**Capítulo 2: O Despertar da Magia**

10 0 0
                                    

A aurora em Ratanabá era um espetáculo à parte. As primeiras luzes do dia banhavam o castelo e a floresta que a envolvia em tons dourados, criando sombras dançantes que pareciam dar vida às antigas pedras, ruínas e às trepadeiras que as envolviam.

Lara, acordada pelos sons dos animais mágicos da floresta, sentia a barriga doendo numa mistura de nervosismo e excitação. Era o dia de sua primeira aula prática de magia. Atrasada e ainda terminando de vestir sua túnica com o emblema do Coração de Jaguar, ela se juntou ao fluxo de estudantes de todos os anos, que se dirigiam para os salões de aulas. ficou fascinada com um grupo de alunos mais velhos que era seguido por aviões de papel voando como pássaros. Dançavam entre si e eram síncronas com o balançar de cabeça de uma das jovens, que ouvia algo em seu walkman amarelo.

O Professor Carvalho, que aparentava ser um homem de idade bem avançada, cujos olhos brilhavam de uma sabedoria que era reforçada por barba branca e longa, era quem os aguardava. O salão de aula era bem amplo, com janelas altas que deixavam entrar a luz matinal, iluminando todo o ambiente com uma aura quase sagrada.

"Magia," começou ele, com uma voz fraca e baixa, em meio ao falatório habitual de uma turma de adolescentes, "é a arte de se conectar com as forças da natureza... de entender e respeitar o equilíbrio do mundo."  Sua calma poderosa e gentil, preenchia todo o espaço, capturando a atenção de todos os alunos, que não demoraram a ficar em absoluto silêncio.

A aula começou com o básico - o encantamento de levitação. Professor Carvalho demonstrou, fazendo um livro flutuar até suas mãos com um gesto elegante de seus dedos. "Concentração, intenção e harmonia," ele instruiu. 

Os alunos começaram a praticar. Alguns usavam uma das varinhas disponíveis e outros, provavelmente já experientes, apenas movimentavam os dedos da mão esquerda, como se já soubessem o que estavam fazendo. "herdeiros exibidos", alguém comentou lá atrás da fila.

Quando chegou a vez de Lara, ela respirou fundo, focando em suas palavras. Ao pronunciar o encantamento, sentiu uma energia fluir por ela, uma sensação de conexão com algo maior. A pedra que ela escolhera levitou, tremulando no ar antes de se estabilizar. Uma onda de alegria e surpresa a invadiu a mente da menina. A pedra caiu imediatamente. "Concentração, intenção e harmonia," repetia, calmamente, o velho professor a cada erro parecido que acontecia no salão.

João, sempre impetuoso, tentou o feitiço, mas sua falta de paciência resultou em uma cadeira dançando descontroladamente pelo salão, provocando risadas. Sofia escolheu uma abordagem previsível e meticulosa, executando o encantamento com precisão, usando uma varinha diferente das disponíveis no armário. Era mais trabalhada e tinha desenhos que quase pareciam palavras. Lara deduziu que era própria ao ve-la colocar calmamente de volta ao seu bolso, sorrindo enquanto encarava João com seus erros. Diego, em contraste, realizou o feitiço de maneira rápida e discreta, sem ajuda de varas e sem mover um dedo sequer, revelando uma profundidade inesperada em sua compreensão da magia. O grupo que fora chamado de herdeiros observou o feito com um certo espanto. O professor Carvalho sorriu. 

Após a aula de encantamentos, os alunos foram conduzidos a sala de de Herbologia. Dona Esmeralda, uma mulher de meia-idade com olhos gentis e sempre meio distantes os aguardava enquanto acariciava uma planta brilhante em um vaso com gravuras parecidas com as que Lara percebera na varinha de Sofia. A erva se mexia em resposta aos estímulos da bruxa. "Olá crianças" ela os saudou como que com surpresa. Ela imediatamente, sem dizer nenhuma palavra, se dirigiu para um corredor assustadoramente escuro que se magicamente se formou imediatamente antes que ela desse de cara com a parede da sala. Os alunos ficaram parados, petrificados de medo, encarando o portal macabro que acabara de aparecer. A Professora retornou de braços abertos como sem entender: "Porque estão parados? venham". João entrou primeiro, seguido dos outros. 

