Eu ardia e queimava com aquelas teias emaranhadas em mim. Tentei tornar minha pele mais rígida para evitar o dano, mas só diminuiu um pouco o ferimento e a dor. Os meninos começaram a me puxar e empurrar para eu me desvencilhar, mas não deu certo e eu fiquei mais agarrada ainda pelas teias.
Eu gritava e implorava que me ajudassem e eles continuavam tentando cortar as teias. A ideia do Joseph foi absurda de tacar fogo nas teias, o que o não-tão-insuportável-ultimamente, Stefan, retrucou trazendo o bardo a um mínimo de consciência sobre o que aconteceria se ele fizesse aquilo.
Toshinori e Kroll arrancaram as teias com suas armas e, finalmente, eu estava livre. Agradeci e todos me orientaram a voltar e me curar na área que eu tinha consagrado. Sentindo o reflexo daquela dor excruciante, fiz uma prece a Allihanna e minhas feridas se fecharam e, gradualmente, a dor foi embora.
Quando voltei para o corredor, encontrei uma cena maravilhosa: Stefan estava nos braços do Toshinori porque, ao ser tocado por uma teia, ele tomou um susto e pulou em direção ao paladino para não sofrer as queimaduras. Com certeza, essa cena não vai sair nunca da minha memória.
Como sugerido pelos meninos, aqueles corpos no corredor eram de anões que ficaram presos nas teias. Descobri isso quando abaixei e comecei a analisar um por um. Alertei a todos sobre isso e para que tomassem muito cuidado para não ter o mesmo destino deles. Destino que eu quase tive. Agradeci demais a esse povo.
Stefan falou com Joseph que, agora que eu estava solta, ele poderia, enfim, lançar fogo lá dentro. Antes que ele agisse, porém, Edward quase ficou preso também às teias enquanto explicava um plano para atravessar o corredor. Finalmente, decidiram pegar um dos meus óleos com Toshinori e saímos todos do corredor, liberando espaço para Joseph.
Ele estalou os dedos e pegou fogo lá dentro. Alguns minutos depois, o fogo cessou e o inventor decidiu continuar avançando junto com o paladino iluminando o caminho. Eu fiquei por último dessa vez. Assim, Stefan contou-nos sobre como deveríamos avançar, porque as armadilhas estavam em diagonais pelo corredor.
Então, andamos, desviando das possíveis armadilhas. Chegando à porta do outro lado do corredor, Stefan viu que estava trancada e, segundo ele, precisávamos ou arrombar ou ladinar. Todos olhamos para o Joseph, que entendeu o recado, trocando de lugar com o kliren.
Ele tentou, tentou, tentou e não conseguiu. Mais uma vez. Stefan trocou de lugar com Kroll e começou a ajudar, mas falhou miseravelmente. Perdemos algum tempo nessa brincadeira. Decidimos partir para força bruta e abrimos espaço para os armários do grupo. Eles conseguiram errar a porta e a cena ficou meio esquisita ali do bárbaro com Toshinori. Prefiro não comentar. O Kroll ficou meio enfurecido com os movimentos estranhos do paladino e acertou com tudo a porta, que se abriu.
Com a abertura da porta, um gás começou a escapar lá de dentro da sala recém aberta. Edward levantou seu escudo e nos protegeu, assim, inalamos pouquíssimo veneno, mas inalamos. Em meio a tosses e olhos ardendo, avançamos pela sala. Senti um acalento em meus ombros, meus olhos pararam de arder e a garganta não arranhava mais. Olhei confusa para Toshinori e ele estava brilhando. Ele sorriu me dizendo que queria aliviar um pouco minha barra, pois sentia que todos precisariam de mim em breve para ser médica de campo do grupo. Agradeci.
A sala era um escritório, como uma sala de leitura, com livros, mesa, baú. Começamos a analisar tudo, então, Stefan entregou uns papéis para Toshinori ler. Era mais uma parte do diário da anã inventora Tallaka. Nele, ela contava sobre o tal artefato que a ajudava a moldar aço-rubi e seus experimentos com matéria orgânica.
