UM MÊS DEPOIS...
Um mês. Exatamente um mês havia se passado desde aquela noite com Justin.
E ele não havia retornado como prometera.
Depois que ele saiu por aquela porta eu senti algo estranho, um pressentimento ruim, como se eu tivesse acabado de cruzar com quem não deveria. Ele havia mentido para mim e por causa dele eu passei quatro terríveis dias no "quartinho escuro" do imbecil do Erick. Quando eu me lembro daquela noite com Justin sinto raiva, muita raiva. Eu havia sido tão tola de ter acreditado em suas palavras! E para completar, Anne, aquela vadia, vive implicando comigo e fazendo meus dias serem ainda piores dentro desse inferno.
Depois do acontecido e de tudo o que eu passei por causa daquele filho da puta, sinto que evoluí em certos aspectos. Além disso, depois dele, fui forçada a me deitar com doze homens nojentos. Cada noite era um pesadelo pra mim, eu ficava louca me perguntando quando despertaria desse sonho ruim, mesmo tendo plena consciência de que aquela era a minha realidade. Minha triste realidade.
Sinceramente, eu não sabia se eu tinha mais raiva dele por ter mentido e me iludido, ou de mim mesma por ter sido burra em acreditar em um cara que frequenta uma boate de stripers.
Apesar de ser uma vadia estúpida, Anne tinha seu lado legal comigo e uma vez me disse que Justin não era de dormir com qualquer uma. Ele sempre escolhia a dedo a garota que levaria para a cama e era o melhor cliente de Erick. Eu não sabia se ficava feliz com isso ou não. Quer dizer, isso significa que ele viu algo a mais em mim, mas também significa que eu fui só mais uma. Pensando bem, é claro que tinha algo especial em mim. Aquele imbecil só queria tirar a minha virgindade e mais nada.
No tempo em que passei no quartinho escuro por desobecer Erick – eu me recusava a fazer programas, não queria dormir com ninguém mais além de Justin – eu ficava me perguntadno se ele havia voltado à boate, me iludindo, pensando que ele poderia ter voltado e procurado por mim. A cada porrada que eu levava eu lembrava dele e não sabia se chorava mais pela dor física ou interna. O quartinho era como a solitária de uma prisão: um lugar pequeno, fechado e totalmente escuro. Eu não tinha comida ou água e durante cada um dos quatro dias, vinha alguém para me dar uma surra. Quando saí de lá, estava completamente acabada.
E esperava nunca mais ver Justin.
Em um dia que parecia normal, eu estava no alojamento das garotas, isolada como sempre das piranhas e de suas conversas. Olhava o andar de baixo pela janela e acompanhei com o olhar uma limousine vindo da esquina até parar em frente à boate. De dentro dela saiu um homem loiro, trajando jaqueta de couro preta e usando óculos escuros. Eu não conseguia ver seu rosto, mas ele me lembrava Justin. Suspirei e balancei a cabeça, recusando-me a pensar naquilo.
Decidi me levantar e sair um pouco dali, iria até o andar de baixo, a boate, para ver se as garotas da limpeza precisavam de ajuda. Era muito melhor do que ouvir a conversa daquelas vadias nojentas sobre o tamanho do pênis do último cliente e de quanto tempo ele demorou para atingir o ápice.
Eu ainda estava nas escadas, quase no andar de baixo, quando ouvi uma voz que me soava familiar. Sim, era a voz dele, eu poderia reconhecer mesmo se houvesse se passado um ano. Meu coração saltou dentro do peito, como se ameaçasse sair pela boca. É, aquele idiota realmente mexeu comigo, mas eu não ia deixar barato o que ele fez. Sentindo a raiva fazer meu corpo esquentar, minhas mãos se fecharam em punho e eu entrei na boate, podendo vê-lo de costas. Comecei a andar em direção a ele e a cada passo meu coração acelerava mais. Corri até ele e dei um soco em suas costas com toda a força que pude. Eu tinha raiva no olhar, e quando ele olhou para mim, pude ver que seu olhar tinha ainda mais raiva que o meu.
– O QUE VOCÊ PENSA QUE ESTÁ FAZENDO? – ele gritou com raiva, olhos arregalados e o punho apontado para mim.
– O que eu penso que estou fazendo? O que VOCÊ pensa que fez? Você sabe o que fez comigo!
