Capítulo 41

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Capítulo 41 — Digão

Luara: Precisa gastar isso tudo em munição? — pergunta, sem olhar pra mim, por trás da tela do computador.

Digão: Precisa, é precaução — respondo, já esperando a próxima pergunta dela.

Luara não é mulher de aceitar meia explicação. Ela vai até o final pra saber tudo o que ela quer.

Luara: Precaução? Não que eu entenda alguma coisa disso, mas parece que tu tá se preparando pra uma guerra — estica o pescoço e me olha, toda séria.

To percebendo que a ficha dela tá caindo aos poucos, tanto sobre quem eu sou quanto sobre o que venho conversando com ela no último mês. Pode tá tudo calmo hoje e daqui a dez minutos, tudo mudar. Preciso que ela saiba disso.

Digão: Nós já trocamos uma ideia sobre isso, preta — olho a mensagem do Claudinho no meu Whatsapp e bloqueio a tela do celular.

Luara: Eu sei — coloca o computador de lado pra poder me olhar — como você consegue viver assim? Nessa incerteza toda.

Digão: Vem cá — chamo, batendo na minha perna e ela levanta da cadeira, sentando de ladinho no meu colo. Deixo minha mão na lateral do quadril dela e vejo ela me olhando, curiosa — Tá ligada  como tu teve que se desdobrar pra andar sozinha? Comigo foi assim também, tive que aprender a conviver com essa incerteza.

Luara: Mas você parece que não tem medo das coisas darem errado — franze a testa, ainda me encarando.

Eu sou louco no jeito dela me olhar, papo reto mesmo.

Digão: Não ter dado nenhuma merda até agora já é um milagre, preta, tudo o que eu to vivendo é lucro — sou sincero.

O que eu tenho agora é muito mais do que eu pensei que um dia poderia ter. Não é falsa modéstia, mas eu vim do nada e construí coisa pra caralho. Não posso me achar invencível, alguma hora eu vou perder.

Luara: Não gosto de ouvir você falando assim — cruza os braços no meu colo e eu rio, com a carinha de brava — Parece que tá se conformando com a derrota.

Digão: Não gosto de perder, Luara, mas tô falando só a verdade, uma hora todo mundo perde — dou um beijinho na bochecha dela — Tu tá ligada que eu sou do papo reto, não vou te enganar, prometer o que não posso cumprir... Eu sou o homem certo pra você, Lua, te satisfaço em tudo, só não posso te prometer uma vida tranquila.

Luara: Eu sei disso. Soube que não ia ter paz desde o primeiro momento que a gente se olhou — segura meu rosto e beija o canto da minha boca, respirando fundo. 

Digão: Tu nunca vai poder dizer que foi por falta de aviso — fecho os olhos e sinto o nariz dela roçando no meu.

Luara: Nunca.

Digão: Não fica com medo? — abro os olhos pra enxergar ela — De mim eu sei que tu nunca teve, adora me afrontar, mas da situação, eu não sei se você tem medo...

Luara: Eu já tive medo de você sim, de tanto você me ameaçar — ri e abre os olhos também — Mas contigo eu vi que era só eu não vacilar – dá de ombro — O problema são os outros... Não tenho essa mesma garantia, então dá um medinho, sim.

Digão: Pode até parecer, mas eu não sou sozinho mundo, Lua. Nem se eu morrer, você fica desprotegida.

Luara: Para.

Digão: To falando sério, nisso você pode ficar despreocupada — tenta levantar, mas eu seguro a cintura dela.

Luara: Ai, Rodrigo. Deixa eu levantar — pede, olhando pra hora no celular.

Ligações de Alma [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora