Capítulo II

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Toquei à campainha e dona Rosa apareceu a abrir a porta.  Achei-a abatida e um pouco curvada.

- Boa tarde,  minha filha.  Hoje não é dia de vires.

- Hoje venho por outro motivo.  Dona Rosa, será que posso passar aqui esta noite?  Prometo que amanhã vou embora.

- Entra.  Vamos conversar um pouco.

Juliette entrou e falou tudo o que se tinha passado em casa e a razão dela estar ali de mala na mão.

- Entende agora porque preciso de uma  lugar para passar a noite?

- Entendo.  Ficas aqui comigo enquanto quiseres.  Tenho ali o segundo quarto que já conheces e ninguém usa.  Pode ser teu.

Obrigada dona Rosa.  A senhora é um anjo na terra.

Juliette foi colocar a mala no quarto e regressou à sala onde ficaram a conversar por horas.  Juliette contou-lhe o que sabia da mãe e também das patifarias do pai e da madrasta.

Foi quando estavam as duas a preparar o jantar que o telefone de Juliette tocou.  Era o pai e exigia que regressasse a casa.

Juliette apenas respondeu que não voltava e que a esquecesse.

- Não posso esquecer.  Tu deves voltar e assumir o lugar de mulher de Tobias.

Ao ouvir isto,  Juliette desligou o telefone e bloqueou o número do pai.  Era absurdo ele ainda insistir no casamento.

- Ouviu dona Rosa?  O meu pai está completamente louco para pensar que eu iria aceitar esta situação.

- Isso não é pai.  É inaceitável esta situação.  Não vais apresentar queixa pela surra que levaste?  No teu lugar era a primeira coisa que faria.

- Não dona Rosa.  A partir de hoje sou órfã de pai e mãe.  Nunca mais o quero ver

- Quem me dera ver o meu filho mais uma vez.  Foi para longe, ele e a minha nora e agora estão os dois com problemas de saúde e não conseguem vir cá.  Também tenho muitas saudades do meu netinho.

- Só tem um neto?

- Sim.  Está com 26 anos e é arquitecto como tu queres ser.  Saíram daqui tinha o meu Rodolffo 15 anos e nunca mais o vi.

- E onde estão?

- Na Finlândia.  Dizem que lá faz muito frio.  O meu Jorge nunca gostou de frio, mas quando lhe ofereceram emprego lá, ele nem exitou.  O salário era 10 vezes superior ao que ganhava aqui e o maior sonho dele era dar o melhor à família.
Foi de repente.  Um dia chegaram aqui para se despedir e partiram.  Nunca mais regressaram ao Brasil.

- E não se falam pelo telemóvel?
Ou em vídeo chamada?

- Às vezes eles ligam, mas é raro.  Por vezes a comunicação é ruim.  Vem ver o álbum de fotografias da familia.  É com ele que eu mato saudades.

- Um dia destes ligamos do meu telemóvel e vamos tentar que se vejam.  É lá no fim do mundo, mas com a Internet tudo fica perto.

- Eu adorava ser jovem agora.  Gosto tanto destas modernices.   A única coisa que não gosto é de estar longe dos meus.

O jantar estava pronto.  Juliette e Rosa sentaram-se à mesa e segundo esta última referiu, não se lembra quando foi a última vez que jantou com alguém.

Coração MalvadoOnde histórias criam vida. Descubra agora