiro. Arrumou o quarto com a decoração da TinkerBell que tinha arrumado especialmente para aquela manhã. Tomou seu banho, e desceu para preparar o café da manhã. Com todo carinho arrumou a bandeja e subiu para o quarto.
