Prologo

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Marie estava na ala hospitalar, cercada por paredes tão brancas que a deixavam tonta. Vez ou outra, os médicos entravam para examiná-la, observando-a com olhares preocupados que, na realidade, não transmitiam preocupação genuína alguma. Tinham dito que ela estivera em coma por mais ou menos duas semanas.

Faziam alguns dias desde que ela acordara. Permitiam que se levantasse apenas para ir ao banheiro. Os enfermeiros lhe trouxeram um caderno para que rabiscasse, desenhasse, escrevesse, rasgasse ou fizesse qualquer coisa que julgasse útil, qualquer coisa que a distraísse e consumisse parte do seu tempo. Eles e os médicos faziam-lhe um trilhão de perguntas sobre o acidente, e ela fingia não escutar.

— É esperado que você não se lembre de nada, está tudo bem. — Era Ava Paige, a médica de maior escalão da organização.

Da última vez que os médicos vieram vê-la, sussurraram palavras como "prognóstico incerto" e "recuperação prolongada", mas tudo o que ela ouvira foi o eco de sua própria incerteza. Chegara à conclusão de que devia ter se contaminado com o Fulgor quando a explosão tomou conta do experimento crucial no qual estava trabalhando, conduzido pelo CRUEL. O objetivo era desenvolver uma nova vacina contra a doença usando o próprio vírus, modificado geneticamente, como elemento chave. Por isso tal explosão poderia ter sido tão nociva para sua saúde.

Cada vez que fechava os olhos, via o fogo consumindo o laboratório, ouvia os gritos ecoando pelos corredores, sentia o calor do medo apertando seu peito. E cada vez que os abria, encontrava-se de volta na ala hospitalar, cercada por palavras reconfortantes que não conseguiam dissipar suas dúvidas. O acidente fora um golpe de sorte, uma coincidência infeliz, como todos diziam?

Enquanto os dias se arrastavam, Marie sentia como se estivesse perdendo pedaços de si mesma a cada momento que passava. As lembranças do acidente se desvaneciam lentamente e, aos poucos, toda a sua vida foi escapando de sua mente como areia escorrendo por entre os dedos. Ela lutava para segurar esses fragmentos fugazes, mas era como tentar agarrar fumaça.

Em um dia como outro qualquer, Jason, um conhecido da organização, entrou na ala hospitalar segurando um envelope cheio de cartas e fotos. Ele se aproximou de Marie com um olhar gentil e uma expressão preocupada.

— Marie, eu trouxe algumas coisas que pensei que poderiam te ajudar a recuperar suas memórias — disse ele, estendendo o envelope para ela.

Marie olhou para as cartas e fotos, seu coração apertando-se com uma mistura de emoções indescritíveis. Ela pegou uma das fotos, olhando para as pessoas retratadas nela. Eram seus pais, sorrindo para a câmera com uma felicidade genuína. Ela sabia que os conhecia, mas suas características e seus rostos pareciam distantes e nebulosos, como se pertencessem a uma vida que ela mal conseguia lembrar.

As lágrimas começaram a se formar em seus olhos. Ela estava lutando para encontrar algo que pudesse agarrar, algo que pudesse trazer de volta as memórias que tanto desejava. Mas, apesar de seus esforços, as imagens e as palavras pareciam estranhas e desconectadas, como peças de um quebra-cabeça que não se encaixavam mais.

Uma sensação de angústia e perda a envolveu, junto ao sentimento de que uma parte essencial de sua vida estava escorrendo por entre seus dedos. Ela sabia que aqueles rostos eram importantes, que aquelas pessoas significavam algo para ela, mas não conseguia entender por quê. E, no fundo de sua mente, uma voz sussurrava que talvez algumas lembranças nunca mais voltassem.

Entre as Sombras do LabirintoWhere stories live. Discover now