Jogo de amor e negociação

Capítulo 01

O telefone na mesa tocou, assustando a Dra. Melda, tirando-a de seu devaneio. Ela piscou rapidamente para recompor seus pensamentos e olhou para o relógio, que mostrava um pouco mais de 13 horas, ajustou no nariz seus pequenos óculos retangulares de armação preta e estendeu a mão para pressionar o botão laranja atendendo a chamada.

— Sim — Mel respondeu bruscamente, ainda atordoada de seu breve descanso.— Dra. Melda, há alguém... Desculpe!A secretária da faculdade de psicologia da prestigiosa universidade gritou pelo telefone — Ele está subindo agora!— Ok, obrigado, P'já — Dra. Melda respondeu com a voz calma antes de desligar.

Mel suspirou cansada antes de levar um copo frio de café Americano aos lábios para saciar a sede, mas não ajudou em nada. Uns dois ou três minutos após o término da ligação, houve uma batida na porta, embora ela não estivesse ansiosa para receber ninguém, era difícil recusar uma vez que já estavam à sua porta.

— Entre — ela chamou, ainda se perguntando quem havia subido sem ser convidado quando porta foi empurrada com força.— P'Mel — Ao ver o rosto do convidado não convidado, ela quase riu.— Khun Prae — disse endireitando-se e ajeitando o rabo de cavalo em um reflexo rápido, — Você veio até aqui... Como me encontrou? — Mel perguntou, com os olhos escuros fixos na pessoa à sua frente, notando o envelope marrom em sua mão.— Não foi difícil encontrar você — Prae disse, entrando e ajustando sua camisa azul claro enfiada cuidadosamente nas calças pretas antes de se sentar em frente a Mel. Prae, ou Mintara, olhou para a mulher que já foi o seu amor.— Então, você veio aqui só para me olhar? O que você quer? Tenho uma aula em dez minutos— Eu tenho uma proposta para você — Mintara disse ambiguamente após um breve silêncio, fazendo Mel estreitar os olhos em suspeita. Elas não se viam desde que terminaram e Mel ouviu que ela havia conseguido um novo emprego em algum departamento governamental, algo que ela não se importava muito.— Proposta? — Mel repetiu com um toque de diversão, ainda chocada com a visita inesperada de Mintara. — Agente especial— Você quer que eu volte a trabalhar com você? Tomou remédio a mais hoje? — Mel notou gotas de suor formando-se no rosto de sua ex-namorada e Mintara parecia nervosa com o encontro.— P'Mel — Prae tentou soar séria — Isso é importante, você sabe disso — Ao ouvir isso, Mel suspirou.— Mas eu ainda quero trabalhar aqui

Claro, ela amava esse trabalho mais do que qualquer coisa, embora ser professora universitária não fosse uma carreira prestigiosa, ela sentia uma felicidade única quando seus alunos se formavam e voltavam para compartilhar suas aventuras de vida. No entanto, não gostava da papelada interminável, pesquisas, avaliações anuais ou lutar por posições acadêmicas, mas no final o trabalho não era tão ruim assim.

Mel trabalhava como professora no departamento de psicologia há três anos, desde que terminou com sua ex-namorada, a agente especial sentada à sua frente, elas cortaram contato desde o término.
— Você não precisa sair daqui— Você acha que a universidade vai me deixar fazer isso? — Mel respondeu com sarcasmo inclinando-se para trás e cruzando os braços — Além disso, mal tenho tempo para mim— Mas eu não confio em ninguém além de você...— Você confia em mim? — Mel repetiu incrédula — Você sempre me surpreende, Khun Prae — ela disse com uma risada e irônica — Você aparece sem avisar, não disse nada quando saiu e agora diz que confia em mim. Seu senso de humor nunca muda — Seu tom era debochado.— Só porque terminamos não significa que eu não confie em você — As palavras de Mintara fizeram Mel parar e ela acenou com a mão desdenhosamente para a proposta, fazendo Prae suspirar profundamente.— Ok — Mintara foi direto ao ponto — Pegue isso para pensar no assunto — Ela colocou o envelope marrom na mesa e inclinou-se para frente — Fico esperando sua resposta, ainda uso o mesmo número — A convidada não convidada saiu da sala deixando Mel com seus pensamentos.

