Tempestade e chocolate

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Era fim de tarde de uma sexta-feira abafada, a floricultura parecia um forno o dia todo, e os clientes pareciam não querer arriscar comprar flores com aquela temperatura. Mesmo com o céu nublado boa parte da tarde, ainda assim o calor se espalhava pela pequena cidade, era sinal de que iria chover mais tarde. Algo que Haley estava desejando que não acontecesse.

Tinha vindo a pé para o trabalho hoje pois o seu carro deu problema em algum tipo de "vela" que ela não sabia a importância, mas o senhor Ernesto da oficina pediu que ela deixasse o veículo lá para concerto. Então se chovesse a loira teria que pedir um táxi ou voltar totalmente encharcada para casa, a segunda opção não parecia nada boa levando em conta a baixa imunidade de Haley desde quando começou a beber demais da conta. Era bater um vento frio e a mulher simplesmente ficava doente.

Suas duas funcionárias foram embora quando bateu dezoito horas deixando ela sozinha para fechar a floricultura e conferir as últimas compras e vendas do sistema no computador. Enquanto separava os pedidos do dia seguinte ouviu um baita estrondo de um trovão e instantaneamente as luzes se apagaram assim como o computador, não pode evitar de soltar um gritinho assustada e vasculhar o balcão com as mãos à procura de seu celular. O aparelho estava sem sinal algum de área o que a fez pensar que a falta de energia tinha sido geral na cidade, a chuva já começava a cair lá fora e o medo de continuar alí sozinha estava a atormentando.

Então tratou de pegar suas coisas e sair logo da floricultura, era a única forma de chegar rápido em casa, enfrentando aquela chuva na escuridão sem saber quando que passaria um táxi por ela ou algo do tipo. Do outro lado da rua a lanchonete estava fechada, na verdade a maioria dos estabelecimentos pareciam fechados e não tinha uma alma viva andando pelas calçadas. Parecia mais um filme de terror ou algo do tipo, não gostava daquela sensação pois odiava filmes de terror.

Com a bolsa debaixo do braço e forçando sua visão para enxergar no breu que estava se tornando aquela noite, Haley começou a andar na chuva, só queria chegar logo em sua casa e ficar segura protegida dos barulhos de trovão e dos raios que só de pensar na possibilidade de cair um por perto a assustava mais ainda.

Bem que deveria ter olhado a previsão do tempo hoje na tv, não liga muito para esse tipo de coisa pois sempre estava de carro e protegida, porém fez uma anotação mental de que sempre é bom se certificar de colocar um guarda-chuva na bolsa quando seu carro quebra.

Faróis altos a iluminaram no cruzamento da rua ao lado de sua floricultura a fazendo parar na calçada e analisar melhor se o carro que vinha em sua direção era um táxi. Mas aquela cor vermelha da lataria e o barulho que conseguia ser um pouco irritante em meio a todo o silêncio daquela noite evidenciaram que não era nenhum táxi que se aproximava.

O veículo parou e o vidro do lado do passageiro deslizou para baixo, em meio aos pingos de chuva Haley pôde ver quem estava no volante do outro lado, seu coração já estava acelerado mas não pensou duas vezes quando a porta se abriu para que entrasse.

Se acomodou no banco sentindo um alívio assim que fechou a porta e subiu o vidro abafando o barulho da chuva lá fora. Sua roupa já estava começando a ficar encharcada, assim como o seu cabelo.

— Haley! — Lucy — O que está fazendo andando a pé em uma tempestade dessas?

— Eu... — tentou se explicar mas antes que pudesse falar alguma coisa Lucy tirou a jaqueta verde musgo e a entregou em suas mãos aparentando estar preocupada com a sua saúde

— Veste isso, você vai acabar pegando um resfriado

Parou para observar Lucy com a regata branca manchada de algo verde perto da gola, os braços que sempre estavam cobertos pelas jaquetas agora estavam expostos, e que braços... Os trabalhos braçais na fazenda pareciam fazer muito bem a morena. Haley respirou fundo retomando seus pensamentos tentando não pensar tanto em na outra carregando feno ou fazendo qualquer atividade agrícola, vestiu a jaqueta verde que era um pouco maior que ela e também estava quente aliviando um pouco o frio.

Hundred Boys in BarsOnde histórias criam vida. Descubra agora