4.

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O retorno ao trabalho foi tão gratificante quanto Amaury sabia que seria. Era incrível poder voltar à sala de aula, ter contato com seus alunos e sentir que ele fazia diferença, que sentiram sua falta, assim como ele sentiu a deles.

A manhã se encerrou e se encontrava no escritório de Samuel, deitado sobre o sofá, enquanto o amigo via no computador o arquivo com os panfletos que Diego havia feito para a Amostra Cultural.

"Isso ficou incrível, Amaury."

Bateu palmas, empolgado com o que via.

"Ele realmente não quer pagamento?"

"Não. Esse é o Diego."

Bocejou ao falar. Jogava uma bolinha anti-estresse para cima e a pegava no ar, antes de cair.

"Você prometeu pagar de outras formas?"

O sorriso de Samuel era implicante, mas logo sumiu ao ver que Amaury não respondeu a provocação como costumava fazer, com uma piada e risada.

"Aconteceu alguma coisa, nego?"

O silêncio de Amaury o instigou mais.

"Puta merda, aconteceu alguma coisa!"

Empolgado, o mais velho se levantou e praticamente correu até o sofá, ficando em pé em frente ao amigo, mas foi se sentando aos poucos, à medida que Amaury contava a história com Thiago e o que aconteceu no dia seguinte.

"Mano do céu."

Foi o que respondeu.

"Você ajuda muito, hein?"

Revirou os olhos para o diretor, e passou a jogar a bolinha para cima com mais força.

"Cara, você realmente acha loucura?"

Amaury parou de jogar a bola e respirou fundo, balançando a cabeça em confusão. Passou a mão pelo rosto, coçou a barba exasperado, pensativo. Sentia o olhar do amigo sobre si e desejou muito não ter dado trela para esse assunto. Ele não tinha respostas.

Diego era a pessoa que mais ocupava sua mente. Passava mais tempo com ele do que com qualquer outra pessoa no mundo. Ele era sua pessoa preferida, se sentia em casa apenas quando o via. Mas, ao mesmo tempo, era o assunto que mais evitava pensar, falar.

"Eu sou quebrado, cara."

Falou, por fim. Voltou a jogar a bolinha.

"O que você quer dizer com isso?"

"Eu..."

Respirou fundo, não encarava Samuel, apenas a bolinha que subia e descia.

"Eu não consigo passar mais de uma noite com uma pessoa sem enjoar."

"E o que isso tem a ver com o Diego?"

"Não posso fazer isso com ele, Samuel."

Era um tom de voz objetivo, talvez com um quê de tristeza, mas com uma certeza de ser algo que Samuel não concordava, e se surpreendeu ao notar que Amaury enxergava as coisas tão diferente do resto do mundo.

"E por que com ele seria desse jeito, nego?"

"E por que não seria?"

Samuel não conteve a risada e foi repreendido pelo olhar do outro.

"Nego, é pro Diego que você corre depois de não aguentar estar mais com qualquer pessoa."

Amaury pareceu pensar, mas logo balançou a cabeça de novo, em negação.

"Você já pensou que talvez não aguente as outras pessoas, elas não tenham graça, porque a graça que precisa para tudo, você encontra no Diego?"

Talvez, Samuel pensou, sua análise tenha ido longe demais, já que recebeu uma risada incrédula de Amaury como resposta.

don't say yes to him Where stories live. Discover now