Entre álcool, suor e cinzas

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Ele deu uma tragada no cigarro e sentiu a fumaça deslizar doce para seus pulmões. Deu uma boa olhada em volta e percebeu a linda mulher sentada próxima do bar. O Última Chance não era exatamente um lugar para encontrar gente de família. O que estava tudo bem, ele não era do tipo de cara que procurava companhia assim.

A mulher estava de vestido e batom vermelhos, somados ao tom de sua pele morena, faziam sua figura irradiar uma energia indefinida entre paixão e luxúria. Um farol de calor naquele lugar frio. O olhar, dois punhais prontos para serem lançados sobre a próxima vítima. Naquela noite alguém estava vestida para matar.

Os olhos dela eram castanhos, claros como âmbar, e não demoraram para encontrar seu alvo. Ele devolveu o olhar, nenhum dos dois tinham intenção para disfarçar interesse, então ela o atingiu com um sorriso que expressava uma natureza livre e desinibida, capaz de contagiar qualquer pessoa que fosse testemunha. Ele somou um gole de uísque à excitação do momento e sentiu o sangue correndo em suas veias aquecendo ainda mais. A presença do gelo no copo era insignificante naquelas circunstâncias.

Ele levantou e caminhou até próximo ao balcão, onde ela estava, fracassando em tentar construir uma cena casual, como se nada estivesse acontecendo ali. O que de fato era verdade, afinal nada havia acontecido. Ainda.

Depositou o copo vazio no balcão e acenou para o atendente. Ele pediu outra dose de uísque. Dupla. Apanhou os cigarros do bolso, colocou um entre os lábios e em seguida estendeu o maço na direção dela.

— Aceita? — Seus olhares se cruzaram, as intenções de ambos eram explícitas. — Como vai? Meu nome é Jack.

Ela tentou mostrar surpresa, fingir certo desinteresse, desperdiçando o tempo dos dois num jogo que ambos estavam dispostos a começar, enquanto deixou escapar, no canto daqueles lábios rubros, um sorriso tão tímido quanto fingido.

— "Jack"? — Indagou num tom debochado.

Ele devolveu o sorriso, mas cínico ao invés de tímido, embora igualmente fingido.

— Meu pai via muitos filmes de ação, dizia que Jack era nome de herói. — Respondeu ainda com a carteira de cigarros erguida na direção dela, seguindo seu papel naquele jogo velado entre os dois. — Então me chamou assim.

— Meu nome é Elisabeth. Elisa. Prazer em te conhecer, mas acho que não sou alguém que ainda pode ser salva por algum herói.

Elisa aceitou os cigarros. Aceitou as doses de uísque. Aceitou ir ao apartamento de Jack.

Durante aquela noite, entre lençóis suados, garrafas vazias e pontas de cigarros apagadas, dois desconhecidos usaram um ao outro e encontraram a chama de prazer que buscavam, naquela cidade escura e fria, indo ao bar Última Chance.

FIM

Nota do autor: esta é uma versão reescrita de um dos meus primeiros textos na busca de expressar um estilo noir numa história , espero que tenha obtido algum sucesso nesse sentido e peço que, caso a experiência de leitura tenha valido a pena, deixem comentários, sugestões e críticas, sejam positivas ou negativas. Ainda mais, se o texto conquistou mérito para tal, curtam, favoritem e compartilhem, por favor! Estas são pequenas interações que ajudam e principalmente, incentivam bastante para partirmos na busca de um sorriso das Musas enquanto escrevemos os parágrafos da nossa próxima jornada!

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⏰ Last updated: Aug 11 ⏰

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O Blues de Nova BabelWhere stories live. Discover now