Depois que sua ex, que havia aparecido do nada, saiu, Mel não foi para sua aula como havia afirmado. Era estranho; Prae sempre foi imprevisível, às vezes desaparecendo da vida de Mel sem explicação. Mesmo com inúmeras teorias psicológicas de Sigmund Freud ou Carl R. Rogers, nenhuma poderia explicar o comportamento de Prae.

Mel nunca entendia completamente Prae, mas o comportamento humano é assim; apesar de sua educação de alto nível em psicologia, Mel sabia que nenhuma teoria poderia explicar completamente os comportamentos estranhos das pessoas. A maioria das teorias baseia-se em suposições gerais ou análises estatísticas que são depois publicadas para encerrar o assunto. Mas comparado à mente humana sempre há mudança...

Prae, ou Mintara, sempre foi sensível e indecisa, muitas vezes tomando decisões tarde demais. Naquele dia, ela apareceu do nada. Era frustrante... Não era preciso nenhuma teoria para saber que algo estava acontecendo, ela enfatizou não daria a Mel a chance de recusar ao dizer: "Prae não confia em mais ninguém..." Mel sentiu vontade de arrancar os cabelos.

Talvez estivessem juntas há tempo demais, e Prae tivesse aprendido os métodos de Mel para ganhar vantagem, conhecendo seus pontos fracos e atingindo-os diretamente, algo que aprendeu a fazer com Mel.

Depois de hesitar por um momento, Dra. Melda abriu o envelope marrom. Após examinar o conteúdo por cerca de vinte minutos, suspirou profundamente. Dentro do envelope estava um arquivo de caso especial que Mel supôs ser um dos quais Prae era responsável, envolvendo principalmente situações de reféns.

Isso fez a Dra. Melda lembrar de seu tempo estudando no exterior onde aprendeu técnicas de negociação para salvamento de reféns, indicando a importância desse problema. Mel encontrava tais situações frequentemente durante seus estudos, quase se tornando rotina, principalmente quando seu líder de equipe, que também era seu professor, a chamava, se sentia tensa porque significava que a vida de alguém estava em risco.

Por isso Mel decidiu renunciar ao seu cargo de consultora de casos especiais e líder da equipe de negociação de uma agência governamental, após cerca de cinco anos pós-graduação. Foi nesse trabalho que ela conheceu Prae, que era então tenente. Elas evoluíram de colegas para amantes e eventualmente vieram a terminar, Mel não aguentava mais o mesmo ambiente, então renunciou e começou de novo como professora universitária.

Já se passaram quase três anos desde o término e ela se lembrava de tudo, mesmo que não quisesse. A vida parecia estar chegando a outro ponto de virada com a visita inesperada de alguém que ela nunca imaginou.

Seu telefone tocou novamente, assustando-a, ao ver o nome no celular, Dra. Melda suspirou pela enésima vez naquele dia. Prae ainda usava o mesmo número, como havia mencionado vinte minutos atrás, e infelizmente, Mel também. Dra. Melda hesitou antes de atender.

— Sim— Só verificando, porque eu sabia que você mentiu sobre ter uma aula— Chata — ela respondeu irritada — Como você sabia?— Perguntei à sua secretária antes de falar vocêEla ainda é esperta, às vezes esperta demais para as expectativas de Mel.— Vamos almoçar. Por minha conta— Qual é o seu jogo, Khun Prae?— Apenas trabalho, prometo — Prae respondeu — Estou esperando lá embaixo no prédio da sua faculdadeRecuse, Melda... Sua mente disseMel abriu a boca para responder, mas hesitou. Seu coração disparou inesperadamente, apertou o telefone com força, piscando para recuperar a compostura.— É sobre o arquivo — Prae acrescentou, percebendo a hesitação de sua ex-namorada — Nada mais— Ok — Dra. Melda respondeu, finalmente cedendo aos seus sentimentos pela outra mulher — Já desço