capítulo 16- "O habitual já é mais do que consigo aguentar"

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Eris

Merida volta da cidade ao fim da tarde, enquanto estou observando a imensidão de Velaris.
Quando ela sai do banho, se senta ao meu lado, na poltrona, comentando algo sobre minha indevida caminhada pelo quarto.
      Simplesmente não consigo evitar a inquietação que se estende por meu corpo. Se ficar mais alguns dias deitado, vou me matar. Não posso ficar sem fazer nada, nem mesmo ler me entretém. Como se já não estivesse bagunçado o suficiente, pelo futuro incerto de meu plano, ela ainda jogou uma bomba em meu colo e saiu andando.

Realmente. Como minhas intenções me tornam sequer um pouco diferente de meu pai? No final, ele também é apenas alguém atras de seus objetivos. Alguém que elimina qualquer coisa em seu caminho.

O Fim é justificado pelos meios, afinal?

estou eu, apenas sucumbindo a aquilo que se chama de tradição familiar? Eu seria mesmo diferente de meu pai? Quando testado, Eu reagiria diferente, ou cederia ao DNA?

o DNA de um monstro. Meu pai é um monstro. Filho de monstro, monstrinho é...

-Eris....? - merida coloca a mão na minha, e a encaro, voltando a realidade. - esta tudo bem?

- Sim, Tudo. Por que?

- Você estava parado a tipo, uns dois minutos. No que estava pensando?

Estou apenas refletindo amor. Estou pensando se você agora, tem medo de mim. Se você vai sonhar comigo apertando sua garganta ou a afogando no travesseiro enquanto dorme. Estou pensando se algum dia você tentará me matar por medo de que eu tente te matar. Estou pensando se devemos temer um ao outro.

- um monte de besteira. Um monte. - ela assente, arrumando a postura.

- quero pedir desculpas pra você. Pelo que disse mais cedo.

- Tudo bem.

- Não tenho medo de você Eris. Nunca. Sei que não faria nada contra mim. Apenas sinto medo, Eris. Medo do que tudo isso vai fazer com você.

- tem medo que eu mude?

- tenho medo do que vai acontecer com o Meu Eris. O eris que me leva pra jantar e dança comigo. Aquele Eris que sorri toda vez que vê uma borboleta e que me levou pra ver o por do sol na porra da corte primaveril, mesmo com um preço sobre a própria cabeça. Não quero que você se perca de mim. Não quero me perder de você.

- Eu to aqui... eu sempre to aqui, Meri. - ela assente com a respiração descompassada, e sorri quando me inclino e deixo um beijinho na mão dela- Quando eu terminar aqui - aponto pra meus machucados - levarei você pra aonde quiser. Eu prometo.

A conversa parece a satisfazer pelo momento. Ela se levanta animada comentando algo sobre o jantar. Aceno positivamente, e ela deixa um beijo em meus lábios antes de sair.

[...]

Merida

Demoro a voltar da cidade. Compro alguns chás, e passo por algumas lojas procurando o doce preferido de Eris, afim de animá-lo um pouco.
Ele tem se recuperado bem, e apesar do que diz, sei que não tem intenção de desistir de sua vingança. Honestamente, isso me preocupa bastante. Não fisicamente, sei que Eris é um ótimo lutador, e de todas as batalhas que já presenciei, ele se classificaria em um dos guerreiros mais ageis e habilitados para a tarefa. Oque me preocupa é o quanto isso afetará sua mente.
Eris sempre foi muito independente, inteligente e habilidoso. Mas quando se trata de questões familiares, ele é completamente imprevisível.
Não sei como reagiria caso algo acontecesse com sua mãe, e deus nos livre, com o irmão.
Lucien é um tópico sensível, talvez mais que o resto. Ele se culpa demais pelo que aconteceu ao irmão, e o ama, apesar de fingir a todos que não.
Encontro o doce na terceira loja, e compro bem pouquinho, afinal o estomago de Eris ainda esta sensível. Ele tem contusões por todo o corpo, marcas de pancadas e areas machucadas por toda a extensão do abdômen costas e braços. Posso presumir, que foi atingido variadas vezes na barriga pelo oque ele afirma ter sido um taco. Dias e lugares diferentes, mas sempre o mesmo objeto.
O corte extenso bela bochecha é oque mais tem cicatrizado bem, não passando de uma marca avermelhada. Enquanto caminho pra casa, recapitulo tudo oque aconteceu nas últimas semanas, e anos, e uma memória em específico, me segue, por todo o caminho da volta.

Depois de meses de flertes e amor até a madrugada, Eris me convidou pra um jantar.

Comemoramos meio ano juntos.

Depois de um jantar em um dos restaurantes mais chiques da corte crepuscular, Eris me tira pra dançar, enquanto toca uma música lenta.
Nossos corpos colados e em sincronia se movem pelo salão,  apenas mais dois apaixonados, em meio a tantos casais.
Mas a forma como ele me olha, faz tudo parecer especial.
Os olhos verdes e brilhantes me encaram, a mão acaricia minha cintura levemente, enquanto a outra segura a minha.

- Você está linda essa noite. Mais do que o habitual. E o habitual ja é mais do que consigo aguentar.

- você não esta de se jogar fora também.

- Me sinto lisonjeado de sequer falar com uma criatura tão linda como você.

- Você é um homem de muita sorte mesmo.

- Eu diria que em relação a algumas coisas sim.

sorrio pra ele, que sorri pra mim de volta, e colamos nossas testas, fechando os olhos.

-Eu adorei o jantar Eris. Adorei tudo. Foi mais que perfeito. - ele apenas assente com a cabeça, e deixa um beijinho em meus lábios.  Um beijinho apaixonado.

É como tudo oque ele faz soa. Apaixonado. E é como estou também.  Apaixonada.

Apaixonada por tudo oque esse homem é. Cada pedacinho.

- Tenho que te dizer uma coisa muito importante. - ele murmura pra mim, como se fosse um segredo.

- Pode falar - acaricio os cabelos ruivos dele, enquanto dançamos lentamente, a música calma nos guiando.

- Eu te amo, Merida.

abro os olhos e encaro os dele já abertos, e ele me encara, como se quisesse gravar a frase em si mesmo, pra que eu possa reescuta-la, toda vez que olhar pra ele.

Meu coração bate forte no peito, e ele repete:

- Eu te amo, Merida. Mais do que amei qualquer um nesse mundo. Mais do que amo a mim mesmo. Eu te amo.

Não consigo conter o sorriso, e o abraço forte.

-Eu também te amo Eris.

Também te amo.
o sinto me abraçar forte também, e sorrio, agradecendo ao universo por isso.

Ele me ama, e eu o amo também.

Meu ruivinho me ama.

o alívio recai sobre mim. Ele me ama. E ele me disse.

Voltamos a dançar,  agora mais colados um no outro. Sentindo o cheiro, e a sensação de nossos corpos juntinhos.

Gravo as palavras e esse momento no fundo de meu coração. A lembrança que brilhará em mim por muito tempo.

eu o amo e ele me ama

Quando abro a porta, a princípio não o vejo. Após alguns passos pra dentro do quarto, avisto sua sombra na varanda. Quando me aproximo, ele estende os braços, e me sento em sua perna boa, e ele abraça minha cintura, me puxando mais pra perto.
Não precisamos de palavras, por que já dissemos tudo oque precisávamos. Ja sabemos oque um quer dizer ao outro. então ficamos em silêncio, por minutos. Ele me beija, e eu o beijo, e ele volta a ser apenas Eris. Não lutador. Não diplomata. Apenas Eris. Apenas o meu Eris.

 Apenas o meu Eris

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