Capítulo 18 - Cicatrizes da alma.

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1997

Os olhos de criança são como janelas que se abrem para uma alma iluminada, repleta de sonhos efêmeros. Eles transmitem uma segurança quase palpável, pois as crianças são a personificação da inocência e sua bondade é absolutamente genuína. Pequenas criaturas indefesas, desprovidas de qualquer entendimento sobre as complexidades da vida. É impossível não sentir um impulso protetor, um desejo incontrolável de salvá-las de um mundo repleto de monstros, corrompidos pela maldade humana que as rodeia.

Os grandes globos âmbar que habitam o olhar de Alastor reluzem com a curiosidade de um pequeno travesso, fascinado pelo aroma que se eleva de uma panela que borbulha sobre o fogão. Ele se estica na ponta dos pés, tentando desvendar os segredos que se escondem lá dentro, mas, como um pequeno gigante de apenas 10 anos, sua estatura ainda não é suficiente para alcançar a visão desejada.

A mãe, Alice, puxa uma das banquetas em direção ao balcão, que transborda de verduras frescas e recém-cortadas em uma tábua de madeira polida. Os joelhos minúsculos do menino se apoiam com prontidão no banco, enquanto uma das alças de seus suspensórios quase se prende ao puxador da gaveta, uma imagem adorável que reflete a inexperiência infantil. Finalmente, Alastor tem a oportunidade de apreciar a variedade vibrante de alimentos coloridos, todos prontos para se transformarem em um banquete delicioso.

─ Não fique tão perto do fogo, querido. ─ as mãos esbeltas e habilidosas de sua mãe trabalham com precisão, manuseando uma faca para fatiar pimentões brilhantes antes de lançá-los de forma graciosa no recipiente borbulhante. ─ Você ainda é muito novinho para se queimar.

─ Quero cozinhar também! ─ ele exibe um sorriso, com a falta de um dente de leite em sua boca, um pequeno detalhe que torna seu rosto ainda mais adorável, o seu primeiro molar de cima havia caído há poucos dias.

─ Meu bem, você ainda terá muito tempo. ─ com uma risadinha suave, a mãe seca as mãos úmidas no avental, um gesto que reflete carinho e paciência.

Alice Hartfelt era como um sonho tornado realidade, seus cachos volumosos presos em um coque despretensioso, lábios cheios que pareciam sempre sorrir, bochechas rosadas que irrompiam com um calor radiante e um carisma que instaura inveja em qualquer outra mulher que estivesse por perto. Claro, ela também era uma mãe excepcional. Suas vestes, sempre em tons quentes, brilhavam como uma fogueira dançante entre o laranja e o amarelo, refletindo a alegria que transbordava de sua essência. Os olhos, com uma íris cor-de-mel herdada pelo filho, eram hipnotizantes, capazes de prender a atenção de qualquer um que cruzasse seu olhar.

─ Cozinhar é diferente de tudo o que você vai aprender. ─ ela pega a garrafa de azeite, dando um pequeno toque suave com a ponta do indicador no nariz do filho, um gesto carinhoso que combina com sua fala. ─ É preciso observar atentamente, aprender e, então, colocar tudo em prática. ─ o líquido dourado é derramado cuidadosamente entre a carne macia e a variedade de vegetais que borbulham no recipiente. ─ As pessoas raramente acertam na primeira tentativa. É preciso continuar tentando e, se errar, não desista, até aperfeiçoar sua técnica.

─ E você não precisa disso, mamãe. ─ ele balança a cabeça veementemente, ajustando os óculos na ponta do nariz, um gesto que demonstra determinação. ─ Sua comida é a mais gostosa do mundo!

─ Obrigada, meu pequeno cavalheiro, ─ Alice se inclina um pouco, se encantando com a risada contagiante que ecoa da inocência infantil que a envolve. ─ mas sua mãe já queimou muitos almoços e jantares antes de se tornar uma chef de mão cheia.

A progenitora aponta a pimenta vibrante, e Alastor, ágil, estende a mão para pegá-la, entregando-a rapidamente para que Alice a polvilhe sobre a refeição. O cheiro picante é intenso, provocando um espirro involuntário do pequeno, que se vira na direção oposta. É uma mágica ver como todos os ingredientes se entrelaçam, criando um aroma sedutor que faz com que a barriga de Alastor ressoe em resposta.

BAD THINGS · radioappleWhere stories live. Discover now