Latte

143 12 4
                                    

- O que você está tramando aí? - Jisung se aproxima e o abraça pelas costas apoiando a cabeça sobre o ombro a sua frente na tentativa de enxergar o que o outro estava fazendo.


O corpo a sua frente inicialmente se assusta com o contato, mas logo relaxa suspirando profundamente com um meio sorriso surgindo no rosto.


- Sobraram algumas dessas tortinhas aqui, mas não dá pra deixar na geladeira porque vão acabar estragando, então to decorando bonitinho pra gente comer - Felix explica e logo pega um pedaço de morango e o oferece ao amigo que aceita de bom grado.


- E nosso chefe sabe que você está querendo distribuir os insumos de graça? - Pergunta rindo na intenção de alfinetá-lo.


- Hmmm... não, mas tenho certeza de que ele vai amar a ideia - ri junto, solicitando espaço para girar o corpo dentro do abraço e mostrar as obras primas que havia preparado - o que acha? O Min vai amar não vai? - suas bochechas logo tomam um tom levemente rosado.


- Uau! Estão lindas! Vai, é claro que vai! Até porque estão uma delícia - Retira uma das mãos do abraço para tentar roubar mais um morango.


- Ei, não, não pode - rindo Felix esquiva o corpo na tentativa de impedi-lo.


- Só unzinho, por favorzinho - cria um biquinho com olhinhos de cachorrinho.


- Hanji, assim nãooo, você mesmo disse que estavam lindas, amor, vai estragá-las antes da hora - as bochechas de coram imediatamente e eles travam por um momento com o apelido que já não era usado a algum tempo.


Han pensa em algo para dizer e continuar agindo normalmente para que não fiquem estanhos e possam voltar a usar os apelidos, mas não precisa fazer um grande esforço visto que Minho entra na cozinha e faz isso por ele.


- Então tem algo mais lindo que vocês por aqui? Onde está? Quero ver - sua feição é séria, mas é possível ver o curvar em seus lábios e identificar o tom divertido em sua voz.


A verdade é que Minho já estava parado na porta a algum tempo assistindo à interação entre os rapazes, como fazia algumas vezes torcendo para não ser pego, mas dessa vez percebeu que sua intervenção seria bem-vinda, tanto que quase tem certeza de ter visto Jisung mover os lábios em um obrigado.


Felix explicou sobre as tortas e as mostrou para o Lee mais velho, desviando ao olhar para tentar ao máximo não permitir que suas bochechas corassem durante o processo, mas falhando miseravelmente. Minho sorriu encantado e agradeceu ao presente, fazendo questão de enfatizar o quanto havia amado e comê-las ali mesmo para mostrar sua sincera reação, deliciando-se com as tortinhas e divertindo os mais novos com a cena.


Os três saíam da cozinha rindo após terem finalizado a organização de tudo quando se depararam com a figura séria de Jeongin sentada em uma das cadeiras de braços cruzados. As risadas se cessaram no mesmo instante e Felix congelou por um momento antes de correr na direção de Jeongin sem sequer olhar para trás, o agarrando pelo braço e o puxando para fora dali. Já do lado de fora, é possível ver Jeongin se soltar de Felix de forma bruta e gritar com ele antes de os dois entrarem no carro e seguirem para longe dali.


- Por que você me segurou? Você viu como aquele filho da puta gritou com o meu Lilico? E se ele fizer algum mal pra ele de novo? Fazer ele chorar? - Os olhos de Han começaram a encher de lágrimas só de pensar.


- Calma, gatinho, ele não vai fazer nada disso, vamos confiar que não vai - Minho tenta acalmá-lo puxando-o para um abraço - você viu como o Lix estava bem, que ele até te chamou de amor e como ele retribuiu minha cantada hoje - riu lembrando do momento e pode ouvir Jisung acompanha-lo enquanto fungava para controlar as lágrimas - estamos conseguindo chegar nele aos poucos, gatinho, não dá pra arriscar perder ele agora, tenha calma que a gente já se livra desse babaca.

Você também vai gostar

          


Jisung sabia que a Minho também havia se irritado com a situação, pois o percebeu fechar o punho e dar um passo a diante antes de respirar fundo e segurá-lo para que não avançasse também, mas ainda assim era dolorido não poder fazer nada.