Aqueles corpos que foram queimados lá perto do buraco, foram queimados por ela, quando seus experimentos deram errado. K ficou assustado e levou suas mãos à cabeça. Toshinori confortou-o dizendo que, em momentos de guerra, o que ela fez era o necessário. Essa observação causou assombro no golem, mas não em nós. Fez um grande discurso sobre coragem e que ele jamais fugiria de uma bomba, se atiraria sobre ela. Ele é um paladino bem peculiar.
Kroll abriu o baú e encontrou 80 peças de ouro, provavelmente, as últimas economias de Tallaka. Enquanto dividíamos o valor entre nós, Stefan também aproveitou para vasculhar alguns livros na estante. Foi quando um objeto caiu do meio dos livros no chão. Era uma chave como uma outra que o inventor havia encontrado antes, em formato piramidal na ponta.
O bardo achou que seria uma boa oportunidade de sabermos a profundidade do buraco se jogássemos a chave lá. Eu fechei os olhos, respirei fundo e balancei a cabeça. Felizmente, o inventor é inteligente e, nem tão felizmente assim, ganancioso. Pelo menos, ele proibiu o Joseph de fazer essa atrocidade, porque ele queria aço-rubi. Ponto para o Stefan!
Já Toshinori parecia ir de mal a pior, realmente, trocando de lugar com o inventor em espírito. Ele começou a puxar todos os livros da estante e, ainda, perguntou se tínhamos ouvido quando a porta abriu. Que porta? Não tinha porta alguma. Segui Stefan quando ele voltou para o corredor. Somos um bando de loucos.
Driblamos as armadilhas do corredor das teias outra vez. Eu estava no final da fila e Stefan decidiu continuar tentando acertar a charada da outra porta. Sugerimos outras palavras possíveis para uma senha de acesso. O enigma de Tenebra estava sugando algo vital no inventor e ele não queria correr o risco outra vez.
Ficamos alguns minutos discutindo. Eu tinha pensado em CONSTELAÇÃO e, então, Stefan se ligou que ele escreveu no singular ESTRELA e que poderia ser ESTRELAS, no plural. Mas não era possível! Discorremos mais um pouco e mais um pouco. É o jeito Desafiantes de Yuvalin de ser: debater eternamente sobre um assunto.
Votaram por LUA. Stefan escreveu na porta e ouvimos um estalo. De repente, o teto caiu sobre as nossas cabeças. Simplesmente desabou. Edward gritou para nos protegermos e, em menos de um segundo, consegui enrijecer minha pele e escamas, não me machucando tanto quanto se não tivesse usado esse poder.
Após o cessar do barulho das pedras rolando, ouvi um outro som terrível: o kliren balbuciando palavras ininteligíveis. Estávamos em perigo, vivos, porém com um louco a solta. Eu precisava chegar nele para que a situação não piorasse.
Atravessei o corredor correndo e toquei a testa do Stefan, que já estava começando a babar. Que nojo! Saiu magia das minhas mãos e iluminou a mente dele, que piscou algumas vezes e abriu um sorriso cheio de confiança. Ele sabia que a resposta era ESTRELAS.
K estava revoltado porque ficou confuso com tantas sugestões. O inventor me agradeceu pela ajuda – estou chocada com esse outro Stefan. Será que ele perdeu a memória de novo?
Voltei para o fundo do corredor para acudir Noah que estava lambendo algumas feridas. Fiz carinho nela, ajudando-a a se sentir melhor, principalmente, depois que Toshinori brilhou novamente com sua aura de cura.
A porta estava aberta. Começamos a avançar por mais um corredor estreito em S. Eu estava no final da fila, não via nada, mas ouvi os meninos falando sobre abrir uma outra porta. Um rugido aterrador saiu da sala. E eles já estavam em batalha lá na frente, gritando, batendo e apanhando. Apanhando bastante. Essa seria a nossa maior batalha até então. Afinal, devíamos estar bem perto agora do que estávamos procurando.
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Épico e aquático
FantasyDiário pessoal de Helga Iris, sereia, druida e aventureira da Guilda de Mineradores de Yuvalin, em Arton. Esse é o resultado dos relatos da personagem no Tormenta20, um jogo de fantasia épica. Todos os capítulos são publicados primeiro no blog Qual...