Aviso de gatilho: Este capítulo contém temas pesados: assédio sexual.
Meus dedos deslizavam na mesa em um batuque incessante. Eu lembro como estava entediado, como sentia minha garganta secar e meus músculos tremerem de dor por causa daquela cadeira desconfortável. Para acrescentar minha péssima experiência, a presença de meu pai me causava inquietações, suponho que pelos péssimos momentos que tivemos neste lugar. Sim, eu estava estudando em sua biblioteca. Ele fazia questão que eu ficasse sob sua vigia enquanto estudo, sob o pretexto de estar alerta caso eu não siga o nosso trato devidamente.
"Você não está focado." A régua foi batida na minha mesa de estudo.
Arqueei as costas para trás. "Porra, que susto!" Meu olhar subiu até o meu professor de administração. Ele se chamava Heitor. Era um homem de meia idade, barbudo e com opiniões demais para dar. Além de ser rígido, ele tinha uma personalidade desagradável. O perfil perfeito contratado pelo fracassado do meu pai.
Apesar de ouvir muito dos estalos de sua régua, ele não chegou a usar isso em mim, nem ousaria. Os efeitos do som da régua era para atrair minha atenção.
"Você não foi educado para falar de maneira tão vulgar." Meu pai, que antes sapateava de um lado ao outro pelas suas prateleiras repletas de livros de administração, se intrometeu.
"Foi mal, eu-"
Ele me encarou com raiva. Eu tinha falado informalmente de novo.
"Acho que foi um erro colocá-lo em uma escola pública. Já está cheio de gírias, falando e se comportando como um marginal."
Respirei fundo, tentando deixar seus absurdos de lado. "Sinto muito. Só estou com uma enxaqueca daquelas hoje... Não gostei da nova rotina de estudo." Eu odiei pra caralho. Nós deixava-mos para estudar administração aos fins de semana, mas por ser meu último ano na escola, meu pai estava mais ansioso que o normal. Ele deduziu que seria uma boa ideia me colocar para estudar todos os dias após largar da escola, pela noite. Ele não me perguntou nada sobre isso, nem se preocupou se meu cérebro ficaria cansado demais para focar em tanta baboseira administrativa.
"Isso não é nada comparado a faculdade. Concentre-se. Logo após os estudos você tem mais um dever a cumprir."
Franzi as sobrancelhas. Que dever? Estou fadado a seguir rigorosamente os desejos de outras pessoas. Há algo a mais que isso?
"O que você quer agora?"
"Não se trata do meu querer. Sua mãe também deseja isso. Ela volta hoje de viagem. Logo você saberá."
Estava surpreso que Amanda voltaria para casa, mas não criei algum tipo de sentimento afetuoso, porque algo como isso não estava mais presente na nossa relação. Mesmo que eu tentasse, não conseguia estar mais que uma hora na presença dela. Talvez o eu de tempos atrás corresse para seus braços chorando feito um tolo, mas o eu de agora... Sua presença para mim não passava de uma sensação de sufocamento.
"Que seja." Murmurei. Olhei para meu professor, na esperança de que ele me puxasse para longe daquela conversa. Os estudos de administração eram insuportáveis, mas as palavras de meu pai eram repugnantes demais para serem ouvidas por muito tempo.
Por sorte a minha, Heitor voltou ao seu trabalho. Por mais que eu tentasse focar, não conseguia. Comecei a me sentir mal pensando que eu teria que passar algumas horas em um jantar silencioso com dois estranhos em uma mesa sombria demais a ponto de me fazer perder o apetite.
Claro, depois de algumas horas, meus receios se concretizaram.
O risoto de cogumelos com contra-filé já havia há minutos esfriado em meu prato. O garfo em meus dedos deslizavam pelo prato em busca de uma maneira de me distrair com esperanças de que o tempo passasse mais depressa.
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O Brócolis e o Jogador
RomanceArthur Gomes é um jovem bonito e promissor. Intitulado como "melhor atacante" do clube de futebol por ser um achado proeminente, tal figura se tornou o famoso "popular" no ensino médio conforme suas habilidades eram descobertas, e não só as futebolí...