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Nem sempre a gente toma boas decisões na vida, principalmente quando a gente tem só 13 anos de idade. A ideia de ter alguém, e ser alguém é algo perigoso. Crianças não têm que se preocupar com posição social, ou em garantir um parceiro o mais cedo possível, muito menos quando os critérios são: popularidade, e não realmente amor. Gostar de alguém por outro lado é válido, aquele sentimento estranho, aquele nó na barriga que esquenta, é tudo muito novo, é tudo muito atraente. É carinho, é admiração, é querer sem saber como ter. Um primeiro beijo, inexperiente, uma mão na bochecha, duas mãos juntas, uma praça no fim da manhã. Era proibido, era eletrizante. Era doce, legal, divertido e... Bom, de um jeito estranho. Porém, a fama sobe a cabeça, eu nunca demonstrei, mas eu sempre gostei das pessoas falando de mim, bem, eu me sentia especial, único e importante, era maneiro também. Chamar atenção é uma coisa que crianças deixando de ser crianças gostam, a aprovação dos outros. Ela era bem aprovada pelos outros, e ela não era feia, ela era linda, eu fazia ela rir, ela me fazia rir, todo mundo gostava da gente. Nunca senti aquele carinho, aquela admiração e aquele desejo doce por ela, mas eu via ela como alguém grande, alguém foda. Ela era foda, todos gostavam dela, todas queriam ser ela. Eu vi nela a aprovação dos outros, em dobro, eu vi nela a atenção, ser importante, ser único, especial, para uma massa. Eu fui burro, me deixei levar pelos elogios alheios do que pelo olhar dele. Eu era infantil, não entendia que futuramente aquele calor na barriga e o brilho nos olhos seria muito mais importante. Mas se eu não tivesse escolhido errado, a longo prazo, teria realmente dado certo?

Eu não tinha como saber, porque eu destruí tudo na manhã que eu cheguei de mãos dadas com Marina, quando encontrei ele na praça. Quando eu beijei ele mesmo estando namorando, mesmo tendo trocado ele, eu beijei, e disse que ele era "daora", e depois fui embora. Eu queria ter dito mais, eu queria ter beijado mais, eu queria ter sido inteligente o bastante pra me arrepender naquela mesma hora me ajoelhar e pedir desculpas. Mas eu era burro, e eu era uma criança, e eu não sabia o que era amor, apesar de sentir eu não sabia e não sabia que aquilo ia doer tanto depois. Depois que ela já não me fazia rir tanto, depois que ela já não ria tanto. Quando ela parou de sorrir, falando coisas como se casar e ser o casal mais bonito e feliz do mundo. Quando ela começou a querer ser mais bonita, as lentes, a progressiva, as luzes, a maquiagem, os bojos maiores do que deveriam ser. Ela perdeu o ar jovem e delicado, ela perdeu o sorriso brilhante e fácil, ela ficou muito mais viciada na atenção do que eu, ela queria o nome dela na boca dos outros, ela via em mim uma forma de conseguir isso. Qualquer ilusão de se gostar que a gente tinha acabou, foram quase 5 anos regados a uma imagem falsa de um casal feliz, diversas traições dos dois lados, noites quentes que terminavam frias e uma dor enorme no meu peito porque eu fui burro. Muito burro.

Fiquei feliz quando Marina terminou comigo, eu já não tinha mais nenhuma força para sustentar aquela mentira. A gente mal se falava. Ela se despediu com mais uma noite nem tão quente assim e um boa sorte seco, pra depois falar mal de mim. Óbvio que ela ia falar mal de mim. Mas 5 anos depois eu já não me importava com me sentir especial, único e importante pelos outros, eu não me preocupava com a aprovação ou em agradar mais ninguém. Eu tinha perdido tudo quando eu mesmo me desfiz dele, demorei pra perceber, mas perdi. Eu fui tão burro. Hoje eu sei que todo o esplendor de ser popular nunca vai se comparar ao que a gente tinha, era algo tão inocente, e tão genuíno, e tão humano, nada artificial, nada falso. Agradar aos outros ou ser feliz? Eu pensei que agradar os outros me faria feliz, e descobri da pior forma que não. Minha mãe viajou até o outro lado do continente para ser famosa, procurar agradar os outros porque achava que isso a faria feliz, casou com um homem que nunca amou, nunca gostou, ficou rica e quando ele morreu percebeu que nada daquilo realmente valeu a pena, voltou com o rabo entre as pernas pra casa, comigo, a única coisa que sobrou de um sonho vazio. Eu devia ter aprendido alguma coisa com ela, mas precisei passar pela mesma coisa pra descobrir que não é assim que as coisas funcionam. Procurar felicidade através de qualquer tipo distorcido de fama é perda de tempo, tu só vai dar de cara com o arrependimento depois, anos perdidos, amores perdidos, uma vida perdida e trocada por algo amargo. Um sentimento horrível de que... De que podia ter sido diferente.

Pink LimonadeWhere stories live. Discover now