Título: EU. VOU. ENLOUQUECER.
Subtítulo: SAIA. DA. MINHA. MENTE!
Frase de efeito: Por que você não monta numa tartaruga e vai se ferrar bem devagar?
Completamente injuriado e nauseado, fecho a tela do MacBook sem pensar duas vezes, porque a primeira foi o bastante para que eu ainda sinta resquícios de consciência. Não sei em que momento normalizei me desligar da realidade para me enfiar no que a minha mente, em instantes de deslize, me faz pensar, sobretudo imaginar.
É, eu me sentia desorganizado mentalmente, travando uma batalha sangrenta entre a realidade e a ficção baseada na loucura total, tudo isso porque as palavras de Jeon Jungkook estão sapateando por minha cabeça como se ela fosse o palco para um show de Heavy Metal. Em que momento eu permiti o agravamento dos meus pensamentos? E por que eu fecho os olhos e me recordo de suas palavras?
"Tesão em escrever você tem, não tem?"
"Eu enxergo a liberdade em vocês, ou como você diz... Nas palavras que escrevem. Não deixe que a frustração lhe roube isso".
Acontece que eu não estava sabendo muito bem como conduzir a porra da situação. Quando me sentava para escrever, o rosto de Jeon Jungkook, sua voz e a dinâmica que porta ao se comunicar comigo reaparecem como se ele fosse um vizinho simpático que bate na minha porta e me oferece biscoitos caseiros. É tudo tão esquematizado e natural que me assusta, assusta mesmo, para um caralho. Não imaginei que o meu sexólogo pudesse me deixar assim.
Espere até ver as diversas maneiras que ele pode te deixar. Uhum, confie em mim, você vai se surpreender e, olhe só, Jimin, você só precisa não fazer barulho algum...
Diferente do costume, dessa vez o meu subconsciente aparece sentado em uma poltrona vermelha, degustando uma taça de vinho. Suas pernas estão cruzadas e um sorriso cafajeste estampa seus lábios. Eu não me assusto, mas respiro fundo, levo a mão até as pálpebras e coço os olhos, chegando à conclusão de que eu estou enlouquecendo mesmo. Não é possível. Porra, não é.
Afasto o MacBook para a ponta da cama, me levanto e vou para o banheiro. É cedo, o sol está nascendo, mas eu não me coloco na linha de frente do risco em me atrasar novamente para a orientação do dr. Jeon. Sei que ele pode ser cordial e paciente, mas repetir gafe não é comigo, então sou breve no tempo que passo me arrumando, esse mesmo tempo leva Seokjin a quase derrubar a minha porta com suas batidas insistentes. Eu saio do banheiro com uma toalha no quadril e o peitoral escorrendo gotas, caminho em direção à porta e a abro, dando de cara com o sorriso aberto, exagerado e descarado do meu melhor amigo.
— Tenho fofocas! — Invade o meu espaço.
Encaro o corredor antes de empurrar a porta e fechá-la com o pé.
— Bom dia, senhor redator. — Murmuro, seguindo seus passos. — Como vai?
Seguindo o costume, Jin segue até o frigobar e tira de lá uma latinha de energético. Enquanto ele se aproveita da regalia do Mirror Lake, eu procuro no closet uma peça de roupa confortável para essa manhã. Posso falhar terrivelmente em gozar, mas me visto como um verdadeiro deus do sexo, e esse título ninguém me tira.
— Não estrague a minha manhã com menções ao trabalho. — Diz, deitando-se em minha cama. — Estou de férias, a minha liberdade cantou, aceite a sua prisão.
Dentro do closet, eu reviro os olhos.
— O que você tem para me contar?
— ENTÃO! — Escuto o brado atravessar o quarto. Não posso enxergar Seokjin, mas sei que ele está com os olhos arregalados e um sorriso no rosto. — Sabe o Kim Namjoon?
— O amigo de Jeon Jungkook e um dos proprietários do Mirror Lake?
— Isso. Valeu por me recordar de seu patrimônio líquido e da importância de se ter Jeon Jungkook como amigo. — Abafei um riso com sua resposta e saí do closet já vestido. — Nós conversamos muito após o jantar, trocamos telefone e estamos conversando por mensagem. Hoje ele participará da orientação.
Parei em frente à cama e fitei a expressão satisfatória de Seokjin. Ele está entusiasmado e qualquer um consegue perceber, é como eu percebo que, seja lá o que pretende com Kim Namjoon, ele está animado a respeito.
— Você o convidou? — Pergunto, movendo-me até o frigobar, o abro e tiro de dentro dele uma lata de Red Bull. — Ele parece ser um bom cara.
— Ele é. Quer dizer, aparenta ser, até me convidou para cavalgar qualquer dia. — Contou, sorrindo. O energético travou em minha garganta e eu me segurei para não tossir descontroladamente. — Ele é dono de um haras, seu merdinha imoral, pode até mesmo ensinar você a cavalgar.
— Eu não quero aprender a cavalgar, Jin, fique você com o ensinamento do Namjoon. — Resmungo, esquivando-me de qualquer confusão que possa partir de Kim Seokjin. — Não me bastam as orientações de Jeon Jungkook.
— Bom, o dr. Gostosão poderia facilmente te ensinar a montar de jeito. — Sua risada suja alcança os meus ouvidos e eu reviro os olhos conforme bebo alguns goles do energético.
— Você precisa desencanar dessa ideia. — Aconselho.
— Jimin, eu posso ser louco, mas você é um louco e meio e sabe que não estou equivocado em meus achismos.
— Em alguns mínimos, na verdade. — Refuto.
— Foda-se, meu pau, porra! Acredite em mim, me escute e confie no que digo, o dr. Jeon está de olho em você. — Ele se senta na cama e averigua a porcentagem de crença em minha feição. É nula, eu estou em estado de descrença. — Quando vier à tona, não vá dizer que eu não avisei.
Eu me fecho sobre o assunto mencionado, pois nubla a minha mente e parece irreal o bastante para que eu afirme que o meu melhor amigo está surfando na própria ilusão. Jeon Jungkook é retido e tudo o que faz é ser simpático e profissional comigo, especialmente agora que sabe da minha condição. Não quero me aprofundar nos achismos de Seokjin e correr o risco de alimentar as fantasias da minha mente. É embaraçoso.
Pode ser ainda mais embaraçoso simplesmente ignorar os sinais, bestão!
O meu Subconsciente faz a sua primeira aparição no dia, está sentado em frente à mesa de café-da-manhã. Eu aceno em negação, me sentindo completamente maluco por normalizar merdas em minha vida.
— Esqueça as suas suspeitas sobre o nosso sexólogo e vamos comer alguma coisa, eu estou faminto. — Viro-me de costas para Seokjin e pego o meu celular e a carteira. — Aliás, por que você acha que Jeon Jungkook se interessa por homens?
— Não acho, eu tenho certeza.
— E de onde você tirou toda essa confiança e confirmação? — Curioso, eu questiono.
— É outra suposição, quem vai me confirmar é você quando abrir as pernas para ele. — Ao que escuto a resposta, eu me viro de encontro à Seokjin e lhe atiro o carregador do meu MacBook. — Ai! É sério! Como você pode achar que o Jungkook é hétero?
— Estou pouco me lixando se ele é hétero ou não, Jin, mas não me taxe de passivo! — Retruco, abismado.
— O que é isso, cacete?! Preconceito com passivos?! Ih, gente, não pira.