δύο

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O Palácio de Cnossos ficava em Messara, Creta. O Rei Minos tinha a residência há anos, e morava lá com a sua família. Era uma grande construção que mais se parecia com uma vila própria. Os tons vermelhos, laranjas e verdes predominavam as pinturas nas paredes. Não haviam torres, porém edifícios maiores de um lado, e mais extensos do outro.

Depois de uma longa viagem de horas dentro de um navio, enfim as docas. Quando chegaram na terra nova, todos os ômegas foram transportados em bigas, uma charrete com duas rodas, puxadas por cavalos. Levaram pouco mais de uma hora para chegarem até o castelo, que ficava do outro lado do estado.

Taehyung tinha o olhar vazio ao encarar o solo. Evitava trocar olhares com todos os outros ômegas, na verdade, ninguém se olhava. Não tinha o que observar, não havia necessidade de fazer amizades ou conversar. Ele queria chorar mais uma vez.

Começava a ver os minutos como perdendo a vida. Quando mais o tempo passasse, era menos tempo de vida para si. Lembrou-se de suas mães, sorriu ao pensar o quão boas eram para ele e para elas mesmas. Tinham um relacionamento saudável, que Taehyung sempre admirou e sonhava em ter o mesmo para si.

O mesmo contava para Jimin e Yoongi. Haviam se conhecido e se reconhecido há pouco menos de 2 anos, mas já exalavam o amor evidente. Taehyung se encantava com a paixão, e tinha certeza que a vida de ambos seria regada de felicidade.

Percebeu mais pessoas aproximando das bigas nas estradas e estreitou os olhos para ver que, um pouco mais a frente, lá estava ele: o Palácio de Cnossos em toda a sua glória. Suspirou, mais uma vez. Queria que isso acabasse de uma vez por todas.

— Qual é o seu nome?

Olhou para o lado. Um ômega o encarava sem brilho no olhar, porém o canto da boca retorcido na tentativa de simpatia. O fitou de cima a baixo. Lembrou-se dele ao seu lado no Teatro do Dioniso e no navio para irem até Messara. Não queria amigos prestes a morrer, mas também não teria mais o que perder.

— Taehyung, filho de Sohee.

— Muito prazer, Taehyung. Sou Yejun, filho de Hoseok. — Taehyung apenas assentiu.

Não queria manter o papo para não se afeiçoar. Ele gostava de pessoas, gostava de fazer amizades e jogar conversa fora. Mas não era o momento para isso, ele sabia. Todos sabiam! Menos Yejun, aparentemente. Taehyung questionara-se se o outro ômega sabia o que estava prestes a acontecer.

— Eu tenho 16 anos. — Yejun disse.

Taehyung suspirou. Tão jovem, por mais que fosse apenas 3 anos mais novo que si mesmo, ainda era um adolescente. Certamente não tinha um alfa e estaria longe de achá-lo. Não queria mesmo mais manter a conversa, já estava apiedado.

— Acho que sou o mais novo daqui... — Yejun olhou ao redor das duas bigas. Riu fraco. — Não sabia que eles pegavam ômegas tão novos. — Taehyung conseguiu ver um brilho no canto do olho esquerdo do jovem à sua frente, mas o sorriso continuava estampado. — Mas acho que tudo bem, pelo menos eu conheci você. — Comprimiu os olhos. — Um rosto amigo pode ser bom nessas horas... — as últimas horas, Taehyung queria dizer. — Quantos anos você tem?

Taehyung realmente não queria aquela conversa. Não queria ser amigo desse pobre jovem menino ômega que estava prestes a morrer junto a si. Não fazia sentido forçar sentimentos carinhosos e gentis, muito menos torná-los naturais, uma vez que não duraria muito.

— 19. — Disse simplesmente.

— Oh! — Yejun exclamou. — Você já tem o seu alfa? — Seus olhos brilharam. — Poxa, eu sempre quis encontrar o meu. Ou a minha. Acho incrível como alfa reconhece ômega, com meus pais foram assim, sabe? Meu Appa conta que encontrou meu Omma na rua, estava andando tranquilamente, e então sentiu a pontada positiva no peito, aquela que contam quando ambos estão por perto. Vasculhou por todo o perímetro até encontrar o cheiro que mais acariciava as suas narinas.

          

Suas bochechas estavam rosadas e o olhar vago indicava que a felicidade que tomava conta do seu coração era maior do que a tristeza pelo seu curto futuro.

Uma pausa, então. Taehyung queria chorar por Yejun. Ele era igualzinho a si. Quando adolescente, sonhava com contos de fadas, seu alfa o encontrando em um belo jardim, flores coloridas demais para cegar qualquer abelha que tentasse pegar seu pólen tão cheiroso que acalmava o ambiente ao redor deles. Mas ele sabia que a vida não era um mar de rosas.

Gostaria de poder alertar Yejun do pior e de que nada disso aconteceria, mas Yejun sabia. Não é? O discurso de Yejun era mais uma despedida do que uma nova amizade, relembrando os momentos bons da sua passagem. E Taehyung não queria estragar seus últimos momentos de vida com pesares, enquanto o jovem está tão animado sonhando acordado.

A vida, Taehyung pensara, era, de fato, uma caixinha de surpresas. Lamentos e tristezas, felicidades e animações. Tudo era relativo.

— Minha Appa me conta algo parecido. — Ele sorriu, enfim, e passou-lhe a narrar.

Não demorou muitos minutos para se aproximarem da entrada principal do Palácio de Cnossos. Taehyung desfocou da conversa quando alguns soldados cretenses se aproximaram das bigas. O ômega olhou em volta; o Rei Minos não estava ali.

E nem estaria, Taehyung descobriria depois. O Rei Minos não se juntaria para assistir ou mediar o sacrifício por sua vingança, visto que a culpa era total e completamente dos atenienses, segundo ele.

Do alto de sua torre, na varanda de seu quarto, mais ao longe e na direção da entrada principal, ele observava a chegada dos ômegas. A única coisa que tinha que fazer questão era que a oferenda havia sido enviada. Murmurou algo para si e assentiu, recolhendo-se de volta ao seus aposentos.

— Por aqui. — um soldado disse quando retiraram todos os ômegas das bigas.

Eles haviam parado em frente a um dos prédios baixos do palácio, de, no máximo, dois andares. O térreo era repleto de pinturas vermelhas e, quando entraram, não tinha muita gente por ali. Taehyung ouviu falar que tinham desafios em um labirinto tomado por um Minotauro que matava todos os ômegas enquanto tentavam fugir, mas não imaginou exatamente aonde isso seria.

O céu ainda estava claro, achou que o sacrifício se dava à noite em praça pública. À vista de todos decerto não seria, dado que todos os ômegas estavam sendo escoltados pelos soldados para dentro do prédio.

— Vamos, todos em fila. — Um disse mais alto. — Vejam seus números, na ordem. — Taehyung recordou-se do seu 9 e colocou-se atrás de um outro ômega. Yejun estava atras de ti, era o número 10.

O Labirinto do Minotauro encontrava-se no subsolo de uma grande extensão do palácio. Nunca ninguém havia pisado lá. Apenas todos os ômegas que necessitam se oferecer de mau grado à oferenda.

— Ai! — ouviu uma das ômegas na frente exclamar ao tropeçar.

— Cuidado aonde pisa. — Um soldado falou. — Não pode morrer agora.

Taehyung estremeceu. Ignorou a sensação e continuou andando. Viraram à direita e apareceu uma escada extensa, porém escondida. Era longa, e desceram todos em silêncio até uma vasta sala bem aberta com várias portas. No centro, mais uma grande escadaria.

Continuaram descendo por mais 2 lances de longas escadas, cada vez menos luzes naturais e artificiais. O cheiro começava a enojar o ômega que sentia-se tão pequeno naqueles paredes de pé direitos altíssimos com diâmetros quilométricos. Gostaria de saber como tinha tanto espaço assim tão fundo embaixo da terra.

Quando desceram o que parecia ser o penúltimo lance de uma longa escada, avistaram mais uma escadaria na frente, porém no mesmo cômodo. Aos olhos de todos, bem na frente do último lance do escadeiro, havia um labirinto. Ele era alto, e escuro; muito escuro. A luz natural entrava por uma fresta no teto, mas estava longe; muito longe.

Labýrinthus de Knossos | TAEKOOKOnde histórias criam vida. Descubra agora