~CAPÍTULO 1~

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EU sempre achei que minha vida era bastante comum. Acordar cedo, ajudar minha mãe no café, estudar e, nas horas vagas, sonhar com um futuro brilhante. Springfield era uma cidade pequena, onde todos se conhecem, e a rotina era um alívio confortável. Mas tudo mudou em um dia cinzento e chuvoso, quando o peso da realidade caiu sobre mim como uma tempestade.

Era uma manhã como qualquer outra. Eu me levantei às 6 da manhã, ainda com os olhos sonolentos, enquanto o cheiro do café fresco invadia meu quarto. Minha mãe estava na cozinha, seu jeito costumeiro de começar o dia com energia, preparando o que chamávamos de "o melhor café da cidade". Enquanto me espreguiçava, não imaginava que a vida estava prestes a me lançar um desafio que eu nunca poderia prever.

Desci as escadas e a encontrei. Ela estava de pé, com um avental manchado de farinha, misturando uma nova receita de muffins de mirtilo. O sol da manhã filtrava-se pela janela, e a luz parecia dançar sobre seu rosto. Eu adorava aqueles momentos simples, as pequenas alegrias que faziam a vida parecer mágica.

— Bom dia, querida! — ela exclamou, sorrindo. — Pronta para o melhor dia de trabalho?

Eu sorri de volta, mas algo parecia diferente. Havia uma sombra de cansaço em seus olhos que não costumava estar lá. O pensamento passou rapidamente pela minha mente, mas eu o ignorei. O dia estava apenas começando, e eu não queria deixar que pequenos detalhes atrapalhassem nosso humor.

Enquanto preparávamos tudo para o café, não pude deixar de notar que minha mãe parecia mais cansada do que o habitual. Seu rosto estava pálido, e ela frequentemente se apoiava na bancada, como se precisasse de um momento para recuperar o fôlego. A cada movimento, eu sentia um nó se formando no meu estômago, mas não consegui colocar em palavras o que me incomodava.

Quando finalmente abrimos o café, o fluxo de clientes foi constante. Conhecíamos a maioria deles, e as conversas fluíam naturalmente, preenchendo o ar com risos e boas histórias. Porém, mesmo entre a agitação, percebi que minha mãe não estava no seu melhor. Ela tinha dificuldade em se concentrar e, por várias vezes, precisou se sentar para descansar. Eu tentava ser o mais positiva possível, mas a preocupação começou a se instalar em meu coração.

A tarde chegou, e o movimento diminuiu. Enquanto limpava as mesas e arrumava as cadeiras, senti que precisava falar com minha mãe. Algo estava errado, e eu não poderia ignorar isso por mais tempo.

— Mãe, você está bem? — perguntei, enquanto ela secava a mesa. O olhar dela se desviou rapidamente, e eu a vi hesitar antes de responder.

— Ah, querida, só estou um pouco cansada. Você sabe como é, a idade chega para todos nós. — Ela sorriu, mas o sorriso não chegava aos olhos. Aquela era uma desculpa que eu não estava disposta a aceitar.

— Mãe, você não está só cansada. — A firmeza na minha voz me surpreendeu. — Você tem estado diferente, e eu estou preocupada. Se você não se sentir bem, podemos fechar mais cedo hoje.

Ela soltou um suspiro, um som que parecia pesado, como se carregasse o peso do mundo. Olhando nos meus olhos, percebi que ela estava lutando contra algo.

— Emma, é só uma fase. Eu prometo que estarei melhor em breve. — Ela acariciou meu rosto, mas a ternura do gesto não conseguiu dissipar minha ansiedade.

Aquela noite, quando chegamos em casa, eu não consegui relaxar. O silêncio no ar era pesado, e a luz suave da lâmpada na sala parecia quase irreal. Minha mãe estava na cozinha, preparando um jantar simples, mas o som dos utensílios batendo parecia mais alto do que o normal. A preocupação me consumia, e cada vez que eu a olhava, via o cansaço refletido em seu rosto.

— Mãe, você não precisa cozinhar. Eu posso fazer isso hoje. — ofereci, tentando forçar um sorriso.

Ela balançou a cabeça e continuou a preparar o jantar. "Preciso fazer isso", ela disse, mas sua voz estava fraca. A sensação de impotência começou a me incomodar. Aquelas palavras ecoaram em minha mente, e eu decidi que precisava agir.

Após o jantar, quando ela se sentou na sala para descansar, tomei coragem e fui até ela. O coração batia forte no meu peito, como se estivesse prestes a saltar.

— Mãe, eu estou realmente preocupada. Você precisa ir ao médico. Não podemos ignorar isso. — A sinceridade nas minhas palavras parecia ter o peso de um tijolo.

Ela me olhou, e por um momento, pude ver a luta em seus olhos. Finalmente, ela suspirou e concordou.

— Tudo bem, querida. Vamos ao médico. — A resposta dela foi um alívio e uma preocupação ao mesmo tempo. O que poderia estar errado?

Na manhã seguinte, eu a levei ao médico, um homem de meia-idade que tinha uma expressão calorosa e calma. O consultório estava cheio de fotos de famílias sorridentes nas paredes, mas aquele ambiente acolhedor não conseguia acalmar meu nervosismo.

Quando chamaram minha mãe para a consulta, eu a segui, mas ela olhou para mim com um sorriso frágil.

— Você pode esperar aqui, Emma. — Ela disse, mas eu sabia que não conseguiria apenas esperar. A ansiedade me consumia.

Ela entrou no consultório e a porta se fechou. O tempo parecia passar lentamente. Eu me debatia em pensamentos, imaginando mil possibilidades. Depois de uma longa espera, finalmente vi a porta se abrir. Minha mãe saiu, com o médico atrás dela, e meu coração disparou.

— Emma, você pode se juntar a nós, por favor? — o médico disse, e meu estômago se revirou.

Dentro da sala, as palavras do médico soaram como um golpe devastador. "Infelizmente, encontramos algo preocupante em seus exames. Precisamos discutir os próximos passos." O que era aquilo? As palavras pareciam se arrastar, e eu não conseguia entender completamente o que estava acontecendo.

Eu olhei para minha mãe, que tinha o rosto pálido, e então, para o médico. "O que isso significa?" eu perguntei, minha voz mal saindo. Ele tentou ser gentil, mas a seriedade nas suas feições não me deixava dúvidas.

— Sua mãe está com uma doença autoimune, e precisará de tratamento urgente. É um diagnóstico sério, mas podemos trabalhar nisso. — O médico explicou, mas as palavras se tornaram um borrão. "Tratamento"? Eu não queria ouvir isso.

Senti um peso no peito, como se todo o ar tivesse sido retirado de mim. Eu olhei para a minha mãe, seus olhos estavam cheios de medo e tristeza. Tudo que eu queria era protegê-la, mas naquele momento, eu não sabia como.

COMPRADA POR UM CEOOnde histórias criam vida. Descubra agora