Capítulo 22

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• Maiara Pereira •

Quatro anos depois

Felipe: Esse feio. Não gosto. — Felipe se referiu ao avião azul de plástico, que o seu avô de consideração colocou sobre a falsa pista de pouso. — Esse! — Apontou para a miniatura de cerâmica de um Boeing 777 quase sagrada, que Nero não deixava ninguém tocar.

Nero: Esse pode quebrar, Lipe. Pode te causar um dodói — alertou.

Felipe: Não vô quebrar não! — prometeu. Só precisava insistir mais um pouquinho, Nero Baltazar era rendido pelo pequeno Felipe Pereira. — Se fizer dodói, só passá pomada, Nenê!

Maiara: Filho, se o Nenê disse que não, é não — interferi enquanto organizava a enorme bagunça da mesa do escritório. Eram papéis para todo lado.

Nero: Promete que vai ter cuidado? — perguntou ao teimoso, cedendo.

Realmente não tinha opinião nenhuma. Era engraçado.

Felipe: Sim, sim, sim! — confirmou dando pulinhos.

Nero: Então tá. — Pegou a miniatura nos nichos da estante de livros. — Sente-se no tapete.

Meu filho, descalço e vestido no seu conjunto favorito estampado dos personagens da patrulha canina, se sentou, visivelmente empolgado e com os olhos brilhando. Juntei a última pilha de papéis e parei para observar como Lipe segurou com cuidado o objeto em suas mãos pequeninas, compreendendo que era frágil. Circulei a mesa e parei ao lado do meu chefe que se sentou em um pufe baixo de couro.

Maiara: Nenê, a sua consulta de retorno com o psiquiatra é daqui a duas horas.

Ele odiava as consultas, mas os seus episódios de esquecimento, mesmo que em um longo espaço de tempo entre um e outro, eram assustadores. Fui capaz de o convencer. O acompanhamento regular era essencial, e eu estava ali quase sempre, para perceber qualquer sintoma adicional ou mudança abrupta de comportamento.

Nero: Se não me lembrar, sabe que vou me distrair e esquecer, não sabe?

Maiara: Claro que irei lembrar, sempre te lembro. Onde está o seu celular?

Parte da sua rotina era monitorada por alarmes em seu aparelho de telefone, mas ele passou a rejeitar o pobre aparelho que de nada tinha culpa, e quando se lembrava de pegá-lo, nem bateria tinha mais. Tinha urgência em falar com o grande Nero Baltazar? Precisaria ligar em seu telefone fixo.

Nero: Em algum lugar — respondeu.

Balancei a cabeça e sorri com o canto dos lábios, já conhecendo sua tática para me enrolar.

Maiara: Filho, vamos comigo para a cozinha e deixe o Nenê descansar.

Felipe: Ah, não, mamãe... — resmungou, unindo os lábios em um bico.

Poderia dar uns tapas em quem havia ensinado a palavra não para o Lipe.

Nero: Mai, estou completamente descansado. Vá fazer o que precisar fazer e deixe o pequeno aqui comigo. — Se opôs.

Maiara: Tem certeza?

Nero: Absoluta.

Maiara: Vou bater dois bolos bem rápido.

Felipe: Hum... bolinho — Felipe se intrometeu, me lembrando de que sempre estava atento a todas as conversas, mesmo que parecesse estar concentrado em suas atividades.

A parte que me faltavaOnde histórias criam vida. Descubra agora