Capítulo 1 - O despertar: parte 5

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Capítulo 1 - o despertar: parte 5: um amigo necessitado

Cafe aurora

        Sinto a nostalgia esquentar meu corpo como um cobertor felpudo conforme entro no café. Nara, uma antiga amiga de infância, sempre adorou esse estabelecimento, de acordo com ela, esse era o melhor lugar para explorar as magnitudes dos seus personagens, não existindo outro lugar qual conseguiria escrever seus livros. E, como um bom amigo, eu estava sempre ao seu lado nesses dias de escrita. Nara conheceu Logan através de mim e desde então nós três nos tornamos inseparáveis, apesar de ambos nunca interagirem por tanto tempo, especialmente sozinhos. Em algum momento durante uma discussão acalorada entre mim e ela, Nara e Logan se encontraram em Lunescape e por obra do destino, se apaixonaram. Porém, o namoro não durou muito além de dois anos antes de se separarem. Mas acredito veementemente que ela ainda não o esqueceu

        A última vez que eu a vi foi quando eles se separaram e Nara foi até mim para se despedir, viajando até sua cidade natal para por a cabeça no lugar, palavras dela. Foi por essa época que decidi nunca mais ir a Lunescape, muito menos usar meu dom, me recusando a sentir qualquer culpa. Se Logan mandou uma mensagem pedindo que eu a encontrasse significa que ela finalmente retornou, e não poderia estar em qualquer outro lugar além desse.

        Não tenho certeza se ela ficará feliz em me ver. Cortamos laços oficialmente após ela ir embora —  nenhum de nós fez real esforço para continuar essa amizade, cada um lidando com os seus próprios problemas. De alguma forma espero que ela me perdoe por desistir tão rápido, mesmo sabendo que ambos temos nosso porcentual de culpa e não apenas eu.

        Apesar de não encontrar motivação para mandar mensagens, acompanhei sua vida mas redes sociais, além de dar uma rápida olhada no caminho para o café. Aparentemente ela voltou para a cidade a alguns dias e está praticamente morando nesse café desde que chegou, focada em sua pesquisa. Tendo desistido dos livros, tomou foco em atualizar seu blog sobre assuntos paranormais. Mesmo não devendo, me sentia decepcionado por ela ter desistido tão facilmente da literatura, ademais, sabia como escrever esse gênero a fazia lembrar de mim e logo, de Logan. Imaginei que ela não queria isso na sua cabeça enquanto tentava reestruturar sua vida.

        Me aproximo de forma ansiosa, um sorriso temeroso em minha face. Não sei dizer se estou feliz em reve-la.

        — Nara? – ela olha para cima, confusa. Coloco as mãos nos bolsos laterais da minha calça – quanto tempo.

        Por uma fração de segundo sou tido em um suspense, sua expressão não transparecendo seus sentimentos. Sinto meu estômago afundar cada vez mais ao passar dos milissegundos, ansioso, temeroso com as reações que Nara desencadearia. Meus medos se mostraram sem fundamentos ao, no momento seguinte, meu corpo ter de sustentar o peso extra da mulher contra mim, abraçada em meu pescoço de forma firme. Lutei para respirar, cada grama do meu corpo me dizendo o quanto eu deveria correr e me proteger.

        Agarrei as costas da sua camisa branca, tentando impedir meu corpo de empurrar Nara, dando tempo aos meus sentidos compreenderem que ali era seguro e que ela não faria nada. Apertei os olhos, sentindo fios invisíveis do terror se prenderem ao redor das minhas juntas, tentando as controlar. Fui afastada abruptamente antes que a parte racional da minha mente perdesse o controle do meu corpo, ainda que mãos persisstissem em meus ombros.

        Eu ainda não conseguia respirar.

        Nara me olhou com o mesmo brilho ansioso que sempre a acompanhou.

        — Isso está acontecendo mesmo?! – exclama, seu rosto iluminado. Ela me balança levemente, ou tão leve que a sensação de mal estar em meu estômago sobe pelo meu esôfago – é você mesma!!

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