Permaneça um pouco mais na escuridão, na espiral aparentemente interminável da melancolia. Essa zona de conforto, obscurecida pela dor e pelo desespero, não será sua salvação. Você cavou a terra com as próprias unhas, em busca de um resquício de luz que possa escapar deste caixão emocional que você mesmo construiu, e, ao final, encontrará apenas o vasto vazio de um terreno olvidado.
Perdeu ela e, em breve, perderá eles, assim como ocorreu antes. Pois você, Alastor, tem um dom peculiar para atrair a desgraça. Você sabe que, pela segunda vez, lhe arrancarão tudo. Sua incapacidade de aprender é tão lamentável quanto deprimente; você permanece estagnado, exatamente no mesmo lugar de anos atrás. Continua permitindo que as pessoas invadam sua vida, mesmo ciente de que cada uma delas compartilhará um destino cruel e irreversível, tão sombrio quanto o seu.
Talvez, você anseie por matá-lo, porque possui a consciência de que em algum momento alguém tomará essa decisão por você. Dói menos se ele morrer pelas suas mãos, não é mesmo? Contudo, você ainda se culpará, de uma forma ou de outra, da maneira mais patética possível.
Quem sabe, todos eles não acabem como todo o sangue que escorreu pelas suas mãos, começando por aquele que lhe deu a vida. O fruto não cai longe da árvore. Suas ações refletem tanto o medo de se tornar, nem que seja um pouco, o monstro que habitava sob sua cama, na verdade, sob o teto que um dia chamou de lar.
Essa é sua maldição, Alastor: você não tem permissão para amar, nem para ser amado. Sua vida apodrece ao redor, enquanto você assiste, paralisado, ao desmoronar de tudo que poderia ser.
─ Alastor? ─ toco seu peito com delicadeza, mas ele desperta em um estado eufórico, afastando-se de mim com um movimento brusco.
Apesar de estar sem camisa, seu corpo brilha intensamente sob o suor, e os cabelos colam-se em sua testa, formando mechas desordenadas. Seu olhar é um reflexo de confusão enquanto ele busca algo ao redor, piscando várias vezes, como se lutasse para emergir de um pesadelo perturbador. Alastor se recosta contra o encosto da cama, suas mãos percorrem seu rosto em um gesto que parece ser uma tentativa íntima de se despertar por completo. Em seguida, ele se estica com graça para alcançar os óculos na cômoda, e uma expressão de clareza começa a tomar forma em seu semblante.
─ Quando eu dormi?
É impressionante como o olhar do professor se transforma em questão de momentos; o desespero que anteriormente dominava seu rosto agora se dissolveu, deixando apenas um vislumbre que desaparece rapidamente. Eu o observo, repleto de preocupação, e nossas pupilas se encontram, mas seus olhos rapidamente se desviam dos meus.
Rosie já partiu, e nós desfrutamos do café que foi preparado. Assim que ele subiu para o quarto, caiu em um sono profundo, e eu aproveitei esse tempo para me refrescar com um banho reparador e concluir o trabalho ligado às credenciais de Lute, buscando avidamente todas as informações que pude encontrar sobre Sera.
─ Você parecia exausto; adormeceu cinco minutos após se deitar. ─ deixo o notebook de lado, pois já encontrei o que procurava, de qualquer forma.
─ Não percebi... ─ ele nega, lançando o cabelo para trás de maneira despreocupada, mas eu sinto que ele esconde mais do que admite.
─ Claro que não percebeu. Há quanto tempo você não tem uma noite de sono decente? ─ pergunto, com uma leve ironia na minha voz.
─ Desde a última vez que você esteve aqui. ─ sua resposta é rápida, mas evito olhar para seu rosto.
─ É, não tem nada que sexo comigo não resolva. ─ sorrio. ─ Dormiu como um anjinho naquele dia. ─ seu sorriso aflora novamente no rosto, negando suavemente com a cabeça.
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BAD THINGS · radioapple
FanfictionCansado do caos infernal e das obrigações como monarca, Lucifer Morningstar sobe à terra em busca de uma vida pacata. Longe da ex-esposa, ele conhece Alastor Hartfelt, um homem pelo qual o rei se apaixona a primeira vista. O problema? Lucifer não sa...