Um apito estridente ecoou no ginásio da escola, sinalizando o final do jogo de futsal cujo o meu time perdeu de 5 a 0. Finalmente a aula daquela professora insuportável acabou, agora eu posso relaxar e tirar essas roupas suadas do meu corpo.
Eu andava em passos largos e rápidos até o vestiário masculino da minha escola pensando "Odeio aula de educação física." Pelo menos tinha um momento de privacidade para me trocar enquanto os outros meninos de 16 anos gritavam e se batiam como bárbaros.
Confesso que faço parte, na maioria das vezes, dessas atividades típicas de um adolescente, mas neste momento eu me contento com a minha privacidade.Eu me olho no espelho para me lembrar quem eu sou. Quase me perfurando com seus olhos castanhos escuros, o homem no espelho é lindo, tem cabelos loiros escuros, que caem perfeitamente no seu rosto complementando suas feições e sua pele clara da cor da areia. Ele parece ter ido à praia recentemente, com queimaduras do sol no seu rosto. Seu corpo é normal, não tão forte nem tão magro, o bastante para ser atlético.
"Nossa, ele é lindo mesmo, ops, sou eu!"*Toc toc*
Batidas na porta da minha cabine me assustam enquanto eu me contemplava no espelho. Me apressei e botei a minha camisa e meus tênis rapidamente para abrir a porta, curioso para saber quem estava por trás dessa batida. Enquanto eu me arrumava, ouvi uma voz falar comigo do outro lado da porta.—Matt? Tá tudo bem aí?—
Ufa. Era Miller, um de meus amigos na época. Quase soltei um suspiro de alívio enquanto abria a minha porta para me deparar com um menino um pouco mais baixo que eu.
Ele tinha pele morena e olhos castanhos. Tinha cabelos pretos e bagunçados que realçavam as maçãs de seu rosto. Vestia uma camisa preta com uma estampa de banda e um jeans preto com vários rasgos e uma corrente pendurada em seus passantes. Usava um par de All-stars de cano alto preto, que finalizava o seu look.
—Eu tô bem sim.—
Afirmei para ele, ainda confuso.
—Que bom, só queria saber porque você está usando uma cabine para se trocar.—
Miller falou, aliviado
—Ah, eu nem pensei nisso direito, só entrei pra me trocar.—
Menti.
Meu pai voltou para casa no dia anterior bêbado, com uma garrafa de vidro quebrada na mão. Minha mãe não conseguiu o controlar, e ele acabou entrando no meu quarto com aquela camisa branca, encardida de molho e bebida e um short preto normal de pai.
Apesar de beber todos os dias, ainda tinha uma boa forma, com cabelo curto e preto, e olhos castanhos, quase laranjas de cólera e sangue. Os músculos de seu braço contraiam com toda sua força enquanto levantava sua garrafa em sinal de agressão contra mim.
Me virei, esperando o golpe com lágrimas em meus olhos quando finalmente me cortou com o vidro em sua mão. Segurei meus gritos de dor e angústia para evitar outro golpe, quando ele finalmente saiu de meu quarto com gritos e insultos, negando ser meu pai e falando que sou sem valor, me trancando para dentro.
Até aquele momento a ferida sangrava e ardia na minha pele, tirando minha confiança a cada toque em minhas costas que tive que fingir naturalidade.
Mas vamos esquecer de traumas, só sei que naquele bendito momento, Miller decidiu que seria engraçado me dar um tapa nas minhas costas, em nome da nossa amizade. Dessa vez, a máscara caiu. Soltei um grito de dor tão alto, que fez o vestiário inteiro se calar. Miller me olhou, surpreso e confuso.
—O que houve? Você tem certeza que tá bem?—
Miller falou enquanto me olhava
—Tenho. Eu to bem sim, você só bateu forte demais.—
Menti de novo, dessa vez com minha voz trêmula.
"Droga" Pensei. Era óbvio que eu estava mentindo.
