Testamos o Irineu mais algumas vezes, porém sem sucesso. Até Melissa tentou ajudar olhando as configurações do sistema, mas de acordo com ela estava tudo certo. Eu queria entender pelo menos alguma coisa do que eles estavam falando para poder ajudar. Senti pena dos meninos, que mais um dia saíram daquela reunião sem boas notícias.
-- Vai voltar de ônibus hoje? — Thomas me perguntou.
Melissa já tinha ido embora porque sua aula já estava acabando, e ela precisava voltar para responder à chamada e não levar falta. Dênis e Luís tinham acabado de sair para conversar com o orientador deles para ver o que estavam fazendo de errado. Eu até queria aceitar, mas se Thomas e Melissa namoravam, eu não queria ficar no meio deles e atrapalhar.
— Você não precisa ir comigo... Eu posso ir sozinha. — Falei ficando de pé e ele olhou para mim confuso. — Não quero incomodar.
— Clara, eu é que estou te incomodando te pedindo para vir aqui passar horas olhando para uma câmera. Esse é o mínimo que posso fazer. — Ele disse de frente para mim com uma expressão séria. — Vamos. Podemos pegar o 7003, que não dá muitas voltas e passa em frente à sua casa.
Ele pegou sua mochila e abriu a porta para mim. Eu não neguei porque no fundo eu queria que ele me acompanhasse, até porque eu ainda não me sentia completamente segura para entrar num ônibus sozinha novamente e correr o mesmo risco da primeira vez.
Assim como na semana passada, o céu estava lindo, porém mais claro com tons alaranjados, já que o sol ainda estava se pondo, e era possível ver os raios por trás das árvores. Não estava mais chovendo, mas era possível sentir o cheiro de terra molhada, que eu amava. O clima estava tão bonito que eu tirei uma foto do cenário quando chegamos no ponto de ônibus.
Esperamos um tempinho até o nosso ônibus chegar. Eram 17:30, o horário que grande maioria dos trabalhadores saiam de seus serviços, e por isso, o 7003 não estava nada mais nada menos que lotado. Quando vi a quantidade de pessoas espremidas naquele lugar eu me perguntei como era possível caber tanta gente, parecia uma latinha de sardinha. Thomas, por sua vez, não pareceu surpreso. Passou o cartão duas vezes para mim e fez sinal para que eu entrasse.
Com muito esforço consegui entrar e seguir Thomas até o único espaço que estava vazio, que devia ter 50cm2. Fiz como ele e segurei o apoio preso no teto para não cair com o ônibus em movimento.
— E você queria voltar sozinha? — Ele disse rindo da minha cara de desespero, então fiz uma cara de brava para ele, o que só o fez rir mais.
Estávamos muito próximos um do outro, de modo que nossas mãos que estavam segurando o apoio no teto quase se tocavam, mas ele não parecia se importar tanto. Eu só pensava que ele era namorado de alguém, e que se fosse Gustavo com outra garota na época que estávamos juntos eu odiaria.
Em algum momento o ônibus freou subitamente, o que me fez ser projetada para frente e quase desequilibrar, mas Thomas me segurou firme pela cintura e acabou nos aproximando mais ainda.
Precisei me apoiar em seu tórax para não cair, e quando olhei para cima vi que ele estava com a boca entreaberta como se estivesse surpreso, não muito diferente de mim.
— Desculpa... — Dissemos ao mesmo tempo nos afastamos um pouco, pelo menos o máximo que conseguíamos para não incomodar as pessoas ao nosso redor.
Eu tive tanta vergonha que nem consegui mais olhar para ele durante o resto do percurso. Melissa era tão simpática... Eu me sentia mal por estar parecendo que estávamos tendo alguma coisa, mesmo que para mim fosse a coisa mais irreal do mundo.
Esse episódio de freadas e desequilíbrios aconteceu mais duas vezes, mas em ambas eu fiz de tudo para permanecer inerte, e eu via que Thomas também estava se esforçando. Aquilo não podia acontecer, pois era errado em várias perspectivas. Eu nem sequer deveria estar ali.