Mais tarde, quando Felix finalmente chegou em casa, encontrou Jisung adormecido no sofá da sala. Inicialmente apenas ignorou e seguiu para o próprio quarto, mas não conseguiu deixar de ao menos retornar com uma manta para cobri-lo.


Aproximando-se pôde perceber o celular de Jisung caído em seu peito em chamada com Minho onde era possível ouvir apenas sua respiração pesada. Aparentemente os dois haviam adormecido enquanto conversavam por ligação. Um sorriso carinhoso surgiu no rosto de Felix e ele apenas desligou a ligação e apoiou o celular ao lado de Han para que não caísse e o cobriu com a manta.


Ficou alguns minutos ali observando Jisung dormir enquanto tentava encontrar o motivo do incomodo que havia se abrigado em seu peito. Era mais fácil tentar se enganar convencendo-se de que Jeongin estava certo e deveria se afastar para não permitir que brincassem consigo, mas na verdade Felix já não acreditava nisso e a dúvida crescente de como agir frente a isso o consumia. Afinal, Jeongin era como família e a família sempre quer o seu bem mesmo quando isso te machuque e ele deveria ser grato, era assim com os seus pais e seria assim com ele também essa era a sua certeza.


O que conflitava em tudo isso era a forma como Jisung e Minho agiam. Era claro momentos em que estavam desconfortáveis, mas nunca agiam de uma forma que poderia machucá-lo. Eles buscavam ser sinceros sem usar como desculpas os sentimentos que tinham para chateá-lo, além de tratá-lo sempre com carinho sem questionar o motivo de precisar de tais cuidados. Mas se gostavam mesmo de si e não era uma brincadeira da parte deles, por que haviam deixado ele se afastar? Por que eles tinham que ser assim? Tão diferentes do que estava acostumado? Por que eles tinham que deixá-lo tão confuso assim?


- É coisa de esquisitão ficar observando as pessoas enquanto elas dormem, sabia? - Jisung percebeu a presença de Felix ao despertar e fez a brincadeira antes de abrir os olhos, mas o sorriso que havia se formado em seus lábios se perde logo que o encontra com o olhar triste e confuso - Lico, tá tudo bem?


- Claro que tá - levantou-se para retornar ao próprio quarto - você deveria ir dormir na sua cama. - Deu o primeiro passo para afastar-se, mas foi impedido pela mão de Jisung que segurou a sua.


Parou no lugar sentindo os dedos de Jisung se entrelaçarem com os seus, vendo-o se levantar do sofá e apoiar o topo da cabeça no meio de suas costas.


- Por que você tá mentindo pra mim, amor? - Jisung tinha os olhos fechados e torcia para não se arrepender do que estava dizendo - Por que você insiste em querer me afastar? - levou a sua mão vaga até a cintura a sua frente, subindo e descendo o polegar para acariciar as costas.


Felix sentiu seu corpo estremecer com o contato conhecido. Passou alguns segundos em silêncio até respirar fundo soltando o ar que percebeu estar prendendo. Sua cabeça estava uma confusão e era incapaz de organizar os pensamentos para respondê-lo, mas precisava controlar-se para conseguir.


- Não me chama assim... - sua voz saía baixa e insegura exatamente como não gostaria de parecer.


- Desculpa, Lico, foi no automático, eu não quis te incomodar - pedia com os olhos enchendo-se de lágrimas.


- Não me chama assim também. Não fica com esse tom cheio de carinho pra falar comigo - a voz aos poucos começava a embargar pelas lágrimas que começavam a correr por seu rosto - não me pede desculpas e não me culpa por te afastar se foi você que não fez questão de ficar - deu um passo a frente se afastando do contato com Han e virando para olhá-lo.


Jisung que até então mantinha a cabeça baixa apoiada nas costas de Felix, ergueu-a revelando seus olhos marejados. A dor que aquelas palavras causavam a ambos era palpável e possível de enxergar em suas feições. Se não fossem a distância que mantinham seria possível ouvir seus corações acelerados.


