Sorte, azar e mitologia

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*Gabriela*

Há três anos eu fiz a pior escolha da minha vida. Eu rompi com o homem que eu amava, o homem que com todos era um escroto, e comigo não era diferente, mas tinha amor e afeição por trás de todo esse comportamento medíocre dele

Na primeira vez que tivemos contato eu pensei: "cara, que babaca" mal sabendo que seria o cara por quem eu sofreria horrores e sentiria falta por quase três anos inteiros

Eu demorei, mas consegui superar, e hoje estou em uma missão na qual tem mais importância do que ficar me afogando em vinho e tragando tabaco até tarde da noite. Ah, como eu odeio amar

No momento estou com meu parceiro caminhando pelas ruas de Tókio em direção ao trem bala. Estamos com comunicadores para falar com a chefe

– Obrigada por terem aceitado essa missão tão em cima da hora

– Por nada, chefe. Estamos prontos – Falei com a mão no comunicador

– Eu sou um novo homem. Encontrei uma calma que eu nunca tive – O loiro ao meu lado começou a falar sobre sua nova calmaria, meditação e essas coisas

– Acho que você deveria dizer ao seu terapeuta o que você faz pra viver, joaninha – A mulher falou através da chamada

– Joaninha?

– Seu novo codinome. Você não gostou?

– Você gostou?

– Eu adorei, achei a cara dele – Falei com um sorriso travesso

– Obrigada, Atena. Eu gosto muito também – Ela disse

Além de ser uma mulher que me desse ordem nas missões, Sandra também é minha amiga. Nunca tive muitas amigas, mas Sandra é como uma irmã mais velha

– Bom, se você gostou tudo bem – Ele disse com um rosto meio confuso – Ah, já saquei o que você tá querendo. Joaninhas teoricamente dão sorte, haha-

Ele deu um passo e quase pisou em uma rua com um caminhão passando no mesmo instante. Eu já havia parado de andar um tempo antes

– Já entendi o porquê do nome

Joaninha suspirou

– Você não é azarado – Sandra disse

– Jura? Meu azar é épico. Mesmo quando eu não tô tentando matar ninguém, alguém morre

– Pobrezinho – Falei e ele me olhou revirando os olhos

Os dois continuaram com o diálogo sobre sorte. Joaninha esbarrou em um cara no caminho, logo chegamos nos armários nos quais iríamos pegar os suprimentos

– Vai, abre aí

– Merda...

– Merda o quê?

– Acho que perdi a chave quando aquele cara esbarrou em mim

– A sua sorte é insana

– É, valeu. Qual era o número mesmo?

– Cinco, dois, três

Joaninha abriu um dos armários que continha as coisas que precisávamos à mão mesmo

Relógios, armas, munição e coisas com lâminas. Começamos a guardar o que precisaríamos em uma bolsa

– Cocaína? – Vi ele colocar um potinho com um pó branco na bolsa

– Pó sonífero

– Sério? – Revirei os olhos

– Você pretendia ficar doidona durante a missão?

Não respondi. Pretendia, é claro, mas não seria nada profissional

– Pega a arma – Sandra ordenou para o loiro. Ele não fez

Deve ser algo meio solidário e empático não querer matar, mas é o que fazemos. Empatia não será útil na missão. Ao contrário dele, eu peguei

O trem já estava partindo, corremos para pegar antes que fosse embora. Por pouco conseguimos

– Beleza, entramos

Andamos um pouco procurando onde ficavam as bagagens para achar a mala, até que um carinha japonês nos para pedindo as passagens. Joaninha havia perdido sua passagem junto com a chave, mas tinha um recibo indicando que comprou uma passagem. O homem deixou que ele ficasse por uma parada, já eu entreguei a minha para ele com um sorriso no rosto

Voltamos a procurar a mala, passando por vários vagões

– Melhor a gente se separar – Dei a ideia – Vai ser mais rápido

Ele concordou e seguimos para lados opostos

Caminhei por uns 10 minutos, suspirei por não ter encontrado nada

– Atena, o joaninha já encontrou a mala, pode recuar – Ouvi a voz de Sandra no comunicador

– Ah, certo – Disse dando meia volta

Recuei até o vagão onde me separei de joaninha, não o encontrei lá, mas encontrei algo

– Cacete... – Disse ao ver o homem morto com os olhos sangrando deitado em um acento

Olhei por um tempo, mas logo saí de lá. Quem poderia ter feito isso? Concluiu que haviam mais assassinos no trem, o que faz sentido. Estão atrás da mala

Já estava na primeira parada, lembrei de que joaninha já teria que ir sair, então fui até a porta mais próxima para o encontrar

Ele estava lá parado apoiando as costas em uma parede, parecia desesperado. Andei rápido em sua direção

– Não vai acreditar no que encontrei

– Fala baixo, tem gente com arma aqui

– Eu sei, foi isso que eu-

– Vamos rápido – Ele puxou meu braço e passamos pela porta, chegando em uma parte com luz azul do vagão.

Ainda correndo, esbarramos em uma pessoa, eu acho. Era alguém com uma fantasia de um animal japonês eu acho. A pessoa começou uma batalha pela mala, eu e joaninha puxamos mas o sujeito fantasiado não queria largar. Dei um chute e ele caiu pra trás, soltando a maleta

– Meu Deus. Belo chute

– Valeu. Tem gente aqui atrás dessa mala

– É, eu sei, preciso sair desse trem rápido

Joaninha voltou correndo até a porta e eu fui atrás, joaninha bateu forte no vidro. A porta já havia fechado

– Droga! – Ele socou a porta

– Vamos esperar até a próxima parada e sair logo desse trem

– Tá, mas antes preciso da sua ajuda com uma coisa

Trem bala - Tangerina (ATJ)Onde histórias criam vida. Descubra agora