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Cʜᴀʀʟᴏᴛᴛᴇ Aᴜsᴛɪɴ

Eu estava em pânico. Batia na porta com todas as minhas forças, as mãos doloridas, a respiração entrecortada. O desespero crescia dentro de mim a cada segundo. Era como se o ar estivesse ficando mais pesado, e a sensação de estar trancada num lugar estranho tornava tudo ainda pior.

Estava com essa sensação desde que acordei nesse cômodo desconhecido por mim. Lembro-me de coisas vagas, mas não de como vim parar aqui.

— Me tirem daqui! Por favor! — Gritei, a voz falhando enquanto lágrimas começavam a escorrer pelo meu rosto.

Ninguém respondia. Era como se eu estivesse completamente sozinha, perdida em um espaço vazio. O eco dos meus gritos parecia se perder no silêncio do lugar, e o som das batidas da minha mão contra a porta soava cada vez mais fraco.

Me sentia desesperada, impotente, como se estivesse sendo esquecida. A dor no peito só crescia, o nó na garganta ficando mais apertado.

Talvez fosse trauma de abandono.

— Por favor... me ajudem... — solucei, encostando a testa contra a madeira da porta, o frio do material contrastando com o calor da minha pele.

Foi então que ouvi passos. O som reverberava pelo corredor. Meu coração disparou, a mistura de esperança e medo se chocando dentro de mim.

A porta rangeu levemente e, do outro lado, ouvi uma batida suave. Parei imediatamente de bater e fiquei em silêncio, escutando com atenção. Então, uma voz cortou o ar como uma lâmina, baixa e firme.

— Charlotte — uma voz feminina me chamou.

O tom era calmo, quase casual, mas havia algo sombrio ali que me fez estremecer. Não era uma voz de conforto. Não era uma voz que trazia esperança.

— Me tire daqui! — eu implorei, tentando controlar os soluços. — Por favor, eu não fiz nada errado! Só quero ir para casa!

A resposta dela foi fria e direta.

— Pare com isso. Gritar não vai mudar nada. Você está onde deve estar. Aceite isso.

O nó na minha garganta ficou ainda mais apertado. Eu queria responder, mas as palavras não saíam. As lágrimas continuavam a descer pelo meu rosto, e o som dos meus soluços enchiam o ar. Sentia-me como uma criança perdida, clamando por ajuda que não viria.

— Por favor... — sussurrei, quase sem força, mal acreditando que estava pedindo clemência.

Do outro lado da porta, ouvi a mulher suspirar, como se estivesse irritada, cansada da minha súplica.

— Durma — ela disse, a voz agora mais dura. — Amanhã vamos decidir seu destino. Agora, cale a boca e me deixe dormir.

O som da chave girando na fechadura ecoou, e meu coração afundou ainda mais. Ela estava reforçando o bloqueio, me mantendo trancada como uma prisioneira sem esperanças. Era a confirmação final de que não havia saída para mim.

Eu me afastei da porta, as pernas tremendo. Sem forças, deixei meu corpo cair de joelhos no chão, as mãos ainda encostadas na porta como se de alguma forma isso fosse me conectar ao mundo exterior.

Meus soluços continuaram por um tempo, mas eventualmente diminuíram. Fiquei ali, sentada no chão, o peito subindo e descendo de forma irregular. O silêncio da casa parecia maior agora, ainda mais pesado e opressor.

Não tinha mais forças para bater na porta.

Fiquei ali, sentada no chão, sentindo o frio dele contra minhas pernas. A adrenalina estava começando a se dissipar, deixando um vazio opressivo no lugar.

Meus soluços aos poucos se transformaram em uma respiração ofegante e trêmula. A realidade do que estava acontecendo parecia me atingir de maneira mais clara agora.

Minhas mãos tremiam, e eu as apertei em punhos, tentando controlar o medo crescente. Não sabia o que ela queria dizer com "decidir seu destino" no dia seguinte, e isso me deixava ainda mais desesperada. Eles poderiam fazer qualquer coisa comigo, e eu não teria como me defender.

Eu não sabia nem como matar uma barata, quem diria enfrentar não sei quantos deles.

Eu me levantei com dificuldade, as pernas bambas, e voltei até a cama. Cada passo parecia pesar toneladas, como se meu corpo estivesse drenado de toda a energia. Me sentei novamente, os olhos vagando pelo quarto sem foco, tentando encontrar algo para me ancorar, para me dar um fio de esperança, mas não havia nada ali.

O som dos passos dela havia desaparecido pelo corredor, e agora a casa estava em completo silêncio novamente. Fechei os olhos por um momento, tentando controlar minha respiração. Precisava pensar, precisava encontrar uma maneira de lidar com isso, mas a sensação de impotência era esmagadora.

Naquela cama estranha, meus pensamentos corriam em círculos. Será que alguém estaria me procurando agora? Meu pai, meus amigos, senhora Morley... Alguém deveria ter percebido que eu estava desaparecida, claro. Mas quanto tempo levaria para me encontrarem? E se eles nunca descobrissem onde eu estava?

Lágrimas silenciosas escorriam pelo meu rosto, mas eu não tinha mais forças para chorar de verdade. Era como se o medo e o desespero estivessem me consumindo de dentro para fora. Não sabia o que fazer, e a incerteza era um veneno lento.

Então, quase sem perceber, me deitei na cama, abraçando meus joelhos, tentando encontrar algum conforto. O cobertor estava ali, e eu me enrolei nele, buscando qualquer vestígio de calor. Meu corpo estava exausto, mas minha mente continuava ativa, presa em um ciclo interminável de medo.

O tempo parecia não passar. A cada segundo, o peso da incerteza se tornava mais sufocante. Eu ouvia o som do meu próprio coração batendo, rápido e irregular, enquanto o silêncio ao meu redor parecia me engolir. Mesmo com a luz ligada, me sentia completamente sozinha e vulnerável, como se estivesse à beira de um precipício sem saber o que havia do outro lado.

Tentei pensar em algo positivo, em qualquer coisa que me desse forças para enfrentar aquilo, mas era difícil. Tudo parecia sem sentido, como se eu tivesse sido arrancada do mundo que conhecia e jogada em uma realidade distorcida.

Depois de um tempo, o cansaço finalmente começou a tomar conta. Meu corpo, exausto pelo estresse e pela tensão, cedeu. Mesmo sem querer, meus olhos começaram a se fechar, a exaustão forçando meu corpo a descansar, mesmo que minha mente não quisesse.

De alguma forma, eu acabei adormecendo. Não foi um sono tranquilo; foi cheio de pesadelos e imagens fragmentadas, rostos e vozes misturadas em um turbilhão confuso.

Sonhei que estava fugindo, correndo por um lugar desconhecido, com alguém sempre atrás de mim, mas nunca conseguia escapar. Acordei várias vezes, ofegante, mas o cansaço sempre me arrastava de volta ao sono.

Quando finalmente a luz do novo dia começou a invadir o quarto pelas frestas da porta, eu já estava acordada, sentada na cama, olhando para o vazio. O sono não tinha trazido descanso, apenas mais confusão e cansaço.

Agora era o dia seguinte. O dia em que, segundo a mulher, meu destino seria decidido. E eu não tinha ideia do que estava por vir.

Kɪᴅɴᴀᴘᴘᴇᴅ • EɴɢʟᴏᴛOnde histórias criam vida. Descubra agora