Capítulo 1: O Fim e o Começo

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Ren era o retrato de uma vida rotineira e sem emoção. Aos 35 anos, levava uma vida comum em Tóquio, onde acordava cedo, enfrentava o trem lotado e passava os dias em um escritório de contabilidade. À noite, voltava para o pequeno apartamento, onde assistia a algum programa ou se dedicava ao que mais gostava: videogames. Em especial, Genshin Impact. Para ele, o jogo era mais do que diversão; era uma fuga para um mundo cheio de aventuras e dramas que pareciam maiores que a própria vida.

Ren era especialmente fascinado por Wriothesley, um personagem que ele conhecia bem. A história de Wriothesley era marcada por tragédias e desafios que o moldaram em alguém forte e determinado. No jogo, Wriothesley era um símbolo de justiça fria, alguém que conquistou seu próprio caminho após uma infância difícil e cheia de perdas. Ren admirava isso. Ele imaginava que, em outro mundo, talvez tivesse um pouco daquela coragem.

"Se eu fosse assim... talvez minha vida fosse diferente", ele murmurava para si mesmo, enquanto segurava o controle com força.

Naquela noite de outubro, após um longo dia de trabalho, Ren foi preparar uma xícara de chá para relaxar antes de dormir. Enquanto mexia o chá, uma dor inesperada e aguda atravessou seu peito. Ele tentou gritar, mas a dor o silenciou antes que pudesse pedir ajuda. O chão se aproximou, e tudo ao redor escureceu.

Quando Ren abriu os olhos, a primeira coisa que sentiu foi o chão frio sob si. Ele estava deitado em um lugar escuro, apertado e abafado. Ao se levantar, percebeu que estava em um quarto pequeno e sujo. No canto, uma janela quebrada deixava o vento gelado passar, e uma única vela iluminava o ambiente com uma luz fraca.

"Onde... onde eu estou?", murmurou, assustado. Sua própria voz soou estranha, mais fina e jovem.

Ren tentou entender onde estava e, ao levantar as mãos, percebeu algo ainda mais estranho. Elas eram pequenas e frágeis, como as de uma criança. Com um sobressalto, percebeu que seu corpo também era pequeno, como se tivesse apenas oito ou nove anos.

"Que tipo de sonho é esse?", ele murmurou para si, tentando afastar o pânico. Mas, ao tocar o próprio rosto e sentir a pele fria e magra, percebeu que não era um sonho. Sua cabeça estava cheia de lembranças estranhas, uma vida que não era a dele.

"Isso... isso é impossível!", ele exclamou. Ele estava em um orfanato - um lugar que conhecia pelas memórias de seu novo corpo. Ele era Wriothesley, mas ainda assim, era Ren, preso em uma vida que conhecia bem pelo jogo.

Os dias ali eram cruéis. As crianças no orfanato eram maltratadas, quase esquecidas. A comida era pouca, as roupas eram rasgadas, e os responsáveis, um casal de donos severos, tratavam os órfãos com brutalidade. Ren - agora Wriothesley - entendia que aquelas pessoas tinham um propósito terrível. Eles vendiam crianças para ganhar dinheiro, deixando-as aos poucos desaparecer.

"É errado. Tudo isso... é errado", Ren sussurrava no escuro, tentando manter alguma esperança. Mas ele sabia que esperança era um luxo raro naquele lugar.

O ódio começou a crescer dentro dele, um sentimento que nem Ren nem o pequeno Wriothesley conheciam antes. No silêncio de suas noites solitárias, ele alimentava a ideia de que aquilo precisava acabar.

"Eu vou mudar isso. Não vou ficar parado", ele murmurava para si mesmo, como uma promessa.

E, então, uma noite, quando as velas já estavam apagadas e o frio era cortante, ele decidiu que não aguentaria mais. Naquela madrugada, quando todos dormiam, ele se aproximou dos donos do orfanato enquanto descansavam.

"Isso termina agora", disse ele, sua voz firme, embora frágil. O rosto de Ren estava sério, o coração acelerado, e a vontade de mudar aquele destino cruel era maior do que qualquer medo.

Com um pedaço de metal que achara nos arredores do orfanato, Wriothesley - com a determinação de um adulto e a coragem de quem não tinha mais nada a perder - deu fim ao que o prendia naquela vida miserável.

Na manhã seguinte, o silêncio foi absoluto. As outras crianças o olhavam com admiração e temor. Uma menina, com olhos curiosos, se aproximou.

"Você fez isso mesmo?", ela sussurrou, incrédula.

"Sim", respondeu ele, olhando-a com determinação. "Eles não vão nos machucar mais."

Em poucos dias, os rumores chegaram às autoridades locais, e Wriothesley foi levado sob custódia, sem oferecer resistência. Ele sabia que enfrentaria um julgamento, mas também sabia que, de alguma forma, finalmente estava no controle de seu próprio destino.

"Eu aceito o que vier", pensou, enquanto era levado.

Ecos de Teyvat: Entre Memórias e DestinosOnde histórias criam vida. Descubra agora