PIETRA
— Daí seu pai chorou, igual um bebê quando tá com fome — Ney fala, arrancando gargalhadas de Aurora. — Eu não estava no campo, e o nosso técnico acolheu ele.
— Ele chorou muito mesmo? — Aurora pergunta.
— Nem foi tanto! — Thiago contesta.
O assunto na mesa de café da manhã era a copa de 2014, e o Thiago era o centro de tudo, a famosa foto dele chorando no colo do técnico, logo após a disputa de pênaltis que, pasmem, eles ganharam o jogo.
Agora ele ri mas tenho certeza que a cicatriz durou por anos.
Neymar nos ligou por chamada de vídeo pela manhã, e desde então não falta assunto com Aurora, ele nem disfarça que quer marcar território, acho fofo a forma com que ele trata ela sempre.
— Você tá bonitinho na foto amor, liga não. — o defendo e Neymar me mostra a língua. — Feio ficou ele em 2022 com aquele cabelo platinado, a testa de amolar facão e a cara de quem tinha apanhado.
Thiago quase cuspiu o café pra fora de tanto que riu. Aurora mesmo não entendendo metade do que falei, foi no embalo. Neymar? Bom ficou me olhando com cara de cachorro sem dono.
— Pietra, você não gosta de mim? É isso? — indagou.
— Tu tava falando mal do meu homem, tenho que defendê-lo. — dou de ombros.
— Ah é? — levantou a sobrancelha. — Amor, vem cá. — se levantou da cama que estava deitado e começou a andar com o celular na mão.
Fui acodir Thiago que estava quase morrendo, dei um pouco de água a ele, que tomou o fôlego limpando a lágrima que caiu.
— Que foi? — Bruna apareceu na câmera, ela sorri acenando pra gente.
— Oi tia! — Aurora a cumprimenta e ela joga um beijo no ar
— Pietra tá me humilhando falando que na foto que saiu minha, na derrota do Brasil em 2022, eu estava ridículo com meu cabelo platinado, testa de amolar facão e com cara de quem havia apanhado. — explicou como se ela fosse mãe dele.
— Ela tá certa! — Bruna concordou.
Thiago dá um berro enquanto aponta pro celular e eu tapo a boca dele.
— Bruna! — Neymar a encara, despontado.
— Uai amor eu te falei na época que não achei bom, mas você pensou que eu estava brincando. — deu de ombros.
— Thiago para de rir, sua mula! — gritou com o amigo de cara feia.
— Olha a Aurora lá! — Bruna bateu nele que fez careta.
— Desculpa amor do tio. — Aurora ri. — Oh Pietra, vai ter volta tá? O teu tá guardado.
— Ui que medo! — levanto as mãos.
— Hum... pelo visto vocês já estão de boa. — Isago aparece na cozinha alisando as mãos, Iago passa em seguida esbarrando no ombro do irmão e nem ao menos pediu desculpas.
— Vocês pelo jeito não, né?! — encarei os dois, Iago com o bico grande se sentou.
— Problema de adolescente? — Ney me pergunta e eu afirmo com a cabeça. — Depois terminamos essa conversa então, amo vocês!
— Também amamos vocês, da um beijo na Mavie! — me despedi.
— Fa-falou irmão! — gaguejou, Thiago mal conseguia falar com o riso preso na garganta.
— Ae Thiago, isso não acabou não tá? — apontou para ele. — Tchau princesa do tio, esse final de semana você mata a saudade da Mavie, Tia bru e eu tá?
— Tá bom! — ela afirmou com a cabeça e mandou um beijo no ar.
Preciso nem dizer que ele morreu de amores né?
Encerrei a chamada no iPad e encarei os meninos que estavam comendo, cutuquei Thiago que me olhou sem entender.
— Pergunta como foi ontem! — digo entre os dentes.
— Tá.. — forçou uma tosse. — Então... como foi ontem? — perguntou mas nenhum dos dois respondeu.
— Iago...? — o chamei.
— Pergunta pro Isago a merda que ele plantou. — gesticulou apontando para o irmão que rolou os olhos.
— Tu fez oque moleque? — Thiago fuzilou o menino com o olhar.
— Iago tá de graça, não fiz nada demais!
Voltou atenção ao café da manhã.
— Nada demais? — Iago o encarou incrédulo. — Mãe, ele cismou que a ex dele de anos atrás estava dando em cima de mim, quase me deu um soco porque não quis sair da porta do banheiro que estava esperando ela, depois DELA me pedir pra ficar, e ainda atrapalhou minha foda! — tapou a boca em seguida.
— Eu vou assistir desenho. — Aurora desceu da cadeira e saiu andando.
Até ela já tá ciente da boca suja dos irmãos, graças a Deus não repete nada de ruim que ouve!
— Que ex é essa? Você nunca apareceu aqui namorando. — Isago me olha e eu desvio o olhar sentindo o olhar de Thiago. — Esse é o segredo de vocês dois? — apontou para mim e pro filho.
