Karma (Jaywon)

Não Bebam Crianças

Seis anos se passaram, e eles não mudaram nenhum traço sequer.

Minha mãe continuava com os fios grisalhos sendo escondidos por uma boa tintura. Seus olhos, como sempre, estavam com uma maquiagem carregada para esconder qualquer ruga que ousasse aparecer em alguma foto. Seu vestido tinha que ser o mais caro e o melhor de todas as festas que ia, e conhecendo muito bem aquele escondido em seu guarda-roupa, era um genuíno Marc Jacobs. Suas bochechas mais tarde estariam doendo pelo sorriso que não parava de esboçar.

Meu irmão, perfeito como sempre. Yang Jongin era o filho que todos queriam ter, fazia tudo o que nosso pai queria e tinha conquistado grandes títulos na faculdade. Tinha sido tudo o que o Sr. Yang queria para mim... Eu não procurei saber muito deles depois que saí de casa, mas agora meu irmão mais velho é um prodígio do ramo imobiliário, estava seguindo o caminho do nosso pai. Um homem com seus 28 anos, formado, alto, boa pinta e com um sorriso charmoso. Todos se encantavam por sua carinha de anjo.

E meu pai, como sempre, estava dando suas altas e grossas risadas enquanto alisava o queixo e segurava a taça em uma das mãos sem ter bebido uma gota sequer. Seus pequenos olhos se fechavam em meio aos sorrisos com segundas intenções direcionados a possíveis investidores de seus negócios. Tudo se resumia em preservar o nome da família e aumentar o império Yang. Nada mais importava, não faça o que faço, mas faça o que falo. Um homem alto e conservado para sua idade, um padrão a ser invejado.

- Nunca tinha estado em uma festa em que toda família Yang estava reunida. Nunca vi filhos tão bonitos. - A anfitriã da festa disse. - Sou uma pobre mulher sem filhos, então fico babando igual uma velha na família dos outros. Vamos até seus pais, Jungwon. Tenho certeza que teremos uma boa conversa juntos... - Vi Sooha erguer uma sobrancelha desconfiada de mim. Neste momento, ela tinha acabado de perceber que meu sobrenome valia de alguma coisa, enquanto que para mim era só um passado que me perseguia.

Tudo o que parecia estável naquela noite desmoronou, e neste instante, eu só queria sair correndo. Encontrá-los estava fora de cogitação; não estava querendo encarar meu passado e muito menos ter que preparar meu emocional em menos de dez segundos para encontrar com meu pai e parecer bem. Como toda vez que eu ficava nervoso, minhas mãos estavam suando e tremendo, eu mordia as pelinhas soltas dos meus lábios, sentindo o gosto de sangue ao encostar com minha língua.

Jay percebeu meu nervosismo, mas nunca saberia o motivo.

- Chame um garçom para nós, Jungwon. - Ele disse, fazendo-me respirar novamente e relaxar meus músculos. - Todas as nossas taças estão vazias, senhores. Isso é falta de educação em uma festa. - Estava muito agradecido. Retirei-me de perto deles e fui chamar qualquer um dos homens de uniforme para atendê-los e depois fugir para um canto mais isolado para retomar minha compostura.

Saio pela porta do salão em que estávamos, indo para o banheiro lavar meu rosto. Eu não estava pronto para lidar com esse nível de emoções em um único dia; estava exausto por todos os medos que já aconteceram hoje. Só de ter todas as lembranças do meu pai, já sentia falta de ar. Vendo meu rosto no espelho, estava quase disposto a perder essa vaga caso tivesse que encarar minha família de novo.

- Jungwon... Você precisa aguentar... Merda. - Falei comigo mesmo, olhando para meu rosto com vários pingos de água espalhados por ele por jogar água e esfriar meus pensamentos. Do nada, senti meus olhos começarem a arder e lágrimas tomarem conta. Lágrimas inconvenientes! Por que eu tinha que ser sensível nos momentos mais inoportunos!? Limpei várias vezes, pegando um papel toalha e fazendo uma bolinha para limpar meus olhos toda vez que uma lágrima caía.

- Você... - Olhando por cima do meu ombro pelo espelho, encontro um Jay parado, sem terminar o que ia dizer. - Por acaso estava chorando? - Fungo uma última vez, limpando as laterais do meu nariz antes de jogar os papéis embolados no lixo.