Capítulo Quinze.

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"Se todo mundo viu, por que você não tá vendo todo esse esforço que eu tô fazendo? Pra fazer você se sentir orgulhoso" Todo mundo menos você.

O tempo que levou para chegar na cidade interiorana foi de 30 a 40 minutos, mas ainda pareceu uma eternidade para um Kelvin que sentia como se pudesse explodir de tanta ansiedade. Ele estava sentado no banco do carona ao lado do motorista, Ramiro, e não conseguiu dizer uma palavra sequer durante o percurso pois sempre que estava em situações de muito estresse ele se fechava em seus próprios pensamentos e não conseguia falar nada, diferente do seu normal que era comunicativo e sempre muito falante.

— Vai dar tudo certo. — Ramiro toma a mão de Kelvin e deixa um beijo nela, tentando passar o máximo de conforto possível enquanto dirigia.

— Eu não sei o que fazer se não der. — É tudo que Kelvin responde soltando ar de seu pulmão, ele sentia como se tivesse uma bola de ferro pressionando seu peito e uma mão esmagando seu coração.

Assim que o som dos pássaros, bois, cachorros de rua e pessoas conversando animadamente pode ser ouvido, isso significava que haviam chegado em Nova Primavera. Faziam anos que Kelvin não pisava mais na cidade, desde que saiu de casa ele jurava que não iria mais retornar aquela cidade onde fora tão infeliz.

Sua única felicidade em Nova Primavera foi conhecer Ramiro. E sua maior tristeza foi perdê-lo ali também.

— Gente, que cidade bonitinha.... Eu nunca tinha vindo pra cá desde que me mudei pro Mato Grosso...— Diz Buba olhando para a rua com seu vidro abaixado, sentindo o vento fresco bater em seu rosto.

— Do Sul! — Ramiro e Kelvin corrigem instantaneamente, arrancando uma risada sincera de Augusto.

— Eles se ofendem com isso de verdade, amor. — Augusto cutuca Buba que também ria.

— Eu percebi. — A mulher responde, Ramiro estaciona o carro pois Stênio passou por ele e também havia parado logo em frente a praça da cidade.

— Ramiro, você vai me acompanhar até a casa da cobra ou quer que eu vá sozinho? — Diz Stênio assim que todos estavam fora dos veículos e se agruparam em frente ao carro do Neves.

— Eu vou também, essa homofóbica tem um problema comigo e ele vai ser resolvido. — Ramiro fala com uma voz firme que faz Kelvin se sentir seguro e orgulhoso, porque ele conhece o outro e sabe o quanto ele odeia confrontos.

A casa de Eva não ficava muito longe do centro da cidade, então todos seguiram o caminho a pé com os advogados: Ramiro, Stênio e Bento, indo em frente e Augusto com Buba acalmando Kelvin mais atrás. Ao chegar na frente da residência era irônico como a frente da casa podia contar perfeitamente a personalidade da moradora: tinta descascada, flores murchas, grama mal cuidada e pátio sujo.

Alguém sem amor pelo próprio filho não tem amor e zelo por mais nada.

Os passos de Stênio indicavam o quão irritado ele estava, parando na frente da porta o advogado não se deu o trabalho de apertar a campainha, apenas dá três batidas contra a madeira e suas mãos se apoiam na cintura.

— Eva, vamos, apareça! Quero ver se você é corajosa só pra crescer em cima do meu filho. — Stênio brada sem paciência, os outros ficaram mais atrás, porém perto o suficiente para intervir caso alguma coisa pudesse acontecer.

— Mas quem é esse... Stênio? — Eva aparece na porta com uma carranca enorme em seu rosto, logo atrás dela uma figura de cabelos ruivos surge curiosa. — Dulce, fique aqui.

— Vovó eu quero ver quem é... — Sempre mais ágil, Dulce consegue ver através das pernas da avó que seu pai estava ali fora e mais do que depressa sai correndo até ele. — Papai!

Projeto Cupido - KelmiroWhere stories live. Discover now