Foram conduzidos por um longo e arquitetonicamente impossível corredor escuro por cerca de 2 minutos a passos rápidos. Ouvia-se murmuros dos alunos assustados, que foram imediatamente substituídos por um imenso e uníssono "Oooooh" quando foram abraçados pela luz abrupta e prateada da estufa de Herbologia, um lugar onde a magia da flora amazônica ganhava vida. "Isso é sempre legal" sorriu a professora enquanto observava os olhares espantados dos adolescentes apontando para cada canto da enorme estufa de Ratanabá, onde existia plantas jamais vistas por olhos humanos. Diego quase foi abraçado por uma samambaia-carente. A Planta desistiu.

"Sejam bem-vindos à aula de Herbologia, queridos alunos", começou Dona Esmeralda, sua voz suave ecoando na estufa. Suas mãos habilidosas sempre acariciavam as folhas das plantas enquanto ela explicava com paixão. "Aqui, vocês aprenderão a admirável magia que a natureza nos oferece. Cada planta que habita nossa floresta é uma obra-prima mágica por si só, e hoje começaremos com esta belezinha aqui."Os olhos curiosos dos estudantes se fixaram na planta que brilhava sob a luz da lua. Sua aparência era simples e ao mesmo tempo extraordinária, com folhas prateadas que pareciam capturar a luz noturna e refleti-la de volta.A professora continuou: "A Erva-Luar é uma das plantas mais misteriosas e adivinhatórias de nossa floresta. Ela tem a capacidade de nos conectar com vislumbres do futuro, mas apenas poucos bruxos são verdadeiramente sensíveis à magia desta dicotiledónea. eu mesma nunca recebi uma mensagem das boas"Lara observou com fascinação enquanto Dona Esmeralda se aproximava da Erva-Luar e acariciava suavemente uma das suas folhas. A planta parecia responder à sua presença, emitindo uma suave luminescência que iluminava a estufa."Quando tocam a Erva-Luar, alguns bruxos sentem uma vibração estranha, como se a planta estivesse sussurrando segredos do futuro", explicou Dona Esmeralda. "Mas a verdadeira magia está em ouvir e interpretar esses sussurros. Lara, por favor, se aproxime."Lara estava no fundo do grupo e quase não acreditou que estava sendo chamada por uma mulher que nunca conhecera. Os alunos se afastaram, formando um corredor com faces curiosas por onde a menina se aproximou da Erva-Luar com um misto de expectativa e curiosidade. Não sentiu medo algum. Parecia o certo a se fazer. Ao tocar a planta, sentiu uma sensação elétrica percorrer seus dedos e subir por seu braço. Era como se a Erva-Luar estivesse compartilhando seus segredos diretamente em sua mente.A sala estava em silêncio enquanto Lara parecia perder-se na conexão mágica com a planta. Dona Esmeralda sorriu, balançando do a cabeça em afirmação e sorrindo, observando a jovem bruxa de olhos castanhos mergulhando na imensidão do tempo. Era um momento de pura magia, onde o passado, o presente e o futuro se entrelaçavam na mente de Lara. Seus olhos ficaram brancos e a menina acordou deitada num sofá velho em frente a lareira da pequena sala de herbologia. "traz só água", Lara gritou para Dona Esmeralda, que estava fora de sua vista ainda com um pote de capim-limão nas mãos. A professora sorriu e devolveu o frasco que acabara de tirar do armário. 


"o que aconteceu comigo?" a aluna perguntou, ainda sem levantar do sofá. 

"juro que não sei", disse a bruxa mais velha ao entregar um copo de cristal vazio para a garota. "você desmaiou depois de tocar na erva-luar. João e Diego te trouxeram pra cá". Balançou o indicador esquerdo e o copo se encheu de agua fresca. "você lembra de alguma coisa?", a professora perguntou. Lara balançou a cabeça em negação e bebeu um grande gole d'água . As duas permaneceram em silêncio. 

Era assim que a magia da Amazônia se revelava, uma dança encantada entre o mundo natural e o mágico, e os alunos mal podiam esperar para explorar mais desse incrível universo.

O dia terminou com uma sensação de realização e um desejo insaciável de aprender mais. Enquanto Lara caminhava sozinha de volta ao dormitório, a lua já estava alta no céu, recapitulava mentalmente as lições do dia e tentava lembrar de algo sobre o desmaio. Ela se sentia no limiar de um mundo vasto e maravilhoso, pronto para ser explorado. Naquela noite, enquanto a luz da lua iluminava seu quarto, Lara adormeceu com pensamentos de magia, sonhando com as maravilhas que Ratanabá ainda tinha para revelar. Nada seria como antes.

O Chamado Da MagiaOnde histórias criam vida. Descubra agora