𝐂𝐡𝐚𝐫𝐥𝐨𝐭𝐭𝐞
Quando me dou conta, estávamos no meio de um lugar super movimentado, e um enorme ônibus estava prestes a bater contra nós quatro. Por sorte, Hermione havia nos puxado para a calçada a tempo.
— Onde estamos, Hermione? - perguntei, me recuperando do susto. - Posso saber?
— Avenida Shaftesbury. - ela disse, simplesmente.
— E onde é isso?
— Em Londres, ora... Eu vinha ao teatro com meus pais. Não sei porque pensei nisso, mas foi o primeiro lugar que veio a minha cabeça. Venham! Por aqui!
Hermione parecia conhecer o lugar como a palma de sua mão. Ela nos guiou por entre uma multidão de pessoas, arrastando-nos para dentro de um beco escuro. Que, para mim, não parecia ser a melhor das ideias, mas acabei cedendo.
— Nós precisamos nos trocar! - ela disse.
Hermione colocou, então, a mão dentro de sua bolsa, que era bem pequenininha. Porém, por conta de algum feitiço, ela parecia ser bem maior por dentro. Os olhos de Rony se arregalaram.
— Como fez isso?
— Feitiço indetectável de extensão. - Mione respondeu.
Ela retirou de dentro da bolsa um monte de roupas, distribuindo entre nós três para que trocássemos.
— Você é incrível! - o ruivo exclamou.
— Sempre o mesmo tom de surpresa... - ela brincou.
Assim que nos trocamos, seguimos Hermione até um lugar distinto, que eu jamais tinha visto anteriormente. Era uma cafeteria.
Depois que nos sentamos, a atendente veio até nossa mesa, pronta para apanhar nossos pedidos.
— Um cappuccino, por favor. - Hermione pediu.
— E para vocês? - ela perguntou.
— O mesmo! - eu e os meninos dissemos juntos.
A mulher concordou com a cabeça e se afastou de nós.
— E todas as pessoas no casamento? - Harry perguntou baixo. - Vocês... Não acham que devemos voltar?
— Eles estavam atrás de você, Harry. - Ron respondeu. - Se voltarmos ficarão em perigo.
— Ele está certo... - Hermione fala.
— Bom... E para onde vamos agora? - eu disse. - Caldeirão furado?
— É perigos demais! - Harry respondeu. - Se Voldemort tomou o ministério, nenhum desses lugares é seguro. Todos que estavam no casamento devem estar escondidos agora. E acabei de lembrar que deixei nossas mochilas na toca! Droga...
— Não havia jeito de buscá-las, Harry...
Escutei o sino da porta da frente tinir. Duas pessoas, vestidas com um terrível macacão azul e carregando uma caixa de ferramentas, entraram na loja, indo até o caixa.
— Já estava tudo empacotado há dias... - Hermione falou, enquanto mexia em sua bolsa. - Só o essencial, por precaução...
Mesmo prestando atenção na conversa, eu ainda observava os recém-chegados. Foi quando percebi uma estranha movimentação por parte deles, e podia jurar que um havia acabado de puxar sua varinha.
— ABAIXEM! - gritei a todos.
Como eu havia imaginado, os dois homens eram comensais da morte. Eles começaram a atirar em nossa direção, e por sorte eu já estava preparada para uma luta.
— ESTUPEFAÇA! - Harry atirou.
— EXPULSO! - gritei, tentando ajudá-lo.
Com um pouco de sorte, consegui acertar um deles, que caiu no chão desmaiado. Então, uma pequena guerra se instaura dentro da loja. Aparentemente, a atendente não conseguia nos escutar, e apenas continuou dentro da cozinha. O comensal permanecia atirando contra nós quatro, que revidávamos com feitiços de proteção.
Nos abaixamos por um tempo, para evitar os ataques, mas logo Hermione se ergueu novamente.
— PETRIFICUS TOTALLUS!
O homem que restara também caiu no chão, paralisado, bem atrás da caixa registradora. E, finalmente, a mulher percebeu a bagunça que tínhamos feito.
— Vai embora! - grita Hermione.
Ela não pensou duas vezes e obedeceu a Hermione, correndo para fora da loja desesperada.
— Tranque a porta e desligue as luzes... - Harry pede para Ron.
— Eu ajudo... - falei, indo atrás do ruivo.
Então, quando a barra estava limpa, fomos até os dois comensais que estavam caídos atrás do balcão.
— Esse se chama Rowle. - disse Harry, indicando um dos dois. - Estava na torre de astronomia quando Dumbledore foi morto!
— E este é Dolohov! - Rony comentou, apontando para o outro. - Reconheci dos cartazes de procurado.
— O que vamos fazer com eles? - perguntei, enquanto os encarava com nojo. - Se fôssemos nós, caídos aqui no chão, eles nos matariam!
— Lotte, se o matarmos, saberão que estivemos aqui! - Hermione me corrigiu.
— Mas... E se for ele quem matou o Olho-tonto? - Rony concordou comigo. - Como você se sentiria?
