CAPÍTULO 29

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"Meu remédio contra o medo, me deixa sem estresse. Teu olhar é tudo o que preciso, a luz que me aquece. Entre becos e vielas, entre a paz e o perigo, você ali, sorrindo, de mãos dadas comigo. A gente se abraça, minha mão no seu cabelo eu ponho, mas adivinha, eu acordei e era só um sonho." - Dom M


ELISABETTA

Na sala de espera do consultório ginecológico, eu folheava uma revista de semijoias enquanto esperava meu nome ser chamado. Depois de uns cinco anos usando DIU como fórmula anticoncepcional, eu decidi tirá-lo e preparar o meu corpo para algo mais duradouro e que me afetasse menos. Conversei com minha médica que cuida de mim há anos e decidimos tentar o implante contraceptivo, que pode me proteger por até três anos. Claro que eu quero ser mãe, mas se aos trinta e quatro anos, ainda não rolou, eu consigo esperar mais um pouco. Além do mais, acredito que ter um filho não está nos planos do Beto, nem pra agora e nem para o futuro. E eu não tenho a menor condição de gerar uma vida agora, já que não planejo deixar o batalhão e me vejo cada vez mais enrolada no que meu namorado chama de crise dos dez anos. Ele jura que eu vou conseguir sair dessa logo, mas eu tenho minhas sinceras dúvidas se sairei dessa inteira. Ele superou, quando foi a vez dele, mas para superar, preferiu abrir mão de um casamento e de criar seu filho tranquilamente. Se eu chegar ao beco sem saída de ter que escolher entre Beto e meu batalhão, o que eu escolheria?

Balanço a cabeça, afastando os pensamentos confusos e negativos, buscando me manter calma. Eu estou de licença, não quero ter que pensar em nada burocrático durante esses dias. Enquanto eu folheava a revista, meu celular pessoal vibrou e eu me surpreendi ao ver uma mensagem de áudio do meu pai. Meu pai e eu éramos muito ligados, mas depois que ele saiu de casa, nosso relacionamento rompeu de uma forma irreparável. Eu não sei, mas parece que a partir do momento em que meu punho encontrou o nariz dele, nós passamos a ser dois estranhos um para o outro e nos falando apenas o necessário, quando necessário.

Carolina, bom dia. — ele iniciou o áudio com uma saudação gentil e eu dei um meio sorriso ao ouvir sua voz grave — Eu soube do ocorrido dos últimos dias, conversei com sua irmã e com seu comandante. Quero conversar com você pra saber como você está, te ligo mais tarde, às oito. Tenha um bom dia aí.

Respirei fundo. Meu pai não gostava muito de aplicativos de mensagens, mas sempre que queria falar comigo, me avisava pela manhã que me ligaria de noite. Ele sempre foi assim, obcecado com controle. Ele me ensinou que quem se organiza, não é pego desprevenido, porque saberá o que fazer caso algo dê errado. Talvez eu seja controladora por causa dele, foi o que ele me ensinou.

— Bom dia, Almirante. — eu disse ao apertar o botão e começar a gravar um áudio de resposta — Positivo, senhor. A gente se fala mais tarde. Tenha um bom dia também.

Eu sei, formal demais, mas eu não consigo evitar. Eu sei que ele odeia ser tratado com as formalidades militares pelos familiares, mas eu não consigo evitar porque gosto da ideia de que irei irritá-lo devido ao deboche.

— Elisabetta de Lima. — a recepcionista me chamou

— Eu. — respondi ao erguer a cabeça e ver a médica apoiada no balcão, segurando minha ficha

— Vamos lá? — ela sorri pra mim

— Sim, vamos.

Eu devolvi a revista de joias para o aparador ao lado da poltrona, joguei meu celular dentro da minha bolsa e me levantei, desamassando o vestido longo e leve que eu usava. Segui pra dentro do consultório e me sentei em uma das cadeiras confortáveis que estavam em frente a mesa dela, enquanto a doutora fechava a porta e vinha até mim.

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