- Mas eu nunca quis deixar você se afastar, eu sempre fiz questão de estar aqui, mas eu também não ia te forçar a me aceitar e acabar te machucando se o que você queria era distância - Jisung da um passo na direção de Felix e leva uma das mãos até seu rosto, vendo-o fechar os olhos para receber o carinho - Lix, fala pra mim o que aconteceu de verdade, por favor? Foi o Jeongin que te convenceu a se afastar?


- O Innie não tem nada a ver com isso, ele só queria me proteger - a tentativa de defesa soa mais como se estivesse tentando convencer a si mesmo do que ao outro - ele queria me proteger de qualquer joguinho que você ou o Minho estivessem armando pra mim, porque ele é minha família e ele nunca faria nada pra me machucar.


- Meu bem, eu também sou sua família...


- Não é não! - se afasta bruscamente - Você me abandonou, Ji... você nem tentou reparar no quanto eu poderia estar machucado porque estava ocupado demais com o seu novo namoradinho. Eu sei que o Min é uma pessoa boa e ele precisava de você, mas eu também precisei e você não estava aqui.


- Me desculpa, Lix, me desculpa - dizia em meio aos soluços - eu só não sabia o que fazer e acabei fugindo dos meus sentimentos igual a um idiota, como eu sempre fiz..., mas se tem uma coisa que eu te garanto é que tentativas de o proteger não deveriam te machucar assim.


- Você não faz a menor ideia do que tá dizendo, tá legal? - Felix grita com um misto de raiva e dor em sua voz - Vai embora, Jisung.


- O que? Embora pra onde? Essa aqui também é minha casa, Lix. - Seus olhos se arregalam assustado pela mudança repentina.


- Eu sei lá, tá legal! Vai pra casa do Minho já que é tão comum dormir pra lá agora.


- Eu vou ficar aqui.


- Vai embora, Jisung, vai embora - aproximasse chorando ainda mais e dando alguns socos fracos e empurrões no braço de Han - me abandona de uma vez como sempre acontece e para de me confundir assim.


Jisung o abraça, sentindo-o debater-se por um tempo em seu abraço até ceder e apenas desabar de chorar. Han acaricia suas costas em silêncio até que o choro diminua e ele possa voltar a falar.


- Me desculpa se eu te fiz pensar que eu desistiria de você ou te abandonaria sozinho, Yongbok, mas saiba que isso nunca, jamais vai acontecer! Eu amo você desde o primeiro beijo que te dei agachado em frente ao forno, desde o primeiro momento que coloquei meus olhos em você, que pude ver seu sorriso, ouvir sua risada, te ver lutar por algo que queria e ainda mais quando te vi ser frágil e se permitir precisar de mim. - Afasta o abraço para que possa olhar em seus olhos - O meu medo sempre foi te perder, por isso eu nunca ousei falar nada disso pra ti. Só aceitei me afastar de você porque acreditei ser o que você precisava, acreditei que se ficasse poderia te machucar e quem ama se preocupa com isso, Lix, não quer machucar... agora vê se para de me mandar embora quando o que você quer é que eu fique aqui contigo porque é o que eu quero também! Me deixa ficar, me deixa ser sua família e te apresentar esse outro lado do amor, por favor?


Algumas lágrimas silenciosas ainda descem pelo rosto de ambos quando Felix alcança o rosto de Jisung e o puxa para selar seus lábios, separando-se apenas para finalmente se confessar.


- Eu amo você, Ji. Eu nem queria participar daquele concurso idiota, só queria uma desculpa pra falar com você porque eu sentia que precisava. - Ri envergonhado sendo acompanhado pelo outro que logo o puxa para selar seus lábios novamente, aprofundando o beijo aos poucos.


Aquela noite foi longa, muitas lágrimas ainda rolaram por aqueles olhos enquanto Jisung incentivava Felix a expor suas inseguranças, situações que o machucaram, medos, necessidades e situações que havia trancado apenas para si. Mas ao menos puderam ter certeza de que dormiriam com os ombros mais leves sem todo aquele peso para carregarem sozinhos e de coração quentinho tendo certeza que sabiam o quanto se amavam.

Lee Coffee | MinsunglixOnde histórias criam vida. Descubra agora