Depois de muitos minutos, ônibus finalmente parou próximo da minha casa e então agradeci a Thomas rapidamente sem muitas palavras e saí o mais rápido que eu pude daquele lugar. Ele não teve nem tempo de reagir de tão acelerada que eu estava.Cheguei em casa afastando todos os pensamentos sem sentido que viam na minha cabeça involuntariamente. Tomei logo um banho morno para relaxar e me deitei, pois estava acabada depois dessa aventura. Não demorou muito para meu pai chegar em casa depois de ter buscado Miguel, mais uma vez com uma sacola, que deveria ser o nosso jantar.
— Como foi seu dia? — Ele me perguntou dando um beijo em minha cabeça quando fui até a porta para lhe dar um abraço.
— Foi cansativo... Mas eu sobrevivi! — Disse.
— Digo o mesmo sobre o meu dia... — Ele falou.
Preparei a mesa do jantar e chamei Miguel, que tinha ido direto para seu quarto, para comermos juntos.
— Miguel? — Abri sua porta devagar e o vi sentado na cama enxugando as lágrimas. Meu coração apertou e rapidamente fui até ele para lhe consolar. — O que aconteceu, meu amor?
Sentei ao seu lado e o abracei apertado na tentativa de amenizar sua tristeza. Só de vê-lo assim me dava vontade de chorar também. Como ele não me respondeu, passei um tempo apenas esperando até que ele se acalmasse para lhe perguntar de novo.
— Clara... — Ele disse e eu olhei nos seus olhinhos vermelhos cheios d'água. — A mamãe vai voltar?
— Claro que vai! — Abri um sorriso para que ele confiasse em mim. — Ela vai só passar mais um tempinho fora, mas logo logo ela volta. Eu prometo!
Voltei a abraça-lo acariciando seus cabelos castanhos claros lisos, assim como os meus. As vezes tenho a mania de achar que apenas eu estou sofrendo, quando na verdade todo mundo passa por dificuldades. E é por isso que devemos escutar e acolher as pessoas a nossa volta. Porque nos lembra que não estamos sozinhos.
— Eu estou com saudades dela. — Miguel disse e deu um suspiro.
— Eu também. — Falei.
Ouvi meu pai nos chamando para comer e logo fomos, depois de dar mais um abraço no meu irmãozinho. Passei o jantar contando, ou melhor, inventando, como havia sido minha tarde na universidade. Basicamente disse que havia ido e voltado de ônibus e que tinha ficado nas cabines da biblioteca estudando sozinha, e meu pai pareceu acreditar.
Depois do jantar meu pai foi lavar a louça e eu fui ajudar Miguel com o dever de casa. Ele era muito inteligente, e nem precisava da minha ajuda, mas eu quis passar um tempinho com ele. Ele precisava de uma figura feminina enquanto minha mãe estava fora.
Antes de dormir resolvi mexer no meu celular, e ao olhar o instagram, vi que havia uma solicitação para me seguir. E era Thomas. Antes de aceitar entrei no seu perfil que era aberto, mas com poucas fotos. Fiquei surpresa ao ver que nenhuma delas aparecia ele, com exceção de uma que ele estava fantasiado com uma máscara do robô de Star Wars junto a Dênis e Luís.
Não havia nenhuma foto com Melissa. Será que eles eram realmente um casal? Claro que eles podiam ser daquele tipo de casal não postava foto junto, ou então podem não ter se assumido. Resolvi ignorar meus pensamentos e além de aceitar a sua solicitação, segui de volta.
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Perdão por um dia de atraso! Minha vida está uma correria ultimamente, mas estou fazendo de tudo para não deixar vocês sem capítulo!
Não esqueçam de votar, meus amores!
Um beijo, querido leitor! 💘
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As Palavras Não Ditas
Teen Fiction+12 | E se, por um momento, tudo o que você achava ser perfeito na sua vida começasse a desmoronar bem diante dos seus olhos? Aquilo que você jurava ser impossível de dar errado te surpreendeu. Clara, em meio à transição para a vida adulta, se vê di...