O Destruidor de Sombras e Chifres!

13 3 1
                                    

Ao longe, uma sombra se destaca contra a penumbra. A única coisa que consigo discernir são seus longos chifres que se projetam como torres ameaçadoras. O rosto da criatura permanece oculto, mas sua presença é inegavelmente alta e imponente.

Caia.

A ordem ressoa em meu interior como um eco gélido, sombria e arrastada. Num instante, sinto meu corpo sucumbir ao chão, a queda parecendo infinita. Antes que eu consiga vislumbrar seu rosto, acordo abruptamente.

Estou suando, pálido e com o coração acelerado.

Outra vez? — penso, angustiado.

Fico alguns minutos deitado na cama, refletindo sobre o pesadelo que me atormenta há anos. Levanto-me, coloco minhas pantufas azuis e felpudas e desço as escadas, tentando afastar as imagens perturbadoras da mente.

Ao descer, o aroma doce de panquecas de banana invade meu olfato, despertando minha memória afetiva. Minha mãe está na cozinha, em pé à beira do fogão, a energia vibrante que a caracteriza refletida em seu sorriso.

Bom dia, querido!

Bom dia, mãe.

Sonhou com aquilo de novo? — pergunta, sua habilidade em decifrar meus sentimentos nunca deixando de me surpreender.

Admiro minha mãe. Ela sempre sabe o que eu preciso. A força que ela demonstrou após a morte de meu pai, é algo que me inspira. Com seus cabelos castanhos claros caindo até os ombros e olhos azuis que brilham de gentileza, ela é a personificação do amor e da resiliência.

Quase consegui ver o rosto dele. É como se ele estivesse bem aqui. Aquilo é real, eu sei. — minha voz falha, e o desespero emerge.

Conseguiu identificar o lugar? — ela pergunta, atenta.

Havia água... muita água, e era frio. — respondo, um arrepio percorrendo minha espinha ao descrever o cenário do meu pesadelo.

Ela franze a testa, ponderando minhas palavras.

 — Seu pai costumava dizer que os sonhos às vezes guardam segredos que precisamos desvendar.

A menção do meu pai provoca um nó na garganta. Lembro-me das histórias que ele contava sobre coragem e aventura, e como sempre dizia que devemos enfrentar nossos medos de frente.

Você se lembra daquela vez em que fomos ao lago? — pergunto, tentando distrair-me com a memória. — Ele disse que eu deveria sempre ser valente, mesmo quando estivesse assustado.

Claro, querido. — Ela sorri nostalgicamente. — Você estava tão determinado a pescar um peixe! E, no final, pegou aquele minúsculo, mas estava tão feliz quanto se tivesse pescado um tubarão.

Sim, e você teve que me ajudar a soltá-lo de volta! — dou uma risada nervosa, tentando aliviar a tensão.

Ela me observa com um olhar carinhoso, como se estivesse se perguntando o que mais eu não compartilho. O silêncio se instala por um momento, pesado, mas reconfortante.

Talvez seja bom você sair um pouco hoje. Vá treinar com o Michael. Isso sempre ajuda a clarear a mente. — sugere, enquanto coloca um prato cheio de panquecas na mesa.

Você está certa. — concordo, pegando uma garfada. — Treinar sempre me faz sentir melhor.

Depois de engolir as panquecas rapidamente, acompanhadas de um copo de suco de laranja, subo as escadas novamente. Visto uma blusa verde musgo, uma calça jeans e um par de tênis, pego minha espada — um presente do meu pai — e saio.

A Cidade De CristalWhere stories live. Discover now