Fraqueza

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A semana estava lotada de missões, uma atrás da outra, o que me impedia de evitar Suguru como eu gostaria. Nos tratávamos de forma educada, mas sempre com palavras curtas e respostas secas. A tensão ainda pairava no ar entre nós, mesmo que nenhum dos dois mencionasse nada. Não havia tempo para resolver nossos problemas pessoais, não enquanto estávamos em campo.

Estávamos em uma missão importante, algo que exigia nossa atenção máxima. O objetivo era eliminar uma maldição de nível especial que estava causando o caos em uma cidade pequena. Ela se escondia nas sombras, manipulando as pessoas e criando ilusões mortais. A missão em si era desafiadora; o terreno era traiçoeiro e as aparições ilusórias dificultavam a navegação.

Cada esquina, cada sombra parecia um potencial ataque. Eu estava focada, mas, para variar, acabei cometendo um deslize. No meio de uma investida rápida, uma das maldições secundárias me pegou de surpresa. A criatura lançou um golpe rápido e profundo contra a minha perna direita.

O corte foi direto e afiado, atravessando o tecido do meu uniforme com facilidade. Senti a dor imediatamente, mas continuei lutando, como se nada tivesse acontecido. Meu uniforme estava encharcado de sangue, mas eu me recusava a demonstrar a dor. Fingi que o ferimento não existia, que eu poderia continuar sem problemas.

O olhar de Satoru foi o primeiro a demonstrar preocupação. Eu podia sentir também os olhares de Suguru e Shoko, mas ninguém disse nada. O silêncio entre nós era pesado, e eu preferia assim. Não havia espaço para fraquezas durante a missão.Quando finalmente tudo terminou, a maldição foi derrotada e a tensão no ar se dissipou. Satoru foi o primeiro a se aproximar de mim, olhando-me com aquela mistura de diversão e preocupação que só ele conseguia exibir.

— Você tá bem, S/N? — ele perguntou, mas eu mal tive tempo de responder.

O peso do meu corpo de repente pareceu multiplicar. As pernas tremeram, e todo o meu esforço para parecer forte desmoronou em questão de segundos. Senti minha visão escurecer, e antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, desabei no chão.

A última coisa que me lembro antes de desmaiar foi o rosto preocupado de Satoru acima de mim, seguido pelo som abafado da voz de Suguru chamando meu nome.

E então, tudo ficou preto.

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Minhas pálpebras pesaram por um segundo antes de eu finalmente abrir os olhos por completo. A luz branca da sala de recuperação me cegou por um momento, e tudo ao meu redor parecia confuso e distante. Pisquei algumas vezes, ajustando minha visão àquele ambiente familiar.

A primeira coisa que vi foi Satoru, sentado ao lado da minha cama com os braços cruzados, seu sorriso típico no rosto, mas com uma preocupação mal disfarçada nos olhos.

— Finalmente resolveu acordar, dorminhoca? — ele brincou, mas havia uma tensão em sua voz. — Não sabe brincar, hein?

Eu tentei me mexer, mas a dor na perna me lembrou do que tinha acontecido. Soltei um suspiro pesado e, apesar de tudo, senti o rosto esquentar de vergonha. Eu realmente havia desmaiado na frente de todos.

— O que... aconteceu? — minha voz saiu fraca, quase como um sussurro.

— Você desmaiou, é o que aconteceu — Shoko respondeu, se aproximando com seu olhar clínico de sempre. — O corte na sua perna foi profundo, S/N. Você deveria ter parado, mas decidiu ignorar a dor até que seu corpo não aguentou mais.

Eu me sentei com dificuldade, lutando contra a vontade de me afundar na cama e desaparecer.

— Não precisava ser assim... — Suguru murmurou do canto da sala, sua voz surpreendentemente suave.

Entre Olhares e Mistérios - Suguru GetoOnde histórias criam vida. Descubra agora