Toquei à campainha e dona Rosa apareceu a abrir a porta. Achei-a abatida e um pouco curvada.
- Boa tarde, minha filha. Hoje não é dia de vires.
- Hoje venho por outro motivo. Dona Rosa, será que posso passar aqui esta noite? Prometo que amanhã vou embora.
- Entra. Vamos conversar um pouco.
Juliette entrou e falou tudo o que se tinha passado em casa e a razão dela estar ali de mala na mão.
- Entende agora porque preciso de uma lugar para passar a noite?
- Entendo. Ficas aqui comigo enquanto quiseres. Tenho ali o segundo quarto que já conheces e ninguém usa. Pode ser teu.
Obrigada dona Rosa. A senhora é um anjo na terra.
Juliette foi colocar a mala no quarto e regressou à sala onde ficaram a conversar por horas. Juliette contou-lhe o que sabia da mãe e também das patifarias do pai e da madrasta.
Foi quando estavam as duas a preparar o jantar que o telefone de Juliette tocou. Era o pai e exigia que regressasse a casa.
Juliette apenas respondeu que não voltava e que a esquecesse.
- Não posso esquecer. Tu deves voltar e assumir o lugar de mulher de Tobias.
Ao ouvir isto, Juliette desligou o telefone e bloqueou o número do pai. Era absurdo ele ainda insistir no casamento.
- Ouviu dona Rosa? O meu pai está completamente louco para pensar que eu iria aceitar esta situação.
- Isso não é pai. É inaceitável esta situação. Não vais apresentar queixa pela surra que levaste? No teu lugar era a primeira coisa que faria.
- Não dona Rosa. A partir de hoje sou órfã de pai e mãe. Nunca mais o quero ver
- Quem me dera ver o meu filho mais uma vez. Foi para longe, ele e a minha nora e agora estão os dois com problemas de saúde e não conseguem vir cá. Também tenho muitas saudades do meu netinho.
- Só tem um neto?
- Sim. Está com 26 anos e é arquitecto como tu queres ser. Saíram daqui tinha o meu Rodolffo 15 anos e nunca mais o vi.
- E onde estão?
- Na Finlândia. Dizem que lá faz muito frio. O meu Jorge nunca gostou de frio, mas quando lhe ofereceram emprego lá, ele nem exitou. O salário era 10 vezes superior ao que ganhava aqui e o maior sonho dele era dar o melhor à família.
Foi de repente. Um dia chegaram aqui para se despedir e partiram. Nunca mais regressaram ao Brasil.- E não se falam pelo telemóvel?
Ou em vídeo chamada?- Às vezes eles ligam, mas é raro. Por vezes a comunicação é ruim. Vem ver o álbum de fotografias da familia. É com ele que eu mato saudades.
- Um dia destes ligamos do meu telemóvel e vamos tentar que se vejam. É lá no fim do mundo, mas com a Internet tudo fica perto.
- Eu adorava ser jovem agora. Gosto tanto destas modernices. A única coisa que não gosto é de estar longe dos meus.
O jantar estava pronto. Juliette e Rosa sentaram-se à mesa e segundo esta última referiu, não se lembra quando foi a última vez que jantou com alguém.
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Coração Malvado
FanfictionNão te feches ao amor. Não resistas. Deixa que a natureza haja no tempo certo.