|012 - Caixões e Fosso.

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E num sopro breve de início de primavera, minha semana se foi e o sábado já estava batendo à porta

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E num sopro breve de início de primavera, minha semana se foi e o sábado já estava batendo à porta. A calmaria daquela manhã me parecia ultrajante comparada ao nervosismo que me corroía, a ideia de rever os Cullen em sua casa me parecia início de piada infame. Sete vampiros que se dizem vegetarianos e um pedaço grande e fresco de carne humana, não era exatamente o meu tipo de passeio se alguém perguntasse. Porém, eu precisava ao menos tentar alguma informação com Carlisle.

Eu não havia dormido nada na noite anterior, não apenas pela iminência do meu destino para hoje, mas também pelo teor dos textos que havia começado a estudar naqueles livros. Mais do que as tentativas dos outros de sobreviver à maldição, encontrei formas de lidar com ela, usar aqueles poderes em autodefesa. E essa, foi a melhor ideia que me apareceu em sucessivos dias de pesadelos e a constância pérfida naquele medo enervante da condenação eterna.

A janela escancarada à minha frente revelava uma paisagem muito mais verde do que a que encontrei quando cheguei nesta cidade. O início da primavera trazia uma pitada de vida para a melancolia rotineira de Forks. No entanto, a relva fresca não era o meu foco agora, mas sim a bolinha vermelha caída na orla da floresta.

Me concentrei na esfera carmim, tentando limpar a minha mente de qualquer coisa além dela. Respiração calma e ponderada, me isolei do mundo no som do vento, e então estendi a mão aberta para fora da janela. Guiei, da forma que estava escrito no primeiro diário, toda a minha energia até o objeto e me concentrei em puxar de volta. Senti um líquido escorrer de meu nariz - provavelmente sangue - e minha cabeça parecia prestes a estourar, mas me obriguei com toda a força de vontade que tinha a ignorar a dor pelo menos dessa vez.

Minutos se passaram, meu cérebro parecia estar sendo pisoteado dentro do crânio. Quando estava quase convencido de que nada aconteceria pela enésima vez consecutiva, a bola se ergueu no ar e voou em minha direção. A esfera bateu na palma da minha mão e caiu no chão, não tive forças para segurar. Zonzo, me inclinei na janela e vomitei em um espasmo de dor excruciante, um denso líquido preto cobriu a grama ao pé da parede.

Vi com olhos lacrimejantes aquilo matar a vegetação, os insetos escondidos ali debandaram do local em um cardume horrendo de lacraias e baratas. Meu terror só não foi maior do que o cansaço, e eu apenas amoleci no chão do quarto, incapaz de seguir acordado. Quando a escuridão me engoliu, o fogo do inferno em meus sonhos ainda me aguardava.

XXX

Meu baixo e desafinado cantarolar se mesclava à música e ao barulho do motor, a familiaridade desses sons me acalmava mais do que qualquer remédio. Havia algo de livre em dirigir que deixava minha alma mais leve. Talvez fosse apenas minha natureza medrosa falando, mas eu amava a ideia de poder ir a qualquer lugar que quisesse. A possibilidade de apenas fugir, isso me fez amar essa pickup velha aos poucos.

Há algum tempo não me irritava mais com a ferrugem e os remendos feitos por Jacob após a batida, até gostava de como esse veículo tinha uma parte da minha história a contar. Era o pensamento bobo e sentimental de um adolescente com um pé no inferno, mas isso também não me importava mais. Quando se tem uma sentença de morte nas costas, o medo de outras coisas diminui.

THE SINNER - Crepúsculo.Onde histórias criam vida. Descubra agora