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𝙎𝘼𝘽𝙄𝙉𝙀 𝙇𝙀𝙃𝙈𝘼𝙉𝙉

- O Tom? Aquele da Tokio Hotel? Ah... Ele é legal, mas não faz o tipo de garoto que eu gosto - Escutei o meu eu do passado na TV dizer.

Estava dentro do camarim vendo uma entrevista que a Starlit Horizon deu a alguns anos atrás. Nessa entrevista, em específico, já estávamos nos tornando conhecidos mundialmente por causa da nossa música. Sendo cotados para shows em diversos lugares do mundo, em especial, no Brasil e na Alemanha, onde tínhamos os fãs mais empenhados que já vi.

- Fala para a gente, você talvez viveria um romance com ele? - A repórter perguntou.

- Eca! Não, eu nunca iria gostar de alguém como o Tom Kaulitz! Aliás, por qual razão vocês vivem me perguntando isso, hein? Vocês querem mesmo saber sobre a minha vida amorosa que não existe?

A graça tomou o meu rosto, deixando uma genuína gargalhada escapar. Acabei me recordando que eu não tinha um filtro do que falar e do que não falar naquela época, bom, eu aposto que eu até tinha, mas havia momentos em que apenas dispensava a sua utilidade.

- Eu acho que vocês deveriam falar sobre o meu som, minhas músicas, minha voz, minhas canções, coisas desse tipo! Vocês deveriam falar sobre o meu trabalho, não deveriam estar tão fixados em algo que não existe e que nunca irá existir!

Eu realmente repudiava Tom Kaulitz.

Não era por mal, mas sim porque sabia das suas composições e conhecia a sua fama de mulherengo, mesmo sendo muito novo para ter tal reputação. Naquela época, o que eu mais odiava, o que mais me fazia odiá-lo, era a sua exposição para a mídia, todo aquele show que ele fazia para ela. Odiava o modo que ele vivia, odiava o modo que se comportava, odiava o jeito dele de falar...

Tudo que existia em Tom, já era motivo para ter deliberadamente o meu ódio.

- Esse seu "nunca" acabou envelhecendo muito mal, não é, Bine-Bine? - Escutei a voz de Tom quando ele entrou no camarim. Peguei o controle de maneira imediata, desligando rapidamente a televisão.

- Cale a boca! - Mandei, levantando do sofá e indo até a bancada onde tinha as bebidas, o homem nem escondeu que a sua verdadeira intenção era ir no pequeno bar que foi montado ali - O seu camarim é tão esquecido que não colocaram isso?

- Colocaram, mas acabou muito rápido - Informou rindo, colocando dois shots de vodka e entregando um na minha mão.

A minha curiosidade tola acabou me vencendo, me fazendo cheirar a bebida alcoólica, sentindo o seu odor forte passar pelas minhas narinas e abater o meu corpo com a momentânea sensação de espancamento. Meu cérebro tenta reconectar-se comigo novamente, endireitando a minha visão turva e separando o meu nariz daquela fragrância.

O sorriso provocativo de Tom chamou a minha atenção.

- Você é burra? - Ele perguntou, o encarei com indignação - Não se cheira vodka, Bine-Bine, apenas bebe e vai para o próximo shot

Revirei meus olhos com a sua brincadeira que beira a infantilidade, porém, já estava acostumada; me acostumei com todos os detalhes que envolviam Tom Kaulitz.

Peguei o copo e virei rapidamente, engolindo de forma tão brutal que nem tempo deu para o sabor forte do líquido se espalhar pela minha boca. Consegui sentir ele descendo pela minha garganta, queimando o interior por onde passava, instaurando o calor no meu estômago e fazendo meu corpo bambear pela mais nova descoberta maléfica.

- Gostou?

- Sinceramente? Não sei como isso acabou tão rápido, os meninos são alcoólatras ou algo assim? - Debochei.

- Não vi eles o dia todo, mas aquelas garotas, hum, eu não faço ideia - Ele disse, o olhei, mais rápido do deveria.

Tom, manteve o sorriso ladino no rosto, mesmo com sua boca entrando em contato com outro shot da bebida.

- Não me diga que levou as pobres coitadas a terem cirrose - Brinquei, disfarçando o verdeiro timbre da minha voz naquele momento. Sabia o que estava sentindo, só que era muito mais intenso que o normal.

- Não faria isso, elas eram muito boas para estarem mortas por algo tão descuidado assim - Rebateu, se levantando e indo em minha direção, ficando na minha frente. Ele fixou os seus olhos em mim, buscando no fundo da minha alma algo que indicasse que sua brincadeira deu certo, que despertou alguma coisa em mim, e ele achou - Está com ciúmes, não é, Bine-Bine?

- Esse apelido continua ridículo, Kaulitz.

- Mudar de assunto não te ajuda muito - Seu sorriso aumentou - Não tinha garotas, Lehmann, mas eu queria que tivesse uma.

Desvencilhei a minha atenção de Tom, enquanto meu coração se tornava uma bateria tocada de maneira sobrenatural; parecia que a guitarra e o baixo faziam festa em meu estômago, mas eles não estavam em completa harmonia como deve ser, estavam eufóricos, desajustados, desafinados, causando algo indecifrável. O vocalista da minha mente com toda certeza cantava em desespero.

Escutar as últimas palavras do guitarrista, não deve ter feito bem para a banda que eu nem sabia que existia dentro de mim.

- É sempre tão receptiva assim? - Ironizou, iria retrucar a sua provocação, mas ele me cortou - Sabine, não somos mais crianças e nem adolescentes, você e eu vamos nos desligar dos palcos, o nosso show para as câmeras irá acabar por aqui. Tenho certeza de que ninguém tá interessado em saber o que a gente faz quando as luzes se apagam, porque, sinceramente, não é nada de outro mundo. Porra, para com essa barreira toda vez que eu tô perto de chegar a algum lugar contigo.

No automático, quase o mandei parar de maluquice e negar a sua última análise. Mas, logo depois de esperar os sentimentos furiosos conflitantes cessarem, minha vontade era unicamente de concordar com as suas palavras e fazer delas a minha própria verdade, aceitar que sempre foi dessa forma.

Muralhas sendo erguidas, barreiras sendo colocadas, interdições que nem eu mesma sabia o motivo.

Sempre foi assim, até mesmo quando namorávamos era dessa forma.

- ... Você tem razão, Kaulitz, completa razão - Falei, observando seus olhos transbordarem de alívio silencioso.

A calmaria se instalou em meu coração, estranhamente, de forma quase instantânea, os barulhos que escutara desde sempre começaram a diminuir, deixando o ambiente com o seu som quieto natural.

Puxei Tom para um abraço caloroso, sem motivos e explicações para isso. Sentia que a minha mente estava descobrindo algo novo e que estava deitando em confusão, mas enquanto Tom estivesse naquele mesmo local que eu, não estaria descobrindo algo sozinha.

𝐍𝐄𝐕𝐄𝐑 | ᵗᵒᵐ ᵏᵃᵘˡⁱᵗᶻOnde histórias criam vida. Descubra agora