Boatos corriam por todo o Reino de Ebonwind e também nos reinos vizinhos, uma bruxa, chamada de filha das chamas, havia reduzido sete cavaleiros do rei em cinzas, seus corpos haviam sido consumidos em chamas e nem mesmo suas mães os reconheciam. Era dito que o local onde o fogo consumiu nunca mais cresceria vegetação e que os arredores ainda cheiravam a carne carbonizada.
Porém, dentro dos muros do castelo não se podia citar ou até mesmo cogitar pronunciar o nome da tal bruxa, o Soberano condenava todos aqueles que abriam suas bocas para falar na feiticeira que planejava arruinar seu reino e ameaçava seu poder. Era nítido para todos que, seu Rei já não estava em seus melhores dias, sua pele estava pálida, seus olhos fundos e sua voz falhava assim como seu coração.
Os rumores que o Soberano de Ebonwind estava morrendo percorriam os muros do castelo e chegavam tanto na nobreza quanto nos criados. Ícaros sabia que seus súditos falavam sobre sua morte.
Havia apenas um único morador do Palácio que não ligava para os rumores que corriam dentro e fora dos muros. Woodlock se sentava no jardim de inverno ao cair da noite, seus olhos fundos pela falta de sono e sua expressão abatida davam ao General um ar de desespero e dor.
Que honra possuía um General que não protegia seus soldados? Que não protegia seu reino e seu Rei? Era nisto que Woodlock pensava noite após noite, ataque após ataque onde perdia seus homens pelas mãos da feiticeira.Em mais uma noite sentado no jardim, Woodlock se viu pensando nas viúvas, mães e filhos de seus soldados, mortos e carbonizados por vingança. Ele pensava na dor, na tristeza… na culpa que sentia por não poder resgatar suas vidas.
Absorto em seus pensamentos, Woodlock não escutou os passos lentos da princesa Stella que, ao ver o General sozinho no cair da noite, não conseguiu se manter distante.-O que faz aqui, General? - Stella questiona ao estar perto o suficiente do mesmo.
Woodlock ergueu seu olhar para a voz baixa e doce de sua princesa, Stella estava escondida pelas sombras da noite, suas vestes grossas a protegiam do vento gelado e botas protegem seus pés da neve densa, contudo, seus cabelos loiros estavam soltos e voavam com o vento rebelde. Ele fixou seu olhar nos olhos azuis, o brilho parecia refletir o céu noturno e o azul intenso quase o cegava.
-Pergunto-lhe o mesmo, minha princesa. - Respondeu desviando seus olhos dos azuis de Stella.
-Venho no jardim quando não consigo dormir… o senhor não consegue dormir, General?- Stella fala ainda parada a alguns passos do General. Woodlock sorri amarelo.
-Como eu poderia dormir? Sempre que fecho meus olhos os corpos carbonizados de meus soldados invadem a minha mente e atormentam meus sonhos. - Woodlock diz sem pensar.
Ele não deveria falar sobre as mortes e os ataques na frente da princesa, era estritamente proibido pelo soberano. Porém, se não falasse o que sentia, o que faria? Como lidaria com seus medos e dores se não os colocasse para fora? Woodlock se sentia sufocado pela culpa e a morte de tantos homens inocentes.
-É estranho finalmente ouvir sobre o que acontece fora desses muros. Sou como uma peça de porcelana rachada, todos me tratam como se o menor dos traumas pudesse me quebrar. - Stella diz com um tom de arrogância.
-Estamos lhe protegendo, minha princesa, o que acontece fora dos muros deste Palácio é cruel, o Soberano não quer lhe expor a tamanha maldade. -Woodlock rebate erguendo seu olhar novamente para a princesa.
-Um dia, General, série a Rainha e Soberana deste reino, mereço tanto quanto qualquer nobre estar ciente do que acontece no meu reino.- Stella fala raivosa, seus olhos fuzilam o General.
-Não tenho dúvidas disso, minha princesa, mas garanto a ti que o que acontece fora dos muros neste momento é demasiadamente cruel até mesmo para mim.- O General diz se abrindo com sua princesa, Stella mantinha seus olhos fixos no General.
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A Filiha Das Chamas
Teen FictionQuando pequenos aprendemos a diferença entre o bem e o mal, o vilão e o herói, a salvadora e a causa perdida. Mas e se a única diferença for quem está contando a história? E se o mal não tivesse outra escolha? E se o vilão estivesse sacrificando tud...