Dupla Dose | O Assassino de Espadas

VIII | OITO DE ESPADAS

1.015 palavras

"Quem não sabe o que é a vida, como poderá saber o que é a morte?"
— Confúncio.

Heitor Salisbury

Ao cruzar as portas, olhares pesados se direcionam e logo se desviam, Oficial Smith se demora mais na ação, se põe de pé e caminha até me encontrar para me entregar uma papelada e segue junto a mim para a sala de interrogatório.

—  Melhor do que o escritório, delegado — sua voz firme ressoa enquanto ela abre a porta — Pode não estar preso, mas ainda é um criminoso.

De dentro da sala, um chiado engasgado imita uma risada, enquanto Smith se afasta, observo Kaleb sentado folgadamente na cadeira de metal.

— Essas são as melhores... — murmura para si mesmo e reprimo a vontade de repuxar o nariz para expressar uma parte do desprezo que sinto por ele — Delegado! Que bom ver você!

— Temo não poder dizer o mesmo, Mason.

— Ah mas o que é isso? Que alma ruim a sua. Sua amiga aqui tá me adorando — Ele lança uma piscadela para Brown que desvia o olhar e quase consigo visualizar a luta interna que ela trava para não acertar-lhe um soco.

— Então ele não foi... — mudo o assunto, ao passo que leio um dos relatórios da emboscada que fizemos — sabe o porquê?

— Ele me deixou esperando, o desgraçado! Deve ter desconfiado, sei lá. Aí ele me mandou essa carta aí — ele aponta para um plástico que Brown detém nas mãos — sua trupe estava caçando alguma coisa, mas não acharam nada.

Brenda me entrega o plástico com a carta dentro, não é um Às como das outras vezes, mas sim um valete.

— O bobo da corte, para alguns — Brenda diz baixo — Milly, da psicologia, considera uma nítida provocação sobre o papel que o assassino acredita que estamos exercendo. Ele é o Rei, somos meros bobos da corte o entretendo. Ele sabia que estaríamos lá, sabia que Mason veio nos procurar. Atrás da carta não está apenas "espero você", é um "espero vocês". Ele imagina que está ganhando.

Viro a carta para examinar a escrita. Há um endereço além do recado, também uma data e um horário.

— Mason é um mero peão, ele quer brincar conosco antes de assumir essa liderança — ela coça os cabelos.

— Estou liberado do serviço então?

— Claro que não, você vai — suspiro cansado — pode ir embora hoje, não suma, ele vai te achar e te matar se não for útil para o que quer que seja que deseje no final. Não quero ver a sua cara ou saber de você até um dia antes do encontro, ouviu? Deixarei mais um policial encarregado por você. Agora saia daqui.

Preditione sempre fora mais agitada que minha cidade natal, apesar disso, ainda detinha de uma estranha paz. Várias organizações se instalaram na cidade, mas nunca mexeram com os cidadãos daqui, nunca colocaram ninguém em perigo, de modo que, antes das ações de Spade’s Killer, sabíamos de menos facções do que realmente há.

Também, antes do reconhecimento dele, os crimes eram bem menos frequentes, porém agora, a energia caótica que acompanha o assassino tomou as ruas e os demais criminosos se sentem empoderados pela presença de alguém imparável — por enquanto.

Os telefones da delegacia tocam constantemente com denúncias de assaltos, invasões domiciliares e outros crimes.
Estamos em estado de calamidade e não estou mais conseguindo conter as autoridades maiores de enviarem o que chamam de agentes especiais para o caso.

— Heitor? — Brown me chama cautelosa.

— Sim?

Ergo os olhos para sua figura, ela se ajeita na cadeira, mantem o olhar fixo ao meu, mesmo quando ajeita os cabelos curtos e cutuca o próprio brinco na orelha.

— Tomei uma decisão arriscada há um tempo, sempre tive ciência disso, mas decidi que iria fazer — ela começa, puxando o ar e eu faço o mesmo, em alerta.

— Brenda o que-

— Por favor, Heitor, me deixe terminar — suas mãos alcançam as minhas e as sinto geladas e suadas — Dediquei minha vida a isso, Heitor. Dediquei a combater o mal, vingar famílias, acabar com a criminalidade. Me dediquei a essa cidade. Só não me dediquei a mim. Estou casada há vinte anos, Heitor, nem sei como ele me aguenta. Antes e depois de nós casarmos, minha vida ainda se resumiu à polícia. Durante todo esse tempo não vivi pro meu marido como ele vive pra mim, não tive uma família, fomos só eu e ele... mais ele do que eu, na verdade... — ela suspira — Você é minha criança, Heitor, e por isso vou contar pra você, faz alguns meses... eu decidi que iria ter uma família de verdade, que ia ter um propósito além disso aqui, sabe? E eu tô enrolando tanto assim pra te dizer que eu tô grávida, Heitor...

Em dada parte de sua fala, imaginei o que viria a revelar, mas certamente não esperava que realmente estivesse certo. Meu mundo para mediante a tamanha felicidade, os olhos de Brenda brilham com lágrimas e um sorriso contido porém temeroso está presente em seus lábios. Sei o que ela pensa.

Tem medo de não ser apoiada, a gravidez nessa idade é frequentemente criticada por ser cheia de riscos, e pode nem mesmo ir para frente, mas sei que a policial se cuida e acredito piamente na decisão dela.

Ela é minha segunda mãe, vou apoia-la até no mais profundo abismo.

— Brenda... eu posso dar a primeira farda dele? — Seus olhos transbordam e ela levanta da mesa seguindo diretamente até mim e me abraçando — ei, calma. De quanto tempo você está?

— treze semanas... só cresceu um pouquinho, mas achei que fosse reparar... mas você é meio tapado, todos nessa delegacia são. Mas aquela sua menina percebeu quando veio aqui, ela me disse que estava com uma energia de grávida.

— Talia percebeu?

— Sim... Heitor, sei que não falei muito sobre ela, mas...

— Vou perguntar a ela, Brenda. Vou saber dela.

— Jones me falou... eu imagino que ela seja uma boa menina, mas vou te pedir para ter cuidado tá bem? Você vai entender melhor depois...

Não quero continuar falando sobre Talia antes de saber dela, por isso, troco de assunto e pergunto coisas sobre a criança de Brenda, que percebe minha atitude, mas não confronta e aceita que eu conduza da minha maneira.

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O passado de Talia logo vai ser descoberto por nós, gostaria de saber o que vocês pensam que pode haver nele. Me contem!

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Até a próxima.❤️