24 de Agosto de 2014, Quinta-feira.18:30 PM
Virei mais uma folha.
Estava quase chegando no capítulo onze do livro que eu lia quando comecei a ouvir vozes vindo de algum lugar da casa. Suspeitei ser papai e tio Peter jogando na sala de estar, os dois estavam juntos a tarde inteira já que a mamãe havia saído para resolver alguma coisa.
Ela estava estranha esses dias, parecia avoada e ansiosa. As vezes eu a pegava sussurrando algumas coisas enquanto segurava seu precioso relógio, mamãe o tinha desde sempre, falava que era uma herança de família. Mesmo com meus questionamentos, minha mãe nunca me deixou toca-lo, seu cuidado com o objeto era extremo. Nunca ousei desobedece-la, também não gostaria que pegassem algo importante para mim sem a minha permissão.
Quando percebi a insistência das vozes, a curiosidade bateu mais forte. Decidi checar a situação.
Coloquei o marcador na página em que eu estava, me levantei, fui até a porta, e a abri, saindo do quarto. Conforme eu caminhava pelo corredor, o som foi ficando mais claro e alto. As vozes, na verdade, não transmitiam diversão ou alegria, estava mais para preocupação e ansiedade. Isso me fez ficar um pouco confusa, algo deveria ter acontecido.
Desci as escadas e fui até a sala, me deparando com papai andando de um lado para o outro enquanto falava com alguém no telefone, e meu tio Peter sentado no sofá enquanto tinha vários papeis em seu colo. Ambos pareciam nervosos com algo, o clima do local estava péssimo de alguma forma.
— Tem certeza que ela não passou por aí? Não encontrou sequer um rastro? — Meu pai jogava seus cabelos para trás, ele transmitia angústia. Sua voz era trêmula e o mais velho não conseguia ficar um segundo parado.
Os olhos de meu tio passavam rapidamente por cada linha escrita nos papéis, era como se estivesse apressado para encontrar algo.
— Não, eu não sei! Sophie saiu a horas e não voltou, não responde a nenhuma mensagem — Papai se apoiou na parede e ficou quieto por alguns segundos — Nós precisamos achar ela, por favor, tente procurar mais afundo. Sophie não pode estar muito longe. — Era visível um tipo de dor em sua voz.
O que havia acontecido com a mamãe?
Me dirigi até tio Peter que rapidamente percebeu minha presença, assisti seu olhar alternando entre mim e seu irmão, ele parecia apreensivo, mas logo abriu um pequeno sorriso amigável.
— Precisando de algo, pequena? — Tio Peter perguntou, deixando os papeis de lado.
— O que está acontecendo? Por quê papai está assim? — Estava curiosa e ainda confusa.
O homem hesitou um pouco, suspirando antes de qualquer palavra que poderia ser usada como resposta. Estava achando tudo estranho, mas estava se tornando claro aos poucos.
— É apenas um problema que seus pais tiveram, mas já, já está sendo resolvido. Não se preocupe. — Ele deu batidinhas no topo na minha cabeça.
— Mas o que aconteceu com a mamãe? Onde ela está?
O mais velho me encarou demorado, como se pensasse. Algo havia acontecido de fato, mas não queriam me dizer.
— Não precisa se preocupar, hum? Logo sua mãe estará de volta. — Ele responde. — Agora, por que não vai passar um tempo com o seu irmão? George não está muito bem, seria melhor deixa-lo trabalhar, não acha? — Tio Peter diz com delicadeza.
Não estava nada segura disso, não sei o que houve com a mamãe, mas não me cheirava coisa boa. Decidi que seria melhor obedecer meu tio.
Assenti e dei as costas para os dois, subindo as escadas novamente e indo em direção ao quarto do meu irmão. Ao chegar, dei três batidinhas seguidas.
— Dorminhoco? — Chamei.
— Entra! — Ouvi a voz do pequeno que vinha de dentro do cômodo.
Abri a porta me deparando com Benny agarrado ao seu pelúcia enquanto estava sentado no colchão de sua cama. Dei um leve sorriso ao entrar, fechei a porta novamente logo em seguida.
— Tudo bem por aqui, irmãozinho? — Tentava demonstrar naturalidade, mesmo com a angústia que crescia cada vez mais em meu anterior.
Ele assentiu com a cabeça.
— Você também está ouvindo a faladeira lá em baixo? — Benny perguntou, parecia ansioso.
— Sim, estou. Fui lá em baixo checar, não se preocupe, é apenas papai e tio Peter atarefados com algumas coisas da empresa. — Não gostava de estar fazendo isso, mas não queria meu irmão com a mesma angústia que eu.
— Ah, certo... — Benny deu de ombros.
— E então? O que estava indo fazer? — Tentava dar uma descontraída.
— Estava indo dar um cochilo, na verdade. Você pode contar uma história para mim? — Como sempre fazendo jus ao seu apelido.
— Claro que sim, dorminhoco — Reforcei meu sorriso — qual vai querer hoje?
— Hm... — Ele levou a mãozinha ao queixo, pensativo. — O ratinho, o morango vermelho maduro e o grande urso esfomeado?
— Uau! É uma boa escolha. Vou pegar, se ajeite na cama. — Fui em direção a prateleira de livros.
VOCÊ ESTÁ LENDO
ACORRENTADOS: ATÉ QUE A ÚLTIMA NOTA SEJA TOCADA - LIVRO 1 -
Mystery / Thriller⚠️EM REVISÃO⚠️ "Ela apenas queria viver, enquanto era carregada de emoções. Ele virou refém do tempo, vivendo em um espiral sem fim." A morte de Sophie Bettencourt trouxe uma drástica mudança nas vidas dos irmãos Charlotte e Benny, sendo praticament...