—Tá tudo bem sim, não se preocupa.—
Falei, me reafirmando.
—Você se machucou? O que houve? Vai, fala logo!—
Miller falou curioso e ansioso para saber o que eu estava escondendo.
Óbvio que não poderia mostrar, se não eu teria que explicar tudo o que aconteceu naquela noite. Então, em desespero, saí do vestiário para o pátio de saída da escola, já que era o último tempo de aula. Miller veio atrás de mim correndo, procurando respostas.
—Matt, o que tá acontecendo com você? Você ficou maluco por acaso?—
Miller falou, genuinamente preocupado.
—Não é nada demais, eu te prometo.—
Eu falei enquanto andava até a saída.
—Matt, nós somos amigos, você sabe que pode me contar qualquer coisa né?—
Miller falava ofegante, andando ao meu lado.
—Eu sei, mas isso você não precisa saber. Não se preocupa.—
Falei, num tom mais agressivo, acidentalmente.
—Então é assim agora, né? Tudo você fala pra sua namoradinha. Sempre que a gente não tá junto, vocês marcam coisas entre vocês e vão ficar sozinhos. Eu tô de saco cheio disso Matt.—
Miller fala com raiva se referindo a Lily, minha melhor amiga.
—Já tô cansado de falar isso, ela não é minha namorada. E a culpa não é minha e muito menos da Lily se você se sente assim. Na minha opinião, você tá sendo dramático, eu e Lily nunca fizemos isso com essa intenção.—
Eu falei, parando para olhar pra ele.
Eu e Lily somos amigos a mesma quantidade de tempo que o Miller, só que nós somos mais juntos por morarmos na mesma rua. Sempre ia a casa dela para conversar e brincar, então logicamente teríamos uma conexão mais significativa do que com os outros, mas isso não significa que estávamos deixando eles de lado, certo?
—Pensa um pouco, Matt. Lembra da sua festa de aniversário desse ano? Não foi nem na sua casa, foi na da Lily, pra vocês dois ficarem juntos quando acabasse.—
Miller falou com raiva e tristeza em sua voz.
Percebi que realmente poderia estar deixando ele de lado.—Isso foi só daquela vez. Mas eu prometo...—
Eu tentei falar quando ele me cortou.
—Lembra de todas as vezes que nós saímos pra jantar juntos? Vocês dois sempre iam embora juntos. E nem vem falar que vocês me convidam pra esses eventinhos pessoais. Se você for comparar quantas vezes eu fui a casa da Lily, nem chega perto de quantas vezes você foi.—
Miller falou, levantando sua voz.
—Então foi pra isso que o Jake morreu? Pra causar drama entre a gente? Muito a sua cara usar a morte do nosso amigo pra causar discórdia, Miller—
Falei em um tom de deboche.
Escapou sem querer, mas não posso negar que é verdade. Desde que o Jake se matou por motivos que só o Miller sabe, ele vem se vitimizando e se afastando de nós também. Acho que peguei pesado demais.
—Você está insinuando que ele se matou por minha causa? Tudo isso só pra eu causar drama entre você e sua namorada?—
Ele fala em um tom de desgosto.
—O mundo realmente gira em torno de você né. A culpa também não é minha se te batem em casa. Você não sobreviveria um dia na minha pele...—
Miller falava com arrogância e lágrimas em seus olhos.
Antes que ele pudesse terminar, fechei minha mão e dei um soco na mandíbula dele. Ele não caiu, mas ficou surpreso pela minha ação brusca.
—Não importa o que você acha, não fala da minha família.—
Eu falei, com a adrenalina do soco ainda no meu corpo.
Me virei e saí andando, arrependido. Não deveria ter feito isso.
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DONT LIKE MY MIND
Mystery / Thriller"Jake Garcia era a luz de nossos dias. Que ele possa descansar em paz." Foi o que eles disseram. Matthew Romano é um adolescente de 16 anos que descobre que terá que fazer grandes mudanças em sua vida em uma semana. Então, como qualquer adolescente...