Capítulo 7

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Jane Cordero

Passamos o resto do caminho em silêncio, cada um encarando a sua frente. Na verdade, estou usando o meu campo de visão a meu favor e observando discretamente ele dirigir.

Ele tá dirigindo com uma mão só...

Fico tão distraída com a vista que só percebo que chegamos quando ele sai do carro, sai rapidamente antes que ele abra a porta para mim.

Entramos na casa na árvore, ele acende as luzinhas e nos sentamos um de frente para o outro.

Silêncio.

Como entrar nesse assunto?

Já sei.

– O que exatamente você ouviu para achar que nós somos irmãos?– olho atentamente em seus olhos.

Ele abre a boca e depois fecha, hesitando antes de responder.

– Minha mãe falando que ele devia tratar melhor a filha dele e ele dizendo que você– aponta para mim– não é filha dele.

– Aaaah... Sua mãe nunca te contou nada?

– Não... E... o que você tinha pra me contar?

– É verdade– suspiro –, quer dizer, a parte de eu ser filha do Guilherme, não a parte de que nós somos irmãos.– quando digo isso o brilho parece voltar a seus olhos– Minha mãe teve um caso com ele anos atrás que me gerou, eles tinham um passado. Minha mãe me contou tudo ontem, eu ainda tô processando.

– Uau, nossa. Tá, e o restante? Por que não somos irmãos? Eu fui adotado e não tô sabendo?

Solto um riso.

– Não, você não foi adotado. Na verdade, você é filho biológico do meu pai– fecho os olhos, me confundindo –, o Michael.

Ele arregala os olhos ao mesmo tempo que sorri, é engraçado.

Sei que essa felicidade não é só por causa do Michael.

– O Michael é um ótimo pai, melhor que o Guilherme, até pra mim.

– Um pai maravilhoso, eu sempre vou ver ele como meu pai independente de tudo, a verdade é dolorosa...

– É... Nossa, sinto muito. Ninguém merece o Guilherme como pai.

– Pois é...

A tensão no ar trouxe um pouco de silêncio.

– Parando pra pensar... É.– ele solta um riso– Temos um irmão em comum mesmo que não sejamos.

– Nossa é verdade.

Rimos juntos com essa descoberta.

Ele está se referindo ao meu, quer dizer, nosso irmão mais novo, o Maven, que é filho da minha mãe e do nosso pai.

– Posso confessar uma coisa meio óbvia?– meu coração se acelera, já imaginando o que ele vai falar, assinto. – Eu tô muito feliz e aliviado de saber que não somos irmãos.– diz me olhando atentamente e meu coração acelera mais ainda.

Ficamos nos encarando, eu sem coragem de fazer e falar nada.

Nossos olhares começam a alternar entre lábios e olhos. Meu coração parece que vai sair pela boca.

De repente a única coisa que passa pela minha mente é beijá-lo. Continuo parada sem coragem de fazer nada.

A frase que minha mãe sempre diz quando quer fazer algo invade a minha mente: "só se vive uma vez".

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Tomada por uma coragem que desconheço, fecho os olhos quando puxo a gola de sua camisa e selo nossos lábios.

Fico parada esperando ele corresponder, vamos ignorar o fato que é porque não sei beijar.

Seu braço me abraça pela cintura, me puxando um pouco para mais perto. Nossos lábios entram numa dança sincronizada e eu aproveito cada segundo.

Com a minha mão livre, descanso meu braço por trás de seu pescoço. Nossos pernas se entrelaçam, nossos joelhos parecem elétricos.

Me sinto a pessoa mais feliz do mundo.

Sua língua pede passagem suavemente e eu a deixo passar, encaixo meus movimentos nos seus.

Obrigada tutoriais do YouTube por me ensinar como corresponder nesses momentos.

Não consigo conter a vontade de sorrir, eu ficaria assim por horas.

Nos separamos quando ficamos sem fôlego, com as testas encostadas aproveitando a vista.

– Eu esperei tanto tempo por isso, Solzinho.– sem saber o que responder apenas continuo sorrindo.

Abelhas invadem meu estômago.

[...]

– Como foi o encontro hoje, filha?– mamãe entra animada no quarto depois de bater na porta.

Largo o celular na mesinha de cabeceira e me sento na cama, com um sorriso enorme no rosto. Mamãe se senta à minha frente.

Comecei a lembrar de todos os detalhes e meu sorriso sumiu.

– Quando a gente tava no restaurante, bem na hora que eu ia contar tudo pra ele, cê acredita que a dona Laura apareceu.

– Ah não.– fez cara de desgosto – E aí?

– Ele disse que a gente tinha umas coisas pra resolver pra nos tirar daquela situação. E ainda, mãe do céu, ele pagou a conta quando eu fui ao banheiro.

– O Michael fazia isso nos nossos primeiros encontros, o Pedro deve ter aprendido com ele. – ela sorriu orgulhosa – E depois?

– Ele me levou pra casa na árvore, eu contei tudo pra ele...– pausa silenciosa – Rimos quando percebemos que temos um irmão em comum, ele confessou que ficou feliz e aliviado quando descobriu que não somos irmãos e ficamos nos encarando...

Me olhou com a sobrancelha levantada.

– Sabe aquilo que você fala que só se vive uma vez?– ela assentiu – Eu tava com vontade de beijar ele...

– VOCÊ BEIJOU ELE!?– seus olhos brilhavam e em seu rosto estava um sorriso genuíno, assenti envergonhada – E como foi? Você gostou?

– Eu quase não saí de lá.– falei cobrindo os olhos com as mãos.

Ela me olhou com os olhos arregalados.

– Aconteceu mais alguma coisa?– dessa vez foi eu que arregalei os olhos.

– NÃO, não. Relaxa mãe, ainda é muito cedo pra isso...

Uma batida soa na porta e depois Maven a abre.

– Ah, que bom que vocês estão juntas. Eu quero contar uma coisa, compartilhar um segredo.

– Senta aqui. – mamãe foi mais para a ponta da cama e bateu no espaço entre nós.

Ele se sentou entre nós e inspirou profundamente.

– Eu nem sei como começar...

– Só fala de uma vez. – soltei, curiosa.

– Eu... tô gostando de uma pessoa...– ele disse encarando o chão.

Arregalei os olhos, animada:

– Deixa eu adivinhar, Thomas?– o filho da Nicole, a melhor amiga da mamãe.

– Como cê-cê sabe?– ele parecia surpreso.

– Ah, Maven, pelo amor. Vocês vivem grudados, era meio óbvio.– falei dando de ombros.

– Sério?

– É, até eu percebi e olha que eu sou meio desligada das coisas. Mas assim– mamãe olhou para mim e depois voltou seu olhar para ele, e segurou em suas mãos –, você sabe que tem nosso total apoio, né?– ele assentiu.

– Eu sei e é muito importante pra mim, obrigado, mesmo.

Mamãe nos juntou em um abraço triplo.

– Eu amo tanto vocês, meus bebês.– eu e Maven rimos juntos.

– Nós também.

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