— Isso não entra em questão agora Thiago. — falo. — Isago você quase agrediu seu irmão!
— Ele me irritou pra caralho, queria falar com a Olivia pô.
— Olivia? Quem é Olivia? — Thiago pergunta confuso.
— Mas ela não queria falar com você, tanto que a namorada dele quase bateu na Olivia por conta disso! — Isago arregalou os olhos e gesticulou pro Iago fazer silêncio.
— Não acredito nisso. — passo a mão no rosto. — A menina tá bem?
— Tá, eu vim atrás dela. — resmungou.
— Veio?? Ela mora aqui? — Thiago pergunta boiando e Iago afirma com a cabeça. — Porra vocês não me contam mais nada.
— Ah pai esses papo a Pietra entende melhor! — Iago fala e Thiago nega com a cabeça.
— Sim, ela sabe dar conselhos e por juízo na cabeça desse idiota! — tentou acertar o isago com um tapa mas ele se desviou.
— Isso é assunto de pai e filho. — olhei para ele vendo que ele estava ofendido com isso, não acredito. — Vocês não tem que sair falando essas parada pra Pietra, eu quem deveria saber desses assunto porra.
— Tá bom então você resolve agora com eles. — digo sem paciência, me levanto e saio da cozinha.
Aurora estava vendo um desenho de sereia, fiquei com ela um pouquinho pra aliviar a cabeça.
— Mãe eu vou poder levar minha Barbie pra casa da Mavie? — pergunta.
— Já tem um monte de brinquedos seu lá filha. — beijo o topo da cabeça dela. — Nem precisar levar nada não. — ela ri. — Você me lembra minha vovó sabia? — ela me olha com os olhos brilhando. — Seu cabelo é igual o dela.
— Ela tá no céu, né? — disse.
Eu costumava comentar sobre a minha avó com Aurora, não queria e nem quero que minha filha cresça sem saber de alguém importante que passou pela minha vida.
— Sim meu amor. — sorri de lado.
Peguei meu celular e vi alguns stories do Instagram e o mesmo no WhatsApp, Olivia havia postado uma foto e eu reagi com um coração, ela respondeu em seguida e minha mão coçou para chamar ela aqui para fazer algo mais tarde. como um pedido de desculpas de ontem.
Sei que não deveria me meter mas me simpatizei muito com ela e sei que o Isago tem muito do Thiago em algumas atitudes que eu, com o tempo, tive que tirar do meu homi e sei que com o Isago levará um tempo também para mudar.
Não mandei nada mas perguntei se ela estava bem, espero que os dois se resolvam e que fique tudo numa boa.
– Vai no meu jogo né? — Isagi surgiu da cozinha, olhei o relógio vendo que faltava 3h pro jogo.
— Vou. — falei simples, ele caminhou até mim e bagunçou meu cabelo. — Sai Isago!
— Tá bravinha, tá? — gastou com minha cara.
— Não acredito que você fez oque fez. — ele rola os olhos. — Tô falando sério garoto, te eduquei assim não!
— Ta mas você viu que o Iago te chamou de mãe hoje? — me subornou, não consegui conter o sorriso. — Tá se achando né!
— Para de graça. — desfaço o sorriso e cruzo os braços. — Se começar, não vou pro teu jogo.
— Tá bom... — me deu as costas. — Ah.. peraí. — me olhou. — Preciso te contar uma coisa. — se sentou no sofá. — Já falei com meu pai i tals.. — abaixo o volumo da tv para eu ouvi-lo melhor. — Eu tô vendo de alugar um apartamento no centro, fica melhor minha locomoção pro estádio e também preciso criar responsabilidade de um homem adulto né.
Sinto uma pontada no peito, é a realidade chegando, ele cresceu, virou homem e precisa traçar o próprio caminho.
— Tem certeza? — sinto um nó na garganta.
— Tenho, eu quero visitar alguns ap's e gostaria da sua ajuda. — pegou na minha mão. — Pode ser?
— Cl-claro. — gaguejo e afirmo com a cabeça. — Mas seu pai não vai achar ruim? — ele abaixa a cabeça rindo. — Viu que ele ficou puto pelo negócio da Olivia.
— Eu conversei com ele sobre isso e capaz dele pedir desculpas pra você depois, não é culpa sua se voce sempre esteve presente com a gente e ele não, por conta do futebol.
— Mas agora ele tem tempo de sobra e vocês precisam desses momentos pai e filho.
— Tá bom, mas já falei com ele que quero ir com você e ele achou melhor, disse não saber ver imóvel.
— Fico feliz então, filho. — sorri simpática pra ele.
— Te amo, você é dez. — beijou minha testa. – Vou me arrumar agora. — se afastou e eu fiquei no sofá, paralisada, ainda não acreditando em nada do que ele me disse.