— Mesmo assim! - Hermione continuou. - Acho que o melhor a se fazer é limpar a memória deles...
Rony e Harry deram de ombros, concordando com a garota.
— Vamos, Charlotte... Faça você! - disse ele, abrindo passagem. - De todos nós, você sempre foi a melhor em feitiços...
— Bom... Você é quem manda!
Apanhei a minha varinha e caminhei na direção dos dois comensais. Por algum motivo, Harry pareceu não gostar muito da ideia.
— Tem certeza disso? - ele perguntou. - Se quiser, eu mesmo faço...
— Já fiz esse feitiço um milhão de vezes durante as aulas! - respondi. - Não tem perigo!
Eu não estava mentindo. Flitwick não cansava de me elogiar para a turma inteira toda vez que um Obliviate perfeito. Ainda assim, por algum motivo, comecei a sentir um leve tremor nos meus dedos enquanto segurava a varinha. Minha respiração ficou repentinamente ofegante, e havia um arrepio na minha espinha.
Estava bem de frente para os comensais, olhando fundo em seus olhos, enquanto os mesmos permaneciam paralisados.
— Algum problema? - perguntou Rony.
— N-Não... É só que...
Não conseguia entender o motivo de tanto medo. Nunca tinha errado o feitiço, e não havia dúvidas que que conseguiria realizá-lo sem grandes problemas. Mas... Algo não parecia certo.
— Eu... Acho que é melhor você fazer, Mione! - falei, gaguejando.
— Tudo bem... - ela respondeu de imediato. - Obliviate!
No momento em que o comensal foi acertado pelo feitiço, senti um arrepio ainda maior, e por algum motivo uma lágrima escorreu pelo meu olho esquerdo. Eu a enxuguei o mais rápido que pude; o que meus amigos pensariam de mim se me vissem chorando por causa de um comensal?! Nada parecia estar fazendo sentido.
Por algum motivo sinto um arrepio na espinha, e em seguida uma lágrima escorrer pelos meus olhos. Não sabia ao certo o porquê, mas essa cena me incomodou, me causando uma pontada no coração. Por quê?
Harry de repente se virou para mim.
— Como será que conseguiram descobrir onde estávamos?
— Você disse o nome... - respondi. - Por isso eu disse que deveria parar com essa sua mania! Toda vez que falar o nome, Você-sabe-quem conseguirá sua localização! É um feitiço!
— Eu... Não sabia disso... - Ronald comentou, parecendo impressionado.
— Faça o favor de não nos denunciar, ouviu? Quem sabe o que pode acontecer da próxima vez...
— Não haverá próxima vez, eu prometo! - Harry respondeu firmemente.
— Então vamos logo! O melhor lugar para nos escondermos agora é na sede da Ordem!
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Depois de finalmente sairmos de lá, nós quatro fomos andando até a sede da Ordem - a casa da família de Sirius. Como não tínhamos outra opção, decidimos passar a noite lá. Isso, é claro, se alguém tivesse a capacidade de dormir no meio daquele turbilhão de acontecimentos.
Eu, lado a lado com minha velha amiga insônia, estava explorando a casa, enquanto pensava no próximo passo que daríamos. Harry havia resumido muito toda a história das tais horcruxes, e o quão importante era capturá-las. Uma vez destruídas, Harry teria chance de destruir Voldemort de uma vez por todas.
De repente, ouço a voz de Ronald no andar superior, chamando nossa atenção.
— Pessoal! Encontrei uma coisa!
Curiosos, nos reunimos ao redor do garoto, que nos mostrou um nome escrito na porta de um dos quartos. Regulus Arcturus Black.
— R.A.B... - ele disse.
— Não entendi.
— Charlotte, R.A.B. é irmão do Sirius. - Mione respondeu.
Então, Harry enfiou a mão dentro do bolso, tirando de lá um objeto que se parecia com um medalhão. Quando eu o aproximei do meu rosto, tive certeza absoluta de que se tratava do medalhão de Salazar Slytherin. Perguntei a Harry como aquilo foi parar no bolso dele, e ele me explicou que, no dia da execução do diretor, os dois saíram juntos atrás daquele artefato.
E como se eu já não estivesse surpresa o suficiente, dentro dele havia um bilhete.
— "Sei que quando lerem isto já estarei morto há muito. Roubei a verdadeira Horcrux e tenciono destruí-lo". - li o bilhete.
— Resta saber se ele destruiu mesmo. - Harry falou.
Novamente, escuto outro barulho, desta vez vindo do andar de baixo. Nós quatro, com medo de que pudessem ter nos encontrado, nos preparamos para lutar. Apanhamos nossas varinhas e descemos as escadas lentamente, atentos à cada pequeno ruído. Aparentemente, havia alguma coisa se movendo, dentro do armário de vassouras.
Harry se aproximou, hesitante, segurou a maçaneta e o abriu, revelando o pequeno que nos espionava. O elfo Kreacher.