Erick estava prestes a vir até mim para me dar mais um dos tapas que ele sempre me dá, mas Justin fez um sinal negativo para Erick e ele ficou parado feito um cachorrinho. Justin voltou seu olhar para mim, como se dissesse para eu continuar.
– Você é um idiota! Seu filho da puta, você me usou e depois foi embora, nunca mais voltou aqui para me dar uma notícia! Você prometeu que ia voltar! Prometeu e não cumpriu! – meu tom de voz era alto. Tão alto que as meninas saíram do alojamento e desceram para a boate para ver o que estava acontecendo, até os faxineiros pararam o que estavam fazendo. – Você sabe o quanto eu sofri aqui dentro por sua casa? Esse idiota do Erick me trancou na merda de um quarto, me deu inúmeras chicotadas e me forçou a tomar banho em uma banheira cheia de gelo. Você tem noção do quanto isso doeu?
Justin apenas me fitava, de braços cruzados, e aquilo estava começando a me enervar.
– Sabe o que é pior? VOCÊ ME PROMETEU QUE VOLTARIA! Pra que prometeu algo que não tinha a intenção de cumprir? Um mês se passou, Justin, um mês! E após tudo você aparece aqui e olha assim pra mim como se nada tivesse acontecido! – fiquei em silêncio por um momento, sentia meus olhos ficando úmidos. Com raiva por ele ficar me olhando com aquela cara de cínico e sem me dar uma resposta, parti para dar um soco em seu tórax, mas ele foi mais rápido e segurou meus pulsos antes que eu pudesse fazer o que pretendia. Agarrando meus braços, Justin ergueu meu corpo, fazendo com que meu rosto ficasse na altura do seu. Ele me olhou nos olhos e tinha um sorriso cínico nos lábios. Eu podia sentir sua respiração chocando-se em meu rosto, seus olhos cor de mel fixos nos meus me deixaram derretida mas eu não demonstraria. Ele aproximou mais um pouco o rosto do meu e eu estava nervosa, todas aquelas pessoas olhando para nós dois, nossos lábios a poucos centímetros de distância. Quando ele falou, sua voz saiu totalmente calma e serena.
– Eu voltei, não voltei? – disse ele, olhando em meus olhos. Desviei o olhar. – Não vira o rosto quando eu estiver falando com você, porra! Olha pra mim! – ele elevou seu tom de voz. Fechei os olhos com força e ele me empurrou contra uma parede próxima dali, empresando-me contra a mesma, apertou minhas bochechas para me obrigar a abrir os olhos. – ME RESPONDE, CARALHO! Eu voltei, não voltei? – perguntou mais uma vez, a raiva visível em sua voz.
– S-Sim – respondi, temendo o que poderia me acontecer.
– Resposta certa. Mas, sabe, você se enganou em uma coisa. Sabe o que é? – seu rosto continuava próximo ao meu, sua boca quase colada na minha.
– N-Não – respondi.
– Eu disse que ia voltar, mas nunca disse que seria pra você.
Ele me soltou e saiu de perto de mim, olhou em volta, para a "plateia" e sorriu de lado para Anne. Foi em direção a ela e dei um tapa em sua bunda, ela correspondeu com um sorriso safado. Vadia. Logo eles sumiram para o andar de cima, o andar dos quartos da boate. Enquanto subia a escada, Anne olhou para mim e deu um sorriso debochado. Ela devia estar adorando aquilo, não só pelo fato de estar indo para a cama para o Justin, mas pelo fato de saber que isso me afetava.
Abaixei a cabeça, sem querer encarar aquelas pessoas e comecei a caminhar em direção à escada que levava ao alojamento. Passando por Erick, ele me fez uma pergunta simples, mas que me fez desconfiar dele.
– Claire, quantos anos tem?
– Tenho 17, por quê? – o encarei séria.
Ele não me respondeu, então segui meu caminho. Passei pelo corredor onde ficavam os quartos para uso dos clientes e passando em frente ao quarto em que Justin havia me levado, pude ouvir os gemidos da vagabunda da Anne, que ainda por cima eram altos. Tentei não ligar, mas aquilo doía. Aquele era o quarto onde eu tive minha noite com ele, e agora ele estava ali com uma vadia qualquer. Não queria pensar daquele jeito, mas era inevitável.