CAPÍTULO ÚNICO

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O sol havia passado de seu auge, começando a decair no céu, e o nervosismo de Eijirou fazia o processo inverso. Ele já havia recebido a mensagem de que seus amigos estavam a caminho, na van que os levaria ao topo da pequena montanha. O local, que já estava um tanto cheio, ficaria lotado em breve.

Era engraçado, quando tinha seus dezoito anos Kirishima não imaginava que ficaria nervoso com eventos para sempre. Ele costumava achar que aos vinte ou trinta ele finalmente seria uma pessoa controlada, acostumado demais com eventos em sua carreira como herói. Ledo engano. Aos cinquenta anos, cá estava ele, fazendo exercícios de respiração para se acalmar. Não era nem sua primeira cerimônia de casamento!

Aos vinte e cinco anos, quando se casou com Katsuki, ele suava tanto que quase manchou a certidão de casamento. Não foi a última nem a primeira vez que ele quase manchou um documento importante por suar tanto de nervoso que ele podia até ser comparado com seu marido. Bem, sua primeira cerimônia de casamento tinha lá seus motivos para deixá-lo ansioso.

Em suas carreiras de heróis, Katsuki e Eijirou se apoiaram mutuamente, namorando discretamente enquanto focavam em seus futuros, mesmo morando no mesmo apartamento. Casamentos entre o mesmo sexo mal tinham sido legalizados, há poucos anos, e raramente se ouvia falar de heróis gays que eram casados. Kirishima estava satisfeito enquanto tivesse Bakugou ao seu lado, mesmo que gostasse da ideia de ter um casamento, e Bakugou sabia disso, contudo, nunca comentou nada.

Estava tudo bem para Eijirou, de verdade. Bakugou conseguiu ficar em primeiro lugar como super herói por dois anos seguidos, já aos vinte e poucos anos, enquanto Kirishima finalmente tinha chegado em décimo lugar na última cerimônia. O começo do ano já estava incrível. Como sempre, todavia, Bakugou podia deixar tudo ainda melhor. A cerimônia de anúncio dos dez melhores heróis do último ano acabou, ainda no estúdio de gravações, no camarim de Kirishima, com Katsuki de joelhos, propondo o casamento. Ele já saiu do local com o anel em seu dedo, enxugando lágrimas.

A cara de choque de seus amigos foi hilária. Muitos pensaram que eles nunca iriam casar, e, não se sabe como, todavia, alguns sequer sabiam que eles namoravam. A cerimônia foi bem discreta, com a família e os amigos mais íntimos apenas, embora alguns não tenham podido ir. Tudo foi oficializado, mas se manteve em segredo, de certa forma, os dois concordaram.

Com o tempo, o mundo melhorou. Por mais que os poucos que sabiam do relacionamento deles às vezes sugerissem que era culpa de Bakugou eles estarem em segredo, quem temia, de fato, era Eijirou. Ele morria de medo não apenas das consequências de ir a público sobre o casamento, todavia, acima de tudo como isso afetaria a carreira de Bakugou. Ele estava indo cada vez mais longe, os dois prestes a abrirem a agência. Kirishima tinha medo de arruinar tudo isso.

Mesmo assim, quando eles fizeram trinta anos e a agência de heróis que abriram estava pronta, Bakugou mais uma vez propôs algo ousado. Em três de junho, pouco depois do aniversário de cinco anos de casamento, ele trouxe à tona o assunto de adoção. Foi a primeira vez que eles conversaram sério sobre isso, e basicamente durou o dia inteiro. Kirishima sempre adorou crianças, adolescentes, enfim, pessoas. A ideia de ser pai era apreciada, contudo, não era uma necessidade. Com a carreira que ele e seu marido tinham escolhido, ele não via como fazer isso, então nunca pensou muito, porém, Bakugou tinha pensado. E muito.

Ele tinha pesquisado agências de adoção, sobre orfanatos, sobre o processo para casais homoafetivos, sobre livros para cuidar de bebês, sobre livros para cuidar de adolescentes. Sobre tudo. Quase todos os detalhes necessários. E então ele passou um dia inteiro debatendo sobre adoção, e, facilmente (talvez fácil demais), eles decidiram adotar. Naquele dia mesmo.

My love mine all mineOnde histórias criam vida. Descubra agora