Joaquín estava atrasado outra vez, mas desta vez foi algo que doeu. Era o aniversário dela e, de todas as outras datas que compartilharam ao longo dos anos, aquela era a única que ele não poderia perder. Todos os anos, eles celebravam juntos na mesm...
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"Se eu pudesse só pegar e largar, então ligaria para ela, porque ela é um drama permanente, ela sabe que vou ligar para ela." — She's My Collar, Gorillaz.
Cinco meses, oito dias e cinco horas.
Há alguns anos, Shel Silverstein escreveu um livro infantil falando sobre um pequeno ser que buscava a parte que faltava em si. Com desenhos que ele mesmo fez, o livro vendeu milhares de cópias e se tornou algo estudado pela psicologia. Na estória, o protagonista passa dias, meses e quase anos procurando a parte que faltava em sua existência. Ele se relaciona com pessoas maiores, menores, algumas o apertavam demais, chegando a sufocá-lo, outras eram tão pequenas que acabam se soltando a todo instante. Nunca foi tão difícil encontrar uma parte perfeita.
Todavia, percorrendo um caminho árduo, a parte percebeu que não existia uma parte perfeita, ninguém nunca iria se encaixar de maneira completa, o restava aceitar que não precisava de nada, era apenas parte completa. Joaquín lembrava-se de ouvir alguém falar sobre esse livro durante a faculdade, nunca teve o interesse de lê-lo, mas a vontade apareceu quando perdeu a parte que o tornava completo. Há cinco meses, oito dias e cinco horas ela havia partido. Mesmo que tivesse dito que não a buscaria, para o bem dela, não foi isso o que aconteceu.
Joaquín se humilhou e de todas as maneiras possíveis. Ligava durante as madrugadas que sentia saudade, durante os dias que se sentia solitário, mandava mensagens a cada nova memória que surgia em frente aos seus olhos, enviava músicas do Frank Ocean que lembravam-no dela, ele estava sofrendo e a morena não fez nada para aliviar a dor. Foi bloqueado em todas as redes sociais, além de estar impedido de mandar mensagens ou conseguir fazer chamadas de voz, ela estava incomunicável, então, ele decidiu que iria visitá-la. De início, o porteiro o deixou subir, mas ela não abria a porta.
Até ser proibido de entrar no prédio.
Contudo, não se deu por vencido. Colocou seus melhores amigos que seguiam a mulher para observarem cada passo, assistiu sua vida por meio de fotos, assim como um dia a observou dormir. Continuou saindo esporadicamente com os amigos que tinham em comum apenas para perguntar como ela estava, torceu para que ela estivesse em uma situação melhor que a sua. Torceu também para ela se arrepender por não ficar e assim, acabasse voltando para os seus braços, mas entendia que ela não mudaria de ideia.
Uma noite de domingo, seu dia menos querido da semana. Geralmente ele se lembrava dela, Lívia sempre estava em sua casa após os jogos de domingo e aquele era mais um dos dias em que chegaria em casa sem ver o sorriso dela no rosto. Lívia nunca comemorou as vitórias do Palmeiras, jamais o faria, mas gostava de vê-lo conquistando o mundo, mesmo que isso a fizesse entrar em um paradoxo estranho. Joaco ainda se perguntava se ela assistia aos jogos como sempre fez, se ainda comemorava os gols bonitos que entregava, esse era o tipo de pergunta que seus amigos não poderiam fazer para ela.
Ela não postava muitas coisas nas redes sociais, sempre foi uma pessoa discreta, mas quando acontecia, seus amigos o mandavam no mesmo instante, a última vez foi a pior delas. Era uma foto bonita em um restaurante uruguaio, o mesmo que visitavam sempre juntos, mas dessa vez não era com ele e sim com outro cara. Aquilo a deixou-o furioso, como ela poderia ter seguido em frente tão rápido? Estiveram juntos por anos e ela conseguiu superar em poucos meses? Não era possível.
