02 | Capítulo: Castigo

142 19 66
                                    


Um lar silencioso e sombrio

02

Kim Sunoo temia muitas coisas em sua vida. Havia entrado em contato com a morte na infância e o trauma era algo que o perseguia como uma sombra. Parado no centro da multidão, ele finalmente notava que essa sombra havia crescido. Tomado proporções fora do seu controle e virado a chave do porão abandonado que eram suas lembranças.

Olhando para o corpo ensanguentado da garota, sentiu esse mesmo pavor característico enmudece-lo. Ele só recuperou suas habilidades mentais quando uma estudante passou ao seu lado, caminhando pacificamente em direção ao corpo. O vento do outono estava úmido e gelado, mas o blazer de uniforme deslizou pelos braços magros e ela cobriu o rosto desfigurado da outra com a peça de roupa. Então ficou lá, parada ao lado do cadáver como uma guardiã.

Não havendo muito o que ser visto, todos começaram a se mexer. Alguns se afastando desinteressados, outros se aproximando para ver melhor. Os professores se reuniram em volta e começaram a dispersar os alunos e confiscar celulares. Segundos depois Jung Ryeobum, o diretor, surgiu com o rosto assustado. Ele limpou o suor da careca com um lenço e parecia estar se controlando para não enfartar, com os olhos mais arregalados do que o normal.

Então Sunoo olhou para a multidão andando de um lado para o outro e correu para longe, com o mal-estar atingindo seus últimos picos de estabilidade. Ele tinha entrado em uma crise de pânico muito longa, de novo. Trancado no banheiro do primeiro piso com o corpo curvado sobre a privada imunda, vomitando a barrinha de cereal e talvez o café da manhã do dia anterior. Ouviu um zumbido em suas orelhas. Seus órgãos ardiam de adrenalina. Ele sentia um medo ácido no fundo da garganta. Um pânico crescente. Respirou profundamente duas ou três vezes, tentando se acalmar. A imagem da garota morta não saía da sua mente. Vinte minutos depois, o garoto saiu do banheiro pálido como um fantasma e com o suor frio acumulado na testa.

A multidão havia se dispersado e alguns alunos tinham ido embora devido ao término das aulas. Podia ouvir o som das sirenes da ambulância e os policiais caminhando nos corredores. Sentiu o celular vibrar no bolso da calça. Era uma mensagem de Jaeyun, perguntando onde ele estava e se tinha visto alguma coisa. Sunoo forçou as vistas para enxergar a tela do aparelho e desistiu de enviar uma resposta. Atravessou os corredores e subiu as escadas em direção a sala do Grêmio, onde havia deixado sua mochila.

Após vomitar, estava se sentindo um pouco melhor. Quando entrou na sala, porém, viu que o vice-presidente conversava em um canto com Cha Miyeon. Ela chorava desesperada, com a maquiagem dos olhos borrada e os fios loiros caindo sobre os ombros. Sehon a acariciava nas costas, sussurrando algo desconhecido. Ele olhou na direção do Kim parecendo desconfortável com a sua presença, mas continuou conversando com a Cha em um tom baixo.

Sunoo sentiu que estava interrompendo um momento importante e não queria ficar mais um único segundo naquele ambiente ferrado. Com a mochila nas costas e as folhas da reunião em mãos, deixou a sala do mesmo jeito que entrou. Em silêncio e de cabeça baixa.

Ele caminhou para fora do prédio, atravessou o campus com seu gramado esverdeado e o longo estacionamento. Alguns alunos se amontoavam ali, conversando em rodinhas e sussurrando uns para os outros. Viu a ambulância deixando as dependências escolares seguida de outros três carros. — uma viatura estava estacionada na última vaga.

Quando finalmente deixou os grandes portões de ferro para trás, o sol dava as caras através das nuvens. A luz deitando-se sobre a frieza de Seogwipo e brilhando nos cinco edifícios cinzentos do colégio municipal.

Ao longe, ele viu que o carro do secretário Choi o esperava do outro lado da rua, estacionado na vaga que lhe era de costume. Com uma breve olhada para os dois lados, Sunoo atravessou na faixa de pedestre e entrou no veículo escuro.

Filhos do Privilégio | ENHA & NWJNSOnde histórias criam vida